Uma criança se sente segura quando seus pais estão ao seu lado. Você pode correr, gritar, lutar, cair no chão. Talvez um golpe abra uma pequena ferida e o sangue escorrer pelo joelho. A criança se assusta, chora, corre para ver a mãe. Logo um beijo e uma pequena massagem, acompanhados das palavras “meu rei, não é nada”, fazem as lágrimas desaparecerem, e o menino volta às suas aventuras e seus sonhos.
Assim é a criança: uma sucessão contínua de estados de espírito, risos e lágrimas, medos e seguranças. A bússola fica com um norte constante se há alguém por perto que te ama, te segue, te endireita e te ajuda quando as coisas começam a dar errado. A criança brinca tranquilamente se souber que a mãe está ao seu lado. As mães têm um sexto sentido para detectar perigos e descobrir doenças quando os primeiros sintomas começam. A criança percebe isso, quase sem dizer, e por isso vive com uma paz invejável.
Nós, pessoas mais velhas, às vezes vivemos muito seguros de nós mesmos. Fazemos nossos programas, vamos trabalhar, pensamos no verão e controlamos que há uma pequena economia no banco. Ficamos tranquilos quando tudo está sob controle, e a possibilidade de uma falência, uma crise trabalhista, uma expulsão da fábrica ou o medo de um acidente nos angustia, nos paralisa, talvez até nos leve ao desespero.
Por que somos tão diferentes das crianças? Porque acreditamos que a maturidade coincide com a autossuficiência, e porque pensamos que viver sempre protegido pelos pais é sinal de infantilidade. Além disso, procuramos segurança em coisas que não são estáveis. Mesmo sendo honestos, nós mesmos não podemos garantir nossa saúde nem nas próximas 24 horas…
No Evangelho, somos convidados a voltar a ser como crianças se quisermos entrar no Reino dos Céus. Ou seja, devemos deixar as rédeas nas mãos de Deus, para que ele nos conduza e nos leve aonde quiser com seu amor de bom Pai. Temos que levantar nossos olhos lacrimejantes para o céu para pedir perdão quando pecamos ou pedir ajuda quando as coisas na família ou no trabalho não estão indo bem. Devemos saber fechar os olhos todas as noites com a certeza de que amanhã Deus ainda estará lá, fiel, pronto a ajudar-nos se nos deixarmos ajudar, a levantar-nos se cairmos, a consolar-nos se as feridas da vida forem profundo.
Deus é como uma mãe, a Bíblia nos diz. O que acontece é que às vezes nos sentimos grandes demais e não deixamos que ele segure nossas mãos para ir ao médico, para trocar de roupa ou para nos pedir para dar aos outros um pouco do nosso tempo, qualidades ou até mesmo do nosso dinheiro.
Quando nos colocamos nas mãos de Deus, deixamos que ele escreva uma história cheia de amor, alegria e paz. Uma história de esperança, como na vida dos santos. Não custa nada sermos levados por Deus se descobrimos que ele nos ama. É por isso que as crianças confiam cegamente em seus pais. A desconfiança infantil é normal quando chega um estranho, mas não quando a mãe ou o pai entram em casa. Talvez, com nossos medos, tenhamos feito de Deus um estrangeiro, quando, na verdade, ele é sempre um Pai que nos ama.
