Descendimento da Cruz

Ele tomou sobre si nossas enfermidades e carregou os nossos sofrimentos.” (Is 53,4)

Descendimento da Cruz
Material para catequese
Material para catequese

Na Sexta-feira Santa, é comum acontecer na Igreja a cerimônia do descendimento da Cruz. Essa cerimônia acontece após a Ação Litúrgica da Paixão do Senhor ou após a Via Sacra. É uma cerimônia tradicional que acontece, principalmente, nas cidades históricas do Brasil e reúne milhares de fiéis. Neste ano, sem a presença do povo, sem procissões, mas apenas pela mídia pode nos ajudar a refletir sobre essas piedosas tradições.

 A cerimônia do descendimento da Cruz costuma acontecer na noite de sexta-feira santa, pois no Sábado Santo a Igreja guarda o silêncio em respeito à morte do Senhor, para a noite celebrar com alegria a Vigília Pascal. Após tirarem o corpo do Senhor da Cruz, José de Arimatéia que havia pedido a Pilatos para tirar o corpo de Jesus da Cruz, entrega a Maria Mãe de Jesus e o colocam no túmulo, um túmulo novo onde ninguém ainda havia sido sepultado.

O corpo chagado e ferido de Jesus por causa dos açoites, dos cravos, da coroa de espinhos e das quedas que sofrera no caminho até o calvário é sepultado. Jesus entregou ao Pai a sua dor e o seu sofrimento e entregou o seu Espírito nas mãos do Pai. Depois, Ele ressuscita com o corpo glorioso, nos dando a certeza da ressurreição e que na vida eterna não existirá dor e sofrimento.  

O corpo de Jesus chagado e ferido representa tantas pessoas que nos dias de hoje estão feridas em sua dignidade. Feridas sem ter acesso a um emprego digno, sem ter alimento em casa, feridos sem saneamento básico, sem acesso a uma saúde digna. Pessoas que são excluídas do convívio social, por causa do preconceito, por serem diferentes do outro. Enfim, pessoas que são excluídas do convívio social por causa dos seus pecados, esses mesmos pecados que Jesus carregou sob o peso da Cruz até a morte.

Muitas pessoas assim como Jesus são condenadas injustamente e muitas vezes pagam crimes que outros cometeram. Ou até mesmo por causa de um erro que cometeram, se tornam culpados por esse erro ou condenados a vida inteira por ele.

Peçamos a Jesus que com a sua ressurreição gloriosa na Páscoa todos aqueles que são considerados excluídos pela sociedade possam voltar ao convívio social e aqueles que estão feridos em sua dignidade, possam resgatar essa dignidade de filhos de Deus e ter acesso a uma saúde, emprego e educação de qualidade.

A cerimônia do descendimento da Cruz não é um mero espetáculo ou ação teatral, e não é de forma alguma, um filme que se repete todo ano. Mas a cada ano temos a oportunidade de ver essa cena (esse ano remotamente) e participando desse momento celebrativo, pedir ao Senhor que algo possa mudar em nós, na nossa vida ou em nossa sociedade. É necessário passar pelo calvário, pelo sofrimento, e até mesmo pela morte, para que algo possa mudar em nós e nos faça sair melhores daquele momento que atravessamos.

O símbolo da Cruz é o esvaziamento, Jesus ao aceitar morrer na Cruz renuncia todos os privilégios que lhe cabiam. A Cruz é esvaziamento de todo o poder.  Jesus, com esse ato de morrer na Cruz, nos ensina que não adianta a nós ostentar cargos, fama, poder e dinheiro, pois ao morrermos não levaremos nada disso. A nossa morte também é um esvaziamento, assim como viemos ao mundo sem ter nada, voltaremos ao Pai sem possuir nada. Só ficarão as coisas boas que fizermos aqui. É isso que levaremos para a vida eterna. Assim como Jesus se esvaziou até a morte e nos deixou como lembrança as coisas boas que fez por aqui.

A Cruz nos ensina a servir o próximo. Jesus abraçou a Cruz como missão de discipulado e serviço e se fez obediente em tudo a Deus até a morte de Cruz. A Cruz é o Evangelho de Jesus porque Ele mesmo seguiu o caminho da Cruz. Por meio da Cruz, Jesus nos ensina o verdadeiro discipulado e que devemos suportar toda a perseguição e sofrimento, por causa de um amor maior. Quando exaltamos a Cruz, não exaltamos um Deus morto ou perdedor, mas pelo contrário, exaltamos a salvação que nos veio por meio dela. A Cruz é a nossa salvação, por meio dela entendemos o amor de Deus por nós.

Durante a sua vida pública, Jesus ensinou nas sinagogas, contou parábolas no meio do povo e realizou curas. A vida pública de Jesus foi uma subida até que culminou no calvário. A Cruz é o lugar que Jesus subiu para nos ensinar. Ele que sempre vivia aquilo que pregava, era um pregador autêntico. Na Cruz, Ele nos diz que é possível a gente viver. Na Cruz, Ele nos diz que é possível a gente praticar tudo o que ele nos ensinou.

Ao tirarem o corpo de Jesus da Cruz, primeiro tiraram a inscrição INRI, que significava Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Mas como Jesus diz a Pilatos: “O meu reino não é desse mundo”, o único reino que lhe pertencia era o reino de Deus. E nos ensina que devemos construir o reino de Deus aqui na terra.

Depois, retiraram delicadamente a coroa de espinhos daquele que era o rei verdadeiro. Em seguida, retiram o cravo do braço direito e abaixam o braço. Os pregos eram usados somente para bandidos perigosos, nem todos eram pregados. Pregaram os braços e os pés do Senhor como se ele fosse um bandido. Nos dias de hoje, muitos pregos torturam tantas pessoas que sofrem por causa do tráfico, drogas etc.

Em seguida, retiram o cravo do braço esquerdo. Jesus foi pregado na Cruz com os braços abertos, como que se Ele abraçasse o mundo inteiro com sua morte. Assim ele acolhe todo pecador quando se aproxima da Cruz para pedir perdão.

Por fim, desprende os pés, pregos estes que eram maiores ainda do que os das mãos, que todos aqueles que são privados de liberdade e proibidos de andar pelas ruas, possam ser libertados.

Agora, desçamos a imagem do corpo do Senhor em silêncio e com cuidado e o coloquemos no esquife. Passemos ao lado do corpo do Senhor que dorme, desce até a mansão dos mortos, resgata os pecadores e ressuscita ao terceiro dia, gloriosamente.

Participemos com fé e emoção desse momento e caminhemos com fé e esperança na ressurreição final. Que a Cruz de Cristo seja a nossa vitória.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist