“Tudo o que o Pai possui é meu” (Jo 16,15)
A solenidade da Santíssima Trindade ocorre no domingo seguinte ao de Pentecostes e é uma das três solenidades que ocorrem no tempo comum. Celebrar a Santíssima Trindade é celebrar a essência da nossa fé. Quando fomos batizados, recebemos o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É praticamente o centro do ano litúrgico: a revelação do Deus Criador.
Desde antes da criação do mundo, a Santíssima Trindade já existia. Deus Pai não criou o mundo sozinho, mas em comunhão com o Filho e o Espírito Santo. O sopro criador de Deus adveio do Espírito Santo, a palavra que o Pai usou para criar tudo o que existe depois se tornou carne em Jesus Cristo. Há momentos na história da salvação para que cada pessoa da Santíssima Trindade se revele. No Antigo Testamento, quem se revela à humanidade e faz uma aliança com o povo de Israel é o Pai. No Novo Testamento, Ele envia o seu filho e, após a ressurreição de Jesus, antes de voltar para o Pai, Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo e dessa forma é revelado o Espírito Santo. Jesus faz o sopro da nova criação.
Por ser uma solenidade, o ato penitencial pode ser substituído pelo rito de aspersão, recordando o nosso batismo e que somos convidados a morrer para o pecado e ressurgir para uma vida nova. E da mesma forma que fomos batizados em nome da Santíssima Trindade, os nossos pecados também são perdoados em nome da Santíssima Trindade.
De uma maneira bem simples, podemos explicar a Santíssima Trindade dessa forma: Deus Pai que nos criou, Deus Filho que nos redime e o Espírito Santo que nos santifica. A Santíssima Trindade é uma comunhão de amor, o Pai está todo voltado para o Filho, o Filho voltado para o Pai e o Espírito Santo voltado para os dois. A Santíssima Trindade é um Deus em três pessoas. Do mesmo modo que eles vivem essa comunhão de amor, nós também somos chamados a viver, pois fomos criados à sua imagem e semelhança.
A primeira leitura deste domingo é do livro dos Provérbios (Pr 8, 22-31). Esse trecho do livro dos Provérbios fala da sabedoria de Deus que existe antes do tempo, antes da criação do mundo. Deus usou dessa sabedoria para criar o universo. Essa sabedoria é o Espírito Santo. Deus criou tudo por meio da Palavra e depois, no Novo Testamento, essa palavra se faz carne em Jesus Cristo. Tudo o que Deus criou é bom, porque Ele criou usando dessa sabedoria que advém do Espírito Santo.
O salmo responsorial é o (Sl 8) que diz em seu refrão: “Ó Senhor, nosso Deus, como é grande, vosso nome por todo o universo”. Ao observar tudo o que existe no universo, podemos observar a grandeza de Deus. Somente Ele pode ter criado tudo o que existe e criado com tanta perfeição. Rezemos para que a humanidade não destrua aquilo que Deus criou.
A segunda leitura desse domingo é da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 5, 1-5). Paulo diz à comunidade dos romanos que somos justificados pela fé através do Espírito Santo. O Espírito Santo nos faz permanecer firmes na fé e permanecer de pé diante das tribulações. É necessário passar por momentos turbulentos, mas a esperança em Deus de que tudo vai melhorar deve ser maior.
O Evangelho desse domingo é de João (Jo 16, 12-15). Nesse trecho do Evangelho, Jesus fala da terceira pessoa da Santíssima Trindade, ou seja, do Espírito Santo. Jesus diz aos discípulos que o Espírito Santo revelará a eles tudo o que Ele fez enquanto esteve entre nós. Pois os milagres, as curas e as bençãos que Jesus realizava eram todas feitas por meio do Espírito Santo. Tudo o que Jesus realizava era em sintonia com a Santíssima Trindade, e é por meio desse mesmo Espírito que a nossa fé é iluminada.
Devemos pedir sempre a intercessão do Espírito Santo, até mesmo as coisas futuras, o Espírito Santo nos revelará. Em nossa oração e nos momentos de intimidade com Deus, devemos pedir ao Espírito Santo que nos revele qual decisão devemos tomar.
É por meio do Espírito Santo que anunciamos a Palavra de Deus. Na semana passada, ao celebrarmos Pentecostes, Jesus soprou sobre os discípulos o Espírito Santo e os enviou para dar início à Igreja primitiva. Jesus faz o sopro da nova criação, pois Deus Pai já havia dado o primeiro sopro ao criar o universo. Esse novo sopro realizado por Jesus é o sinal da aliança eterna de Deus Pai com a humanidade, por meio da regeneração trazida por meio da morte de Jesus na cruz.
Celebremos com alegria e cheios de fé no coração a festa da Santíssima Trindade neste domingo. Aquela que é a razão da nossa fé e que é a nossa identidade de cristãos. Iniciamos e terminamos nossos momentos de oração em nome da Santíssima Trindade. Mergulhemos nesse mistério profundo que é a Santíssima Trindade e façamos a comunhão com nosso único Deus em três pessoas.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ