No domingo dentro da oitava de Natal celebra-se a festa da Sagrada Família Jesus, Maria e José (quando não tem domingo, celebra-se no dia 30). Deus quis manifestar-se aos homens integrados numa família humana. Ele quis nascer numa família, quis transformar a família num presépio vivo. Pode-se dizer que nesta ocasião celebramos o Dia da Família. A Liturgia nos recorda a importância da Família no Plano de Deus: as forças do mal procuram destruí-la, mas Deus fez da família uma cópia de seu próprio mistério. Deus é Família e a família humana é imagem de Deus Trindade. Rezemos pela Família!
A primeira leitura – Eclo. 3, 3 – 7. 14 – 17 – lembra aos filhos o dever de honrarem pai e mãe, de socorrê-los e compadecer-se deles na velhice, ter piedade, isto é, respeito e dedicação para com eles; isto é cumprimento da vontade de Deus.
Na segunda leitura – Cl 3, 12 – 21 – São Paulo elenca as virtudes que devem reinar na família: sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportar-se uns aos outros com amor, perdoar-se mutuamente. Revestir-se de caridade e ser agradecidos. Se a família não estiver alicerçada no amor cristão, será muito difícil a sua perseverança em harmonia e unidade de corações. Quando esse amor existe, tudo se supera, tudo se aceita; mas, se falta esse amor mútuo, tudo se faz sumamente pesado. E o único amor que perdura, não obstante os possíveis contrastes no seio da família, é aquele que tem o seu fundamento no amor de Deus.
O Evangelho – Lc 2, 41-52 – apresenta a viagem de Jesus e a sua família para uma peregrinação no templo santo em Jerusalém. Feito as devidas obrigações. Maria e José e a caravana se colocaram em caminho de volta para Nazaré. Depois de um dia inteiro de Maria e José caminharem, perceberam que Jesus havia ficado em Jerusalém. Então eles retornaram para Jerusalém e encontraram Jesus no templo. Esta pericope nos mostra como Maria e José compreendem a missão de Jesus.
A Sagrada Família é proposta pela Igreja como modelo de todas as famílias cristãs: na casinha de Nazaré, Deus ocupa sempre o primeiro lugar e tudo Lhe está subordinado. Os lares cristãos, se imitarem o da Sagrada Família de Nazaré, serão lares luminosos e alegres, porque cada membro da família se esforçará em primeiro lugar por aprimorar o seu relacionamento pessoal com o Senhor e, com espírito de sacrifício, procurará ao mesmo tempo chegar a uma convivência cada dia mais amável com todos os da casa.
A vida em Nazaré era laboriosa. Casa pobre, cuja manutenção exigia a colaboração de todos. José em sua pequena oficina de artesão, mãos calejadas no manejo dos instrumentos, ainda muito primitivos, de sua arte. Maria, com os arranjos de dona de casa modesta. Diariamente descia à fonte – a mesma que hoje é conhecida como fonte da Virgem – e entre as mulheres do povo, como uma delas, enchia cântaros para abastecer a casa. Maria, distribuía seu tempo entre o fuso e a cozinha, sem esquecer as orações e o estudo da lei e dos Profetas. Jesus, primeiro em casa, à Mãe, depois na oficina, à José, aliviava aos pais o peso do trabalho de cada jornada.
Lembremos das Alocuções do Papa São Paulo VI que numa de suas alocuções ele trata do tema: “as lições de Nazaré”: Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Podemos aprender algumas lições de Nazaré: “uma lição de silêncio. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas aspirações e as palavras dos verdadeiros mestres” (Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964). “Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível” (Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964). “Uma lição de trabalho: aqui recordo que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas, que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Como gostaria de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor” (Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964).
Hoje, de modo muito especial, pedimos à Sagrada Família por cada um dos membros da nossa família e pelo mais necessitado dentre eles. Encerramos com a oração à Sagrada Família: “Ó Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como exemplo, concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes, para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa”. Amém (oração da coleta)
Maria e José educaram Jesus, em primeiro lugar, com o seu exemplo. Nos seus pais, Ele conheceu toda a beleza da fé, do amor a Deus e a sua Lei, assim como as exigências da justiça, que encontra o seu pleno cumprimento no amor (cf. Rm 13, 10). Deles aprendeu que antes de tudo é necessário realizar a vontade de Deus, e que o laço espiritual vale mais que o vínculo do sangue. A Sagrada Família de Nazaré é verdadeiramente o “protótipo” de cada família cristã que, unida no Sacramento do matrimônio e alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, é chamada a realizar a maravilhosa vocação e missão de ser célula viva não apenas da sociedade, mas da Igreja, sinal e instrumento de unidade para todo o gênero humano.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ