A criação dos filhos exige responsabilidade, amor e, principalmente, o compromisso de prepará-los para os desafios da vida, sem superproteção.
Recentemente, li em um jornal que, em um processo de divórcio, o juiz concedeu à esposa a custódia dos cães da família e ao marido o direito de visitá-los a cada duas semanas para passeá-los no parque. Embora essa decisão pareça incomum, ela reflete um fenômeno crescente: a aproximação de seres humanos e animais no imaginário social.
Essa identificação progressiva entre animais e crianças me preocupa. Não sou contra o amor pelos animais; pelo contrário, como qualquer pessoa sensível, tenho apreço por eles. No entanto, o que me intriga é a forma como, em nossa sociedade, alguns começam a tratar os filhos como se fossem animais de estimação adoráveis. O comportamento de mimar excessivamente um animal parece se transferir para a criação dos filhos, o que pode prejudicar o desenvolvimento infantil.
O Perigo da Superproteção na Criação dos Filhos
Em muitos lares, as crianças são tratadas como objetos de prazer, mais do que como seres humanos em pleno desenvolvimento. Esse comportamento leva ao que alguns psicólogos chamam de ‘criação infantil superprotetora’, que mantém a criança em uma redoma, longe de qualquer tipo de desafio. A superproteção impede que a criança desenvolva resiliência, autonomia e capacidade de enfrentar as dificuldades da vida.
As crianças, muitas vezes tratadas como ‘bebês Valium’, ficam privadas de experiências que poderiam ajudá-las a crescer de forma equilibrada. Em vez disso, vivem em uma espécie de casulo, onde atendem aos seus caprichos o tempo todo, e limitam sua educação infantil ao mínimo necessário para mantê-las satisfeitas e quietas. Quando alcançam a vida adulta, muitas dessas crianças se tornam pessoas egoístas, incapazes de lidar com o mundo real.
A Comparação entre Filhos e Animais de Estimação
O que realmente me preocupa é a tendência crescente de tratar os filhos como se fossem animais de estimação, com todas as implicações emocionais e psicológicas que isso envolve. Como sociedade, estamos começando a ver nossas crianças como pequenos “companheiros”, sem perceber que isso pode gerar um profundo distanciamento entre o que é realmente essencial na educação infantil. É claro que devemos proteger nossos filhos, mas não podemos deixar que essa proteção se transforme em uma forma de domesticação.
É um erro grave tratar as crianças como se fossem objetos de diversão ou apenas como alívio para as nossas próprias angústias emocionais. A criança deve ser educada, ensinada a enfrentar desafios, e não domesticada para agradar aos desejos de seus pais ou responsáveis.
O Impacto da Superproteção na Educação Infantil
O fenômeno da superproteção está intimamente ligado à forma como vemos a educação infantil nos dias de hoje. Infelizmente, o foco parece ter mudado: em vez de ensinar as crianças a serem fortes, resilientes e capazes de tomar decisões, muitas vezes nos preocupamos mais em satisfazer suas necessidades imediatas e mantê-las “felizes” a todo custo. Isso cria um ciclo vicioso em que a criança se torna cada vez mais dependente, e os pais, incapazes de educá-la de forma plena.
A superproteção da criança impede que ela se eduque para a vida real, tornando-a submissa a um mundo sem desafios. Isso faz com que ela perca oportunidades cruciais de desenvolvimento emocional e intelectual. Quando isso acontece, temos um adulto que não sabe lidar com os problemas do mundo, que nunca aprendeu a lidar com a frustração ou a superar obstáculos. Uma educação que visa apenas o prazer imediato não prepara a criança para as dificuldades da vida, que são inevitáveis e essenciais para o seu crescimento pessoal.
A Criação dos Filhos e a Responsabilidade dos Pais
Portanto, a reflexão sobre a criação dos filhos não deve ser limitada a questões superficiais como a satisfação imediata das necessidades da criança. Precisamos compreender que educar é, antes de tudo, ensinar a criança a viver, a enfrentar os desafios da vida com coragem, fé e perseverança. Não se trata de tornar a vida do filho uma sucessão de alegrias sem fim, mas de prepará-lo para ser um ser humano completo, com as habilidades necessárias para prosperar em um mundo complexo e, muitas vezes, difícil.
Conclusão: O Papel dos Pais na Educação Infantil
Em última análise, o papel dos pais é garantir que na criação dos filhos se tornem pessoas plenas e capazes de viver com dignidade. Para isso, é preciso ensiná-los a lutar, a ser sinceros, a enfrentar os desafios da vida e a desenvolver uma relação profunda com Deus. Infelizmente, uma sociedade cada vez mais focada no prazer imediato e na busca pela felicidade superficial frequentemente negligencia essa perspectiva. Mas é isso o que realmente importa: formar seres humanos, não “pets” ou objetos de desejo.