Celebramos neste final de semana o décimo sétimo Domingo do Tempo Comum. A liturgia deste domingo segue a tônica do domingo passado onde estamos falando sobre a realidade do “Reino dos Céus” no “sermão em parábolas”.
A primeira leitura (1Rs 3, 5.7-12) mostra que Salomão tem a intimidade com Deus. Salomão pede ao Senhor: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar” (1Rs 3,7).
Salomão a princípio coloca o empecilho diante da missão que recebe, mas, o Senhor o cativa e diz que estará com ele nesta missão: “Já que pediste estes dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti, nem haverá depois de ti”. (1 Rs 3,11-12).
A segunda leitura (Rm 8, 28-30): “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8, 28). A Carta aos Romanos quer nos mostrar que por meio desta passagem que somos chamados ao amor e a salvação. Deus quer que todos tenham essa intimidade com Ele. Deus predestina todos a salvação, mas, para isso existe a liberdade. O Senhor chama os justos e assim os glorifica.
O Evangelho (Mt 13, 44-52) nos domingos deste tempo do ano são tomados do capítulo 13 de Mateus, quando lemos o sermão de Jesus em parábolas. Este capítulo é paralelo a São Marcos 4. Neste Evangelho, Jesus fala-nos do Reino dos Céus. Saído do barco à beira-mar, chegado em casa, ele nos conta três parábolas, das quais meditaremos duas: o Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo; um homem o encontra e, cheio de alegria, vende tudo e o adquire!
O Reino dos Céus é como uma pérola de grande valor; o homem vende tudo e, fascinado por sua beleza, vende tudo e a adquire! Jesus nos quer fazer compreender que quem encontra o Reino, sai de si! Encontra o sentido da vida, encontra aquilo porque vale a pena viver.
Quem de verdade encontra o Reino, quem o experimenta, muda para sempre sua existência: vai ligeiro, vende tudo, fica cheio de alegria! Encontrar o Reino é encontrar Jesus, e encontrar Jesus de verdade é encontrar a razão de viver, o sentido da existência… é encontrar-se consigo mesmo.
Nas duas parábolas, mesmo sendo parecidas entre si, apresentam diferenças dignas de nota: O tesouro encontrado significa a abundância de dons; a pérola procurada, a beleza do Reino.
O tesouro apresenta-se de repente, a pérola supõe, pelo contrário, uma busca esforçada; mas em ambos os casos o que encontra fica inundado de uma profunda alegria. Assim é a fé, a vocação, a verdadeira sabedoria, o desejo do céu: por vezes, apresenta-se de modo inesperado, outras segue-se a uma intensa busca.
A atitude do homem, em ambas as parábolas, está descrita com os mesmos termos: “vai e vende tudo o quanto tem e compra aquele campo” (cf. Mt 13, 44. Mostra o Evangelho o desprendimento, a generosidade, é condição indispensável para o alcançar.
Precisamos descobrir que o Reino exige um olhar iluminado pela graça de Deus. Sozinhos, com nossas próprias forças, somos incapazes de discernir essa presença do Reino! Por isso é necessário suplicar, como Salomão (primeira leitura), um coração para compreender: “Dá ao teu servo um coração compreensivo – um coração que escute!” No Evangelho de hoje, Jesus termina perguntando: “Compreendeste essas coisas?”– Senhor, pedimos nós, dá-nos um coração capaz de compreender! Sem vosso auxílio ninguém é forte, ninguém é santo! Mostra-nos o tesouro, que é o teu Reino! Faz-nos encontrar a pérola de grande valor, pela qual vale a pena perder tudo e todo nela encontrar! Faz-nos sentir que, pelo Reino, vale a pena deixar redes, barcos, a vida perder; deixar a família e dinheiro não ter!
Contudo, ao olhar para este Evangelho de hoje, vemos diante destas parábolas a realidade do Reino dos Céus, pois, este Reino não é puramente uma Utopia, mas, este Reino de Deus é uma realidade.
Realidade esta que começa a ser vivenciada aqui e continua na parusia. Somos convidados a procurar esta perola, somos chamados a sermos discípulos do Reino dos Céus.
E como viver a realidade do céu? Servindo e amando, buscando a cada dia fazer a vontade de Deus quer seja em nossas famílias, paróquias, trabalho etc. Onde estejamos devemos acolher e levar este Reino de Deus a tantos que ainda não buscam. Vale a pena seguir a Jesus e ser testemunha da sua Palavra e do seu amor. Que Deus nos abençõe e nos faça entregarmos sempre e estarmos sempre N’Ele.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ