Por ocasião da Festa de Cristo Rei, no último domingo do Ano Litúrgico, celebramos a vocação leiga, a base originária de todas as vocações cristãs. Em nossa origem todos somos leigos, pois nascemos e renascemos assim pela água do batismo. Por ele, somos inseridos na grande família de Deus que é a Igreja.
Antes de qualquer outro sacramento, recebemos o sacramento do batismo, que nos torna todos iguais perante o Deus Uno e Trino. Com o batismo, nós nos tornamos discípulos missionários de Jesus. Temos todos em comum o mesmo Evangelho de Jesus, que deve ser vivido com radicalidade por todos nós, antes mesmo de assumirmos nossa vocação específica no plano de Deus.
Hoje, nossa homenagem, reconhecimento, gratidão e oração são para quem assume, especificamente, a missão laical em sua vida, na Igreja e na sociedade. É para todos o chamados a ser sal da terra e luz do mundo, que coordenam nossas comunidades eclesiais, exercem o ministério da catequese, animam nossas celebrações litúrgicas, atuam como ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, visitam os doentes e abandonados, ajudam os pobres, animam e confortam com suas palavras e amizade os que passam por dificuldades, compartilham a mensagem de Jesus e entusiasmam seus irmãos e irmãs no seguimento de Jesus e, principalmente são presença cristão no mundo.
Desejamos que a luz de vocês brilhe para todos. Que sempre brilhe diante dos seus olhos e nos seus corações a beleza da vocação leiga, que consiste em viver o Evangelho de Jesus e em proclamar ao mundo que é possível viver o que Deus sonhou para todos (de sermos felizes no amor) no cotidiano da vida: na família, no ambiente de trabalho e de estudo, nos momentos de lazer, na rua, nos meios de transporte, nas redes sociais.
Por sua realidade de batizados, todos os leigos são Igreja, são parte do corpo que tem Cristo por cabeça. Como tais, estão também chamados a ser discípulos missionários, participantes da missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todas as nações. E, para isso, eles precisam experimentar renovadamente que o seu encontro com Jesus é verdadeiro, a fim de anunciá-lo e testemunha-lo em primeira pessoa. Isso acontece por meio de uma vida de oração intensa, onde se saboreia a mensagem de Jesus e se experimenta a sua graça sempre presente.
A partir desse encontro renovado, deve-se superar alguns antagonismos que hoje vemos muito presentes. Um primeiro antagonismo é o que se dá entre a fé e a vida, que faz referência a uma espécie de separação da vida de fé e da vida prática, como se as duas realidades não se relacionassem. Muitos vivem uma espécie de agnosticismo funcional, no qual a fé não interpela mais a vida cotidiana. São os cristãos de domingo e dias de festa, quando o verdadeiro chamado é a ter uma vida completamente cristã.
A Igreja nos diz: “Por leigos, entendem-se aqui todos os cristãos, exceto os membros das Sagradas Ordens ou do estado religioso reconhecido na Igreja, isto é, os fiéis que, depois de serem incorporados a Cristo pelo Batismo[…]” (CIC, n. 897).
O leigo é todo o povo de Deus, admitido em sua Igreja, através do Batismo e da Confirmação (CIC, n. 900), que possui um caráter secular, como afirma o documento Lumen Gentium (um documento dedicado a todo povo de Deus), em uma sessão dedicada aos leigos, entendemos que, por vocação própria, o leigo trata das realidades temporais, segundo à vontade de Deus, seja na vida familiar, ou no seu ofício. É viver no mundo, mas sem necessariamente pertencê-lo.
A ação apostólica não precisa ser, necessariamente, inserida em alguma comunidade ou associação reconhecida pela Igreja, é realizada também de maneira individual, pois não se trata apenas de estar na Igreja, mas ser Igreja. Incitar aos jovens e adolescentes a seguirem a Cristo, bem como, levar o seu Evangelho até os locais mais desconhecidos, onde as pessoas têm menos acesso à informação, e até mesmo, à Igreja.
O serviço do leigo não se resume aos grupos, pastorais e movimentos de dentro da Igreja, que também possui grande relevância, como, por exemplo, a Catequese de Iniciação à Vida Cristã (que será abordada muito em breve), que é um dos trabalhos mais conhecidos de dentro da Igreja. Porém, essa vocação possui também um caráter missionário (proposta trazida no mês de outubro, considerado o Mês Missionário). É o serviço nas comunidades, na família, dentre a juventude e até no meio social, contribuindo até para a construção de uma sociedade mais justa, onde sejamos verdadeiramente para Cristo e por Ele.
Nesta oportunidade, queremos manifestar a todos os leigos e leigas, nosso reconhecimento e gratidão pelo testemunho de vida e pelos serviços que exercem para o bem da humanidade, a fim de que o Reino de Deus se instaure e seja acolhido dentro de cada um de nós.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ