Quem morará em vossa casa?

Estamos celebrando o XXII domingo do tempo comum e o último domingo do mês de agosto. No Brasil a proposta do mês de agosto é voltada em torno das vocações. A Palavra de Deus deste XXII Domingo chama atenção para o modo como o cristão deve viver sua prática religiosa: com sinceridade diante de Deus, humildade e amor para com os outros e não de forma legalista, fria e auto-suficiente. Com efeito, Jesus critica duramente os escribas e fariseus, que vieram de Jerusalém para observá-lo e questioná-lo. Somos convidados para a “Celebração da Eucaristia” e não meros cumpridores de um dever religioso. Deus, que nos convida, quer nossa participação no Mistério de Jesus Cristo, Pão vivo, descido dos céus para ser nosso remédio e alimento de vida eterna.

Na primeira leitura – Dt 4,1-2.6-8 – os Mandamentos de Deus não são um capricho divino para provar a fidelidade humana, mas um caminho insubstituível para o Reino de Deus e para a vida eterna. O zelo dos fariseus e dos escribas eram tais e com uma mentalidade de tanto apego à letra pela letra, que se tornaram extremamente legalistas. Eles diziam: “Façamos uma cerca em torno da Lei”, ou seja, criaram pouco a pouco um número enorme de preceitos para evitar qualquer desobediência, ao menos remota, à lei. Preceitos humanos que foram obscurecendo a pureza da lei de Deus e sua característica de ser sinal de amor.

A segunda leitura – Tg 1,17-18.21-22b.27 – ensina que não é suficiente rezar, é preciso agir, pois a fé e a oração sem as obras é morta. A Religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: Assistir os órfãos, e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo! São Tiago combate a falsa religião: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vos mesmos!” Numa outra passagem, o Apóstolo Tiago afirma que a Fé sem as obras e morta (Tg 2,17). A Fé não é um produto de beleza, mas uma energia divina, necessária para praticar boas obras. Quem crê em Jesus deve viver como Jesus!

Jesus censura também os escribas e fariseus pela incapacidade de distinguir entre o essencial e o secundário; em discernir o que vem Deus e o que é meramente prática e tradição humanas, talvez boas e louváveis, mas não essenciais. Em matéria de religião, nem tudo tem igual valor, nem tudo tem a mesma importância. A medida de tudo é o amor: o amor é a plenitude da lei (Rm 13,10); só o amor dá sentido a todas as coisas! 

No Evangelho – Mc 7,1-8. 14-15. 21-23 – Jesus não veio ao mundo para ensinar boas maneiras ao povo; mas veio para procurar adoradores em espírito e verdade (Jo 4,23).  A Religião de Jesus bate direto no coração do ser humano. Jesus chama os fariseus de “hipócritas”. É um conceito próprio de teatro em que o artista representa um personagem diferente de si mesmo.

Ele representa um personagem diferente de si mesmo, realmente diferente. Os fariseus gostavam de aparecer bons! Eram como sepulcros caiados: que é mais importante – ter as mãos limpas enquanto o coração era iníquo! O profeta afirmava: Este povo honra-me com seus lábios, mas seu coração está bem longe. Jesus não gosta de aparências enganosas! Jesus favorece sempre o lado humano.

 Os Mandamentos, prescritos por Deus, são simples e claros; não vamos torná-los difíceis mediante acréscimos que pouco ou nada têm a ver com os Mandamentos do Senhor!      Jesus convida a ir ao essencial: vigiar as intenções e atitudes do nosso coração, pois o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (Evangelho). Com um coração puro, poderemos reconhecer que tudo de bom que temos é dom de Deus(“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes!” – 2a. leitura) e que, diante dele, somos sempre pobres e pecadores, necessitados de sua misericórdia. Isto nos abre de verdade para o amor aos outros e para a compaixão: somos todos pobres diante de Deus.

O salmista responde à pergunta do título: é aquele que pratica a justiça, que em nada prejudica seu irmão, não se deixa subornar – é aquele que caminha sem pecado. (Sl 14/15)

Que Deus abençoe todas as catequistas e todos os catequistas! Que continuem sendo transmissores da fé católica. Vivam o seu ministério com sinceridade e a santidade de anunciar o Reino de Justiça e de Paz!

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ