Neste final de semana estamos celebrando o 17º Domingo do Tempo Comum, e a Palavra de Deus com toda a sua riqueza vai nos mostrar as maravilhas de buscar e colocar o Senhor e o seu Reino.
Estamos chegando ao final do mês de Julho, mês que tantos motivos nos trouxe para renovar nossa vida de fé. É neste contexto que queremos recordar e rezar por todos os nossos avós e por todas as pessoas idosas, já que no dia 26 de julho é comemorado o dia dos avós, por ocasião da celebração da memória dos pais de Nossa Senhora e avós de Jesus: Sant´Ana e São Joaquim. Fazemos ainda memória da estadia do Papa Francisco em nossa Arquidiocese nesta data por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em 2013. Quantas graças e quantos motivos de agradecermos a Deus por mostrar sua presença viva em meio ao seu povo por meio de sinais concretos que nos fazem recordar e vivenciar que o Reino de Deus é uma realidade acessível e próxima a todos nós.
É neste contexto que a Palavra de Deus que nos é dirigida neste domingo vai comparar a realidade do Reino de Deus a um grande tesouro, onde aquele que o encontra não mede esforços para conseguir obtê-lo, tamanha é a sua importância. E Jesus fala desse tema uma vez mais utilizando a linguagem das parábolas, aquelas estórias contadas por Jesus para facilitar a compreensão de sua mensagem. O Evangelho deste Domingo (Mt 13,44-52) vai trazer para nós 3 parábolas do Reino e uma comparação, em continuidade com as parábolas que ouvimos na semana passada.
A primeira delas vai falar de um tesouro escondido num campo e de um homem que encontra um tesouro muito maior do que as expectativas dele. Ao encontrar esse imenso tesouro, esse homem prepara sua vida para que possa obtê-lo: cheio de alegria, ele se desfaz de tudo aquilo que eram considerados seus bens para comprar o campo onde o tesouro está escondido.
Aos olhares externos, parece um certo absurdo fazer o que este homem faz: vender todos os seus bens em função de um único campo. Mas os que olham não percebem que o verdadeiro valor do campo não é um valor de aparências ou de mera exterioridade: está escondido, está dentro.
Assim é o homem que se encontra com o Reino de Deus: Ao perceber que os valores do mundo são mera aparência e vaidade, ele deixa de lado todos eles, sendo muitas vezes motivo de chacota por parte dos que convivem com ele, mas ele abraça a realidade que é o essencial da sua vida, que lhe traz paz interior e que serve de sustento para todas as áreas da sua vida.
Quantos são aqueles que tem sorriso e maquiagem no rosto demonstrando alegria, mas que tem o coração triste e enrugado pela falta de sentido na vida e pela falta do amor verdadeiro, o Amor de Deus.
De maneira semelhante, a segunda parábola compara o Reino de Deus a uma pérola preciosa e ao comprador de pérolas, que já estava procurando por elas, encontra uma que é de grande valor.
O valor desta é tão grande que ele vende todos os seus bens para comprar aquela única pérola, que é mais importante e mais valiosa do que todas as outras que ele já tenha visto e encontrado na vida. Vale notar os detalhes da parábola, pois este comprador entendia de pérolas e estava acostumado com elas.
Quão maravilhado e impressionado com esta perola ele deve ter ficado a ponto de deixar de lado todos os valores adquiridos no passado e se lançar a comprar algo com um valor que reúne todos os outros valores e os supera.
Assim são os homens: estamos constantemente em busca de algo que preencha o desejo de eternidade e a sede de sentido para a vida que trazemos dentro de nós. Nossos corações encontram-se inquietos, enquanto não repousam no Senhor, como nos recordava Santo Agostinho.
A terceira parábola vem num contexto marítimo, tendo como protagonistas os pescadores em suas atividades, lançando as redes ao mar. Ao puxar a rede, ela vem cheia de peixes de todo o tipo.
Ao trazer a rede para a terra, os pescadores separam os peixes bons dos peixes ruins. Assim é a comunidade do Reino de Deus, a comunidade da Vida da Igreja e a comunidade humana: todos têm a oportunidade, cada um a seu modo de ser abraçado e experimentar as maravilhas do Reino, já que Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade e derramou seu sangue por todos, para a remissão dos pecados.
Mas, sendo criado livres, está nas mãos de cada ser humano escolher ou não abraçar este dom. Só que um dia, deveremos prestar conta dele, principalmente das vezes em que tivemos grandes oportunidades de encontro com o Amor de Deus e não deixamos que este transformasse nossas vidas.
Finalmente, Jesus apresenta a última comparação presente no trecho do Evangelho de hoje: Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13, 52).
A vida inteira daquele que se encontra com o Senhor e o aceita torna-se um tesouro, pois Deus faz de nossa vida uma história da Salvação, fazendo com que tenhamos um novo olhar sobre todas as situações, dando um novo significado a todas elas, fazendo-nos sempre tirar o melhor de todas elas.
Como exemplo de alguém que encontrou o verdadeiro tesouro em sua vida e que com isso ganhou todas as coisas e que a primeira leitura, tirada do livro dos Reis (1Rs 3,5.7-12) relata o início do reinado de Salomão e a oração que este faz a Deus para que tenha um bom reinado: Salomão não pede sucesso, nem poder, nem bens nem vitórias: ele pede Sabedoria, enquanto capacidade de ter compreensão e de ter discernimento entre o bem e o mal.
Sabemos pelo relato Bíblico que o início do reinado de Salomão foi marcado pelo sucesso e pela abundância, fruto da atitude daquele que busca em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça. Não nos esqueçamos de que Deus não nos tira nada de bom, mas nos dá tudo o que verdadeiramente necessitamos.
Em resposta a este relato, o salmo 118 vai relatar o amor do salmista pelo Senhor e pelos seus planos.
Na segunda leitura, da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,28-30), vemos o apóstolo proclamar: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus” (Rom 8,28).
A conversão, que é esta atitude de mudança de vida ante a realidade do Reino que se apresenta, reorienta nossa vida e faz nascer uma nova mentalidade marcada pela busca e pelo olhar a partir do bem, fazendo-nos encarar todas as situações, mesmo as mais adversas, como momento propício de encontrar-se com o Senhor e vivenciar sua palavra.
Enfim meus irmãos: os tempos que estamos vivenciando nos levam a considerar o que é o essencial de nossas vidas: tantos compromissos que eram tidos como inadiáveis foram deixados rapidamente de lado; ante a consideração da fragilidade da vida ante este inimigo microscópico (vírus), muitos voltaram a redescobrir o valor da vida interior e se reaproximaram da fé; muitas famílias voltaram ao descobrir o grande valor que é viver em união, já que tiveram que estar 24 horas por dia juntos; quanto valor voltou a ser dado aos idosos, considerados como grupo mais vulnerável ao vírus; quantos experimentaram que viver em suas vidas de luxo e ostentação não adianta nada.
A presença do Senhor em nossas vidas nos faz ver todas as coisas de uma forma nova. E é isso que queremos pedir ao Senhor neste domingo para todos os cristãos e para todos os homens de boa vontade: que não desistamos de buscar aquilo que é o essencial de nossas vidas e que aqueles que o encontraram, que não deixem de se admirar com o Senhor que faz novas todas as coisas.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro