Partilhas na Semana Santa

Semana Santa
Material para catequese
Material para catequese

Com o domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa. Uma bela ocasião de termos gestos concretos consequentes com a quaresma que vivemos. O jejum e abstinência que vivemos durante os 40 dias nos ajudam a partilhar aquilo que economizamos em prol de destinações que a igreja nos propõe.

De um lado temos a grande coleta da sexta-feira santa em prol dos lugares santos. Somos nós que sustentamos os locais onde estão construídas as igrejas na terra santa, assim como os trabalhos sociais e educacionais na terra santa onde os católicos são minoria.

Também, cada ano, na coleta da solidariedade temos ocasião de partilhar com nossas dioceses a ajudar para o socorro de trabalhos sociais assim como, com uma porcentagem também os projetos que chegam para o Fundo Nacional de Solidariedade que, em geral, privilegia o tema da Campanha da Fraternidade para distribuir essa parte do gesto concreto.

No próximo dia 28 de março, domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja Católica no Brasil realiza a Coleta Nacional da Solidariedade como consequência de nossas economias durante a penitência quaresmal. Fazemos como gesto de amor entregando um pouco do que temos e nos penitenciamos em prol dos necessitados da própria diocese ou para projetos nacionais. Essa coleta da solidariedade é o gesto concreto, fruto da oração, penitência e jejum que praticamos durante o período quaresmal.

O tema que norteou a Campanha da Fraternidade deste ano foi: “Fraternidade e diálogo” e o lema: “Cristo é a nossa paz, do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). Essa Campanha da Fraternidade nos ajudou a olhar com amor e respeitar todas as escolhas das pessoas. Cada um tem seu livre arbítrio e é amado por Deus.

A Coleta da Solidariedade de certa forma, ajuda todos os pobres e sofredores, contribui para que a missão da Igreja continue nas comunidades carentes e necessitadas. Cada vez que temos uma emergência e peço ao nosso Vicariato da Caridade Social para socorrer alguma região afetada por enchentes, deslizamentos ou para pessoas em situações de necessidades agradeço a Deus pela generosidade daqueles que se despojam de seus bens em prol de pessoas que não conhecem e talvez nunca conhecerão, mas que são socorridas pela caridade da igreja. Além da parte que permanece na Diocese (60%), com a outra parte do recurso arrecadado (40%), o Fundo Nacional de Solidariedade apoia pequenos projetos em todo país, que de certa forma estão ligados ao tema da Campanha da Fraternidade, vigente no ano. Todo esse dinheiro da coleta da solidariedade deverá ser rigorosamente aplicado pelo Fundo Nacional de Solidariedade em projetos criteriosamente examinados e julgados aptos para receber auxílio. O carinho em partilhar deve estar presente em nossas atividades diante dos necessitados. Projetos esses pautados na vivência dos valores do Evangelho para que as nossas comunidades de fé e pessoas de boa vontade para superar todo tipo de violência e inundar o mundo com o amor de Cristo.

As doações podem acontecer sempre, e essa foi uma característica de nossos antepassados ao construir creches, hospitais, escolas, trabalhos sociais que até hoje permanecem como sinais dessa partilha. Além disso as igrejas, capelas, centros pastorais, conventos e outros permanecem como sinais da presença católica em nosso território.

A missão da Igreja acontece diariamente, todos os dias do ano, por isso é sempre tempo de doar. Seja doar materialmente ou doar-se fazendo parte da missão, evangelizando. As coletas que a Igreja realiza durante o ano, sempre são para contribuir na obra evangelizadora da Igreja e ajudar os mais pobres. Ao contribuirmos com a coleta, faremos parte da missão da Igreja, na qual fomos chamados através do nosso batismo.

A Coleta da Solidariedade acontece no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor e com essa celebração, adentramos a Semana Santa. Participemos ativamente das celebrações dessa Semana Maior, a Semana mais importante do calendário cristão. E que as celebrações pascais nos ajudem a fazermos uma sincera conversão a Deus. Que a Ressurreição de Cristo nos traga vida nova, e a esperança de dias melhores possa surgir no coração de todos.

Na semana santa, temos na sexta-feira santa a coleta dos lugares santos. Passo a palavra para o Cardeal Leonardo Sandri que assim se expressa:

“A colecta pro Terra Sancta 2021 seja para todos a ocasião para não voltar o olhar, para não passar adiante, para não ignorar as situações de necessidade e de dificuldade dos nossos irmãos e das nossas irmãs, que vivem nos Lugares Santos. Se diminuir este pequeno gesto de solidariedade e de partilha (São Paulo e São Francisco o chamariam de “restituição”) será ainda mais difícil para tantos cristãos daquelas terras de resistir à tentação de deixar o próprio país, será difícil manter as paróquias na sua missão pastoral, e continuar a obra educativa através das escolas cristãs e o empenho social a favor dos pobres e dos que sofrem. Os sofrimentos de tantos deslocados e refugiados que tiveram que deixar as suas casas por causa da guerra necessitam de uma mão estendida e amiga para deitar sobre as suas feridas o bálsamo da consolação. Não se pode enfim, renunciar do cuidar os Lugares Santos que são o testemunho concreto do mistério da Encarnação do Filho de Deus e da oferta da sua vida feita por nosso amor e para a nossa salvação.

Em tal difícil cenário, marcado pela ausência de peregrinos, sinto o dever de fazer minhas ainda uma vez mais as palavras que o Apóstolo das gentes dirigia aos Coríntios há dois mil anos, convidando-os à solidariedade que não se baseia em motivações filantrópicas, mas cristológicas: «Conheceis de fato a graça do Senhor Nosso Jesus Cristo: sendo rico se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por meio da sua pobreza» (2, Cor.8,9). E depois de ter recordado o princípio da igualdade, da solidariedade e da troca de bens materiais e espirituais, o Apóstolo acrescenta palavras eloquentes hoje como então, e que não necessitam de qualquer comentário: «Tende presente isto: quem semeia pouco, recolherá pouco e quem semeia com abundância, recolherá com abundância. Cada qual dê segundo o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. De resto, Deus tem o poder de cumular-vos com toda a espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas as coisas o necessário, possais cumprir generosamente toda a espécie de boas obras» (2. Cor. 9,6-8).

A Vós, aos Sacerdotes, aos Religiosos, às Religiosas, e aos Fiéis, que se empenham para o bom êxito da Coleta, em fidelidade a uma obra que a Igreja pede a todos os seus filhos que se cumpra segundo as modalidades conhecidas, tenho a alegria de transmitir o vivo reconhecimento do Santo Padre Francisco. E invocando abundantes graças divinas sobre esta Diocese, lhe mando uma fraterna saudação no Senhor Jesus. (Card. Leandro Sandri)”

É com esse carinho e ternura que adentramos a Semana Santa. Somos nós que precisamos nos despojar. O que doamos, além de não ser mais nosso, é um dom para nós mesmos nessa caminhada quaresmal.

Além disso, a participação nas liturgias da semana santa nos faz dar passos importantes em nossa vida espiritual. É um dom do Senhor tanto aprofundamento de nossa fé. Que isso se traduza em nova vida para todos nós.

Que o Senhor nos dê o dom da conversão e da caminhada unida. Enquanto podemos façamos o bem a todos.

   Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ