A Semana Santa tem seu inicio no Domingo de Ramos da Paixão do Senhor e somos convidados a vivê-la intensamente. A cada dia da Semana Santa tem uma celebração que marcou os últimos passos da vida de Jesus. Temos o cume do ano litúrgico e da Semana Santa – o tríduo pascal, mas também as celebrações da piedade popular e também muitas manifestações culturais nestes dias. A Semana Santa é a semana inteira, desde Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa. Na quinta-feira santa concluiremos o tempo da Quaresma, e à noite iniciaremos o tríduo pascal, a celebração da Páscoa. No Domingo de Ramos concluímos com o gesto concreto o tempo da Campanha da Fraternidade, embora o tema continue.
Só nós católicos temos o privilégio de ter uma Semana Santa, e só tem uma Semana Santa ao longo de todo o ano, por isso, temos que aproveitar e participar bem, integralmente, com muita piedade e contrição. Tenho certeza de que se participarmos bem de toda a Semana Santa, sairemos transformados e chegaremos renovados à Páscoa.
Os dias variam de acordo com as regiões do Brasil, mas, em geral, na segunda-feira da Semana Santa, celebra-se o ofício de trevas ou o Sermão do Depósito. Na terça-feira, acontece a procissão e o Sermão do Encontro e, na quarta-feira, o Sermão das Dores de Nossa Senhora. Esses momentos podem acontecer à noite, após a celebração da missa. Depois da celebração Eucarística, os fiéis permanecem na Igreja e a Igreja é preparada para esses momentos. Na terça-feira, os fiéis saem da Igreja para a procissão do Encontro e, ao retornar, a procissão para na porta da Igreja e o padre profere o sermão.
A Semana Santa deve ser para nós a semana mais importante de nossas vidas, uma semana voltada para reflexão e oração, e voltada para refletir sobre os últimos acontecimentos da vida de Jesus, em que todos buscam compreender a mensagem de Deus por trás de tudo isso. Iniciamos a Semana Santa envoltos entre as “trevas” e terminaremos envoltos da luz, por meio da ressurreição de Nosso Senhor.
Nessa noite, recorda-se as “trevas” que pairou sobre o mundo no momento da prisão de Jesus. Reflete, ainda, sobre a oração forte que Jesus fez nesse momento, conhecida como “Agonia no Horto”, que inclusive é um dos mistérios meditados no santo rosário. Jesus fez essa oração quando se sentiu sozinho, todos os discípulos o abandonaram, porque o medo havia se apoderado deles. Nesse momento, Jesus se sentiu sozinho diante daqueles que queriam prendê-lo.
Nessa noite, a luz é tirada por um tempo de nosso meio, por isso, acontece o ofício de trevas e o Sermão do Depósito. No Sábado Santo, essa luz ressurge com a vigília da ressurreição. Cristo é a luz que vence as trevas e ilumina a nossa vida, também. Se estamos longe de Deus e de seus mandamentos, vivemos sob as trevas e a escuridão e o pecado toma conta de nós. Agora, se seguimos os mandamentos e Deus está conosco, estamos irradiados pela luz e refletimos essa luz para as pessoas. Somos chamados a refletir a luz para as pessoas e não ser trevas para ninguém.
Durante à noite, as trevas e a escuridão imperam, e podemos mais facilmente cair no pecado. Mas uma luz nunca deve se apagar, mesmo sendo noite, a luz de Cristo, essa deve continuar acesa e iluminar a nossa vida para não acontecer de cairmos no pecado. O hino das completas diz assim: “Agora que o clarão da luz se apaga, a vós nós imploramos Criador: com vossa paternal misericórdia, guardai-nos sob a luz do vosso amor”. O dia escureceu, as luzes se apagaram, mas Deus deve continuar conosco, vivo em nossos corações.
Nessa segunda-feira do ofício de trevas, e que lembramos a condenação e prisão de Nosso Senhor, as trevas tomam conta do universo, mas Cristo deve continuar vivo em nossos corações. Das velas acesas nesse dia, todas se apagam, menos uma, a de Jesus Cristo. Quando a Igreja inteira se apaga, a única luz que fica acesa é a do “sacrário”, pois Cristo é a luz que nunca se apaga. Após a celebração dessa noite, saiamos da Igreja com essa certeza: a luz de Cristo está conosco e devemos refletir aos outros.
Se bem lembrarmos quando Jesus morre na cruz, uma escuridão toma conta de toda a terra, a cortina do santuário se rasga de alto a baixo, nesse momento, as pessoas reconheceram que Ele era o filho de Deus. Por um tempo, a luz foi tirada do nosso meio, mas no Domingo de Páscoa essa luz ressurge mais forte ainda e ilumina a todos. A luz de Cristo permanece acesa no meio de nós, por meio da ação do Espírito Santo.
Entregaram e condenaram Jesus injustamente. Reflitamos um pouco sobre todos aqueles que são condenados injustamente. Lembremos, sobretudo, dos religiosos que são perseguidos por anunciarem a verdade e tantos cristãos que são impedidos de professarem a fé publicamente. Por fim, recordemos dos países que estão em guerra e de tantos inocentes que morrem injustamente. No último dia 25 de março, o Papa Francisco pediu que renovássemos a nossa consagração ao Imaculado Coração de Maria, pedindo a paz ao mundo! Rezemos pelo fim da guerra na Ucrânia e em todos os lugares que carecem de paz! Que esses povos se unam pela paz e a luz de Cristo reine entre todos. Rezemos pela paz em nossa cidade.
Que o Espírito Santo nos ajude a vivenciar bem essa Semana Santa e a celebrarmos com fé a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ele foi condenado à morte por amar demais, não está muito diferente do que acontece nos dias de hoje, mas não desistamos e amemos a Deus e ao nosso próximo com todas as forças. Que não sejamos condenados por isso, e que possamos fazer a nossa parte.
Deus enviou Jesus ao mundo para anunciar a Boa-Nova aos pobres, libertar os cativos e proclamar o ano da graça, como já havia profetizado Isaías no Antigo Testamento. E ainda, Jesus ressuscita após a morte, para dizer que a morte não tem a última palavra, mas a vida sempre vence.
Celebremos com fé e piedade essa Semana Santa e participemos de todas as celebrações. Ela nos ajuda a seguir todos os passos de Jesus, desde o calvário até a glória da ressurreição. Aproveite ainda essa semana maior para realizar a confissão sacramental, se ainda não teve oportunidade.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ