Estamos no último dos quatro domingos do santo Advento! Estamos já em plena Semana de preparação próxima para o Natal. A semana de N. Sra. do Ó como recordam as antífonas marianas da Oração da Tarde. A Igreja, agora, é toda atenção, toda contemplação do mistério da Encarnação, preparando-se para celebrar o Natal do Senhor. Sua vinda é a nossa salvação, sua chegada é o anúncio da esperança a todos os povos, a toda a humanidade, a anual celebração do seu Natal recorda-nos que nosso Deus não é de longe, mas de perto, próximo da humanidade toda e de cada um de nós.
O Filho eterno do Pai fez-se homem para encher de Vida divina a nossa existência humana. É este é o Mistério de que fala São Paulo na segunda leitura (Cf. Rm 16,25-27) neste domingo: “Mistério mantido em sigilo desde sempre. Agora, este Mistério foi manifestado e conforme determinação do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé!” (Cf. Rm 16,25-26) Com a aproximação do Santo Natal, contemplamos a benevolência de Deus para toda a humanidade: no segredo do seu coração havia um amoroso e misterioso projeto: salvar toda a humanidade pelo fruto que haveria de vir da raça de Israel, da tribo de Judá, da Casa de Davi.
O que nos deve encantar neste domingo não é somente a grandiosidade desse Mistério, dessa surpresa de um Deus que, desde sempre, preocupou-se com todos, com toda a humanidade. O que nos deve encantar é também o modo como o Senhor realiza o seu desígnio: Ele age no “escondido” da história humana, no pequenino de nossas vidas, nas humildes decisões de nossa existência (Cf. Lc 1,26-38).
Pensemos bem! Primeiro, o rei Davi, humilde pastor de Belém, mais novo dos muitos filhos do velho Jessé. E Deus o escolheu: para rei e para dele fazer uma dinastia da qual nasceria o Santo Messias. Davi, que desejava humildemente construir uma Casa, um Templo para o Senhor, fica sabendo que é Deus quem lhe construirá uma Casa, isto é, uma Dinastia, uma descendência, da qual nascerá Aquele bendito Descendente que enche de alegria o nosso coração: “O Senhor te anuncia que te fará uma casa.
Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realiza. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre!” (Cf. 2Sm 7,11-14a.16) Eis a bondade do Senhor, que de um simples pastorzinho fará nascer o Salvador que reina para sempre.
Depois, podemos pensar em José (cujo ano estamos celebrando), naquele que tinha recebido como prometida em casamento uma virgem chamada Maria… José, homem simples, criatura de Deus. Membro pobre da família real de Davi, simples artesão. Moço de Deus, que vivia na justiça do Senhor, praticando a Lei do Deus de Israel.
Na primeira leitura – 2Sm 7,1-16 – o rei Davi, movido por sentimento de gratidão e de respeito, pensou construir um templo para seu Deus; mas é Deus quem vai construir o seu próprio e exclusivo templo: “O Verbo de Deus, acolhido no seio de Maria, permanece entre nós e caminha conosco pelas estradas da vida”. O seio de Maria é o templo de nosso Emanuel, Deus que está em nosso meio e caminha conosco!
Na segunda leitura (Rm 16,25-27) o projeto de Deus, existente desde toda a eternidade; agora, é revelado para todos os povos: “O Mistério, mantido em segredo desde sempre, agora este mistério foi manifestado (…) e levado ao conhecimento de todas as nações”. Natal é revelação do segredo de nosso Deus!
No Evangelho (Lc 1,26-38) o Templo construído por Deus é a própria Virgem Maria, em cujo seio, foi formado o Verbo encarnado, para ser o Deus que está em nosso meio, que caminha no meio de nós pelas estradas da vida. O seio de Maria é o templo provisório, pois o Menino, gerado por Maria, é o Verbo Encarnado – Deus e Homem ao mesmo tempo, que caminha conosco. O segredo de Deus toma forma na Gruta de Belém! Deus pede a Maria um compromisso que ela deve assumir de forma pessoal, sem a consulta ou a permissão de um homem, seja pai, irmão ou marido. É a mulher quem decide. Isso é muito significativo, porque a história de Israel foi narrada sob a perspectiva de que Deus agia, geralmente, por meio do sexo masculino, com o qual fazia alianças. Agora, Deus rompe essa supremacia do homem, expressando o seu mistério por intermédio da fé e da acolhida de Maria à sua proposta.
Ó Virgem toda santa e toda pura! Obrigado pelo teu sim, obrigado pelo sim que é eco no tempo do sim que o Filho pronunciou na eternidade! Como poderíamos te saudar, ó Toda Santa? Saudamos-te como a Escritura nos ensina: saudamos-te Cheia de Graça, saudamos-te Bendita entre as mulheres, saudamos-te Arca da Aliança, saudamos-te Mãe do Senhor, saudamos-te portadora do Salvador, saudamos-te Causa da nossa alegria, saudamos-te Esposa do Espírito, saudamos-te Bendita por ter acreditado! Saudamos-te assim, Mãe de Jesus, e toda a saudação do mundo ainda seria pouca para exprimir a grandeza do teu sim e nossa gratidão pela tua disponibilidade! Ensina-nos, Virgem Maria, a dizer o sim como tu disseste; ensina-nos a tornar nossa vida disponível ao plano do Senhor; ensina-nos a viver em nós a obediência do Filho, como tu viveste!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ