Nós vos adoramos Santíssimo Senhor Jesus Cristo que por vossa Santa Cruz redimistes o Mundo inteiro. Sexta-feira Santa! Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Senhor viveu dias de solidão, de angústia, dor e tormento, sentiu-se traído, abandoando, e esquecido pelos seus amigos, em tudo, Ele aceitou assumir a nossa condição humana, exceto no pecado. “Eloi, Eloi, lamá sabactani”, Meu Deus, por que me abandonaste?’ (cf Mc 15,34).
Celebramos Jesus Cristo, o nosso Salvador, que nos salvou com o dom da sua vida entregue, doada por um amor incondicional. A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo é o símbolo da nossa vitória.
Para aqueles que estavam com Ele no momento de sua agonia, Jesus, nazareno, o rei dos judeus, não pediu praticamente nada; o único pedido era poder satisfazer sua sede. Deram-lhe uma esponja com vinagre.
Hoje Cristo tem sede de nossa sede; Ele tem sede de serenidade, de saúde física e moral, de harmonia em nossas famílias, de ar e ambiente puro e saudável, de trabalho honesto para todos os homens e mulheres de nosso tempo que vivem sem dignidade, a margem da sociedade.
Hoje Cristo tem sede de nossa sede; Ele nos chama a conversão, nos convida a viver em fraternidade sincera junto aos nossos pastores, em comunhão eclesial nas paróquias e comunidades, o Senhor nos convida a viver e assumir o ministério da caridade, e cultivar com ardor a paixão pelo Evangelho da Cruz e da Ressurreição.
Cristo nunca nos deixará órfãos, esquecido, ou abandonado, somos aqueles por quem Ele deu a vida; e desde que Ele aceitou assumir e compartilhar nossas dores e angustias humana, nossa fome e sede diária, estamos certos de que ele também saciará nossa sede de vida eterna, pois vivemos na esperança de um dia estarmos juntos face a face com Ele na plenitude da vida que jamais findará.
A celebração que estamos vivenciando neste dia sagrado da memória da Paixão e Morte de Nosso Senhor, expressa bem o sentido e a atitude dos fieis cristãos nesta Sexta-feira Santa, sobre tudo, nossa gratidão ao Senhor por tão grande amor por todos nós, sem distinção.
Somente um amor grande e incondicional sem limites, é capaz de dar a própria vida pelos seus, sem esperar nada em troca, sem querer recompensa, é um amor gratuito. Jamais conseguiremos mensurar tamanho amor, o amor de Nosso Senhor por cada um de nós.
Nossa celebração abriu-se com o gesto da prostração vivida em silêncio. Este gesto quer nos lembrar que para nos abrirmos para o verdadeiro significado da morte de Jesus, temos a necessidade de adorar e reverenciar através do silêncio interior.
A história da Paixão e Morte de Jesus, como bem sabemos, continua nos Evangelhos, na história da ressurreição, é o tesouro mais precioso guardado no coração da cristandade através da comunidade cristã desde o início da fé apostólica.
Não é coincidência que a história da paixão ocupa, em todos os quatro evangelhos, um lugar especial. Mas não é difícil entender o porquê. A paixão foi vista, desde o início, como o momento privilegiado da manifestação do amor de Deus.
Dada a importância deste grande acontecimento na história da Salvação, nos diz o Evangelista, “tendo amado os seus, que estavam no mundo amou-os até o fim”, (cf Jo 13,1), não significa simplesmente que o fim chegou, mas que Jesus levou ao limite extremo de sua doação.
O Filho de Deus não poderia fazer um gesto mais cheio de amor do que isso. Nada poderia revelar mais sobre o amor do Pai. A história de amor entre Deus e a humanidade alcança seu cume aqui. Eis o mistério mais sublime, mais sagrado da história.
É por isso que a Liturgia não nos faz viver esta celebração como um luto, mas como uma contemplação serena, comovida e grata do amor de Deus.
Depois de ouvir o relato da paixão, nossa celebração continuará com uma grande invocação pelas necessidades da Igreja e do Mundo. Esta é a oração universal, nós então rezaremos pela Igreja, por seus pastores, pelos cristãos, pelos catecúmenos, e os irmãos crentes de outras religiões, e não-crentes, rezaremos pelo mundo inteiro.
O amor revelado através da Paixão e Morte de nosso Senhor Jesus Cristo nos impele a implorar que ela frutifique em nossa vida, o amor e a caridade, na Igreja e no mundo.
Finalmente comunhão, com o Pão Eucarístico consagrado na Missa de ontem à noite, em memória da Sagrada Ceia do Senhor, Cristo nos unirá profundamente a nós em um amor sem limites.
Estejamos abertos e disponíveis de coração, para que esta celebração litúrgica possa entrar em nossa vida, consolá-la, alimentá-lo, sustentar a nossa fé, e aumentar a nossa alegria de sermos redimidos, nos tornar mais firmes e encoraja-nos para corresponder ao amor de Deus, no amor aos irmãos e irmãs.
O evento pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é o centro da fé cristã. A fé que salva está ligada ao Ressuscitado, mas deve passar pelo Calvário. A cruz é a porta que leva à Ressurreição.
A palavra de Deus nos ajuda a entender o significado do sofrimento. De fato, o sofrimento de Cristo ilumina nosso sofrimento, tornando-o digno de um acesso especial ao reino dos céus.
Se a vida é colorida com o sangue da cruz, não podemos deixar de aceitar este desafio que nos leva a caminhar com Cristo, no caminho da dor, que é o caminho da libertação.
Os cristãos de todos os tempos sempre contemplaram esta história de dor e amor com gratidão e emoção, ou melhor, a viver no seguimento radical de Jesus através da conversão.
Jesus Crucificado é a pessoa diante da qual só há que se ajoelhar, pedir perdão, agradecer-lhe pelo que fez por nós no mistério da dor, mas também no mistério da vida doada, e da alegria.
O apóstolo Paulo nos lembra dessas atitudes do coração e do intelecto, em sua carta aos filipenses o Apostolo lembra que “Cristo, embora na condição de Deus humilhou-se ao tornar-se obediente até a morte e à morte na cruz, exaltou-o e deu-lhe o nome que está acima de cada nome, de modo que em nome de Jesus todo joelho se dobra nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua proclama: “Jesus Cristo é Senhor!”, para a glória de Deus o pai “(Fl 2,6-11).
A Semana Santa é um tempo de graça excepcional; é a celebração e atualização da maior história já narrada, a de um Deus, o Deus dos cristãos que tanto amou o mundo que deu e continua a dar seu Filho como propiciação, como redenção, como o sacramento universal de salvação e misericórdia.
E é precisamente através da liturgia da Igreja, nas esplêndidas e ricas celebrações da Semana Santa, o lugar onde se pode viver e receber graças abundantes. Dito de outra forma; se desconsiderarmos, se não participarmos das celebrações litúrgicas desses dias sagrados, perderemos o melhor deles, sua essência, seu coração, seu principal dom.
Isto implica um dever, confere um direito, o de participar nas celebrações da Semana Santa. Este não é simplesmente um momento do ano litúrgico, mas é a fonte de todas as outras celebrações do ano litúrgico, porque todas elas remetem e remetem ao momento do grande mistério pascal.
De fato, a morte morreu, a maldição foi cancelada, a escravidão do diabo foi suprimida. Deus se reconciliou com os homens, o céu se tornou penetrável, os homens com anjos se uniram, as coisas que estavam distantes foram unidas, a barreira foi removida.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ