As tentações aparecem para nos afastar de Deus. Se não estivermos centrados nos planos que Ele tem para a nossa vida, cairemos na tentação
Celebramos neste domingo o primeiro domingo da Quaresma. O Tempo da Quaresma iniciou-se na última Quarta-Feira de Cinzas e vai até a celebração da Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa (exclusive). Durante esse tempo quaresmal, somos convidados a nos voltar para nós mesmos e mudar as nossas atitudes em relação conosco mesmos, com o próximo e perante Deus.
Durante esse tempo quaresmal, a Igreja nos propõe três práticas: oração, jejum e caridade. Através da oração, conseguimos realizar o nosso jejum, e a caridade é fruto dos dois. Outra prática que marca o Tempo da Quaresma é a penitência, onde somos convidados a mudar de vida e nos aproximar mais de Deus. Temos que iniciar a Quaresma de uma maneira e chegar na Páscoa de outra.
O Tempo da Quaresma é um tempo de esperança na ressurreição e na vida eterna. É um período de um retiro espiritual que fazemos por quarenta dias, onde meditamos os quarenta anos que o povo judeu peregrinou no deserto até chegar à terra prometida e os quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de sua vida pública. Durante o tempo da Quaresma, omite-se o Aleluia e o Glória. Esses cânticos voltam com alegria na grande Vigília da Páscoa.
Caminhemos durante esses quarenta dias da Quaresma com os olhos fixos na cruz de Cristo, tendo a certeza de que Ele não ficou ali para sempre, mas venceu a morte e ressuscitou. A cruz é o sinal da nossa salvação e por ela se deu a nossa vitória. Preparemo-nos durante esses dias para realizar a nossa confissão e a nossa reconciliação com Deus, para celebrarmos de maneira mais plena a Páscoa.
A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do Deuteronômio (Dt 26, 4-10). O livro do Deuteronômio é o livro da lei. Nessa passagem de hoje, Moisés fala ao povo dizendo que o sacerdote receberá em suas mãos a cesta “ofertada” a Deus pelo povo e colocará diante do altar. E o sacerdote agradecerá a Deus pelas maravilhas que Ele fez ao povo, sobretudo por tê-los tirado da terra do Egito e feito com que eles entrassem na terra prometida. Moisés oferta a Deus os primeiros frutos da terra que povo acabava de adentrar.
Essa leitura retrata um dos motivos pelo qual celebramos a Quaresma, recordando os quarenta anos que o povo caminhou no deserto até chegar à terra prometida. E o significado da Páscoa que é a passagem da escravidão para a liberdade.
O salmo responsorial é o 90 (91). O refrão do salmo nos diz: “Em minhas dores, Ó Senhor, permanecei junto a mim”. O salmista pede para que em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis, Deus caminhe com ele. Isso serve para nós hoje. Peçamos ao Senhor que caminhe ao nosso lado em todos os momentos, sobretudo, nos mais difíceis, que Ele nos tome pela mão e caminhe conosco.
A segunda leitura da missa deste domingo é da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 10, 8- 13). Paulo diz que a Palavra está perto de nós, em nossa boca e em nosso coração. A palavra é aquela pregada por ele próprio. Acolhendo essa palavra com fé, podemos proclamar que Jesus Cristo é o Senhor e que Ele venceu a morte e ressuscitou dos mortos. É crendo nisso que seremos salvos. Não importa a religião ou a crença, todos temos um único Senhor, que sempre se mostra generoso para aqueles que o invocam.
O Evangelho deste Domingo é de Lucas (Lc 4,1-13). Nessa passagem, Lucas relata as tentações que Jesus sofreu no deserto. Que é um dos sentidos de nós celebrarmos a quaresma, fazemos memória dos quarenta dias que Jesus passou no deserto e venceu as tentações. Somos convidados a vencer as tentações da mesma forma que Ele venceu, através da oração, jejum e caridade.
Jesus, após ser batizado no rio Jordão por João Batista, é movido pelo Espírito Santo para o deserto e sofre as tentações. Jesus, durante os dias que esteve no deserto, era guiado pelo Espírito Santo e não comeu e nem bebeu nada. Jesus foi tentado pelo diabo e, através da oração e do jejum, Ele vence as tentações do diabo. Jesus estava centrado em suas orações e era fiel ao Pai, por isso ele consegue vencer as tentações do diabo.
As tentações aparecem para nos afastar de Deus. Se não estivermos centrados nos planos que Ele tem para a nossa vida, cairemos na tentação e dessa forma nos afastaremos d’Ele. A oração nos ajuda a estarmos centrados em Deus e em nossas orações peçamos que o Espírito Santo seja o nosso guia para vencermos toda e qualquer tentação.
O mundo de hoje nos oferece muitas tentações para nos afastar de Deus, seja por meio da televisão, celular ou internet. Essas tentações fazem com que coloquemos Deus em segundo plano e se Deus estiver em segundo plano, a nossa vida não vai para frente. Por isso, nessa Quaresma, além do jejum de alimento, podemos fazer o jejum de algo que atrapalha a nossa relação com Deus, particularmente, as maldades e fakes news das mídias sociais. Ficar menos na televisão, internet ou celular e focar mais na oração.
Que o Espírito Santo nos ajude nesse caminho quaresmal e possamos focar mais em Deus e vencer todas as tentações que possam aparecer. Façamos o caminho da reconciliação com Deus e celebremos de maneira pura a Páscoa do Senhor! Amém.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ