Papa Francisco escreve aos esposos por ocasião do Ano Família “Amoris Laetitia”
Em 19 de março de 2021, vivendo o Ano de São José, a Igreja comemorou 5 anos da publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal “Amoris Laetitia” sobre a beleza e a alegria do amor familiar. Neste mesmo dia, o Papa Francisco inaugurou o Ano “Família Amoris Laetitia”, que terminará em 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias em Roma.
Foram apresentados para a vivência desse ano, cinco objetivos, verdadeiros pilares nos quais devem estar fundadas as iniciativas, a saber:
1. DIFUNDIR O CONTEÚDO DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA “AMORIS LAETITIA” – Para fazer as pessoas experimentarem “que o Evangelho da família é alegria que enche o coração e a vida inteira” (AL 200). Uma família que descobre e experimenta a alegria de ter um dom e de ser um dom para a Igreja e para a sociedade, «pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo» (AL 66). E o mundo hoje precisa dessa luz!
2. ANUNCIAR O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO É DÁDIVA E TEM PODER TRANSFORMADOR DO AMOR HUMANO – Para isso é necessário que os pastores e as famílias caminhem juntos na corresponsabilidade e complementaridade pastoral, entre as diferentes vocações na Igreja (cf. AL 203).
3. TORNAR AS FAMÍLIAS PROTAGONISTAS DA PASTORAL FAMILIAR – Para tanto, é necessário “um esforço evangelizador e catequético dirigido à família” (AL 200), pois uma família discípula torna-se também família missionária.
4. CONSCIENTIZAR OS JOVENS – Sobre a importância da formação à verdade do amor e ao dom de si, com iniciativas a eles dedicadas.
5. ALARGAR O OLHAR E A AÇÃO DA PASTORAL FAMILIAR – Para que se torne transversal, de modo a incluir os cônjuges, os filhos, os jovens, os idosos e as situações de fragilidade familiar.
O Ano Família “Amoris Laetitia” é uma iniciativa do Papa Francisco e pretende chegar a todas as famílias do mundo através de propostas de caráter espiritual, pastoral e cultural. Bem sabemos que pandemia pôs em evidência o papel central da família como igreja doméstica e mostrou a importância dos laços comunitários entre as Famílias. (Família de famílias, cf. AL 87).
Este ano será um itinerário de um verdadeiro CAMINHANDO COM AS FAMÍLIAS, para cujo caminhar foram apresentados 12 percursos pastorais: Itinerários Catecumenais (antes e depois do matrimônio); Acompanhamento dos esposos; Educação dos filhos; A beleza e as dificuldades da vida familiar; Acompanhamento dos casais em crise; Inserir casais nas estruturas para configurar a pastoral familiar e formação de agentes, seminaristas e sacerdotes; Promover nas famílias sua natural vocação missionária; Desenvolver uma pastoral dos idosos; Envolver a pastoral juvenil; Preparação para o X Encontro Mundial das Famílias; Acompanhamento e discernimento para as famílias feridas; Grupos de aprofundamento sobre a Amoris Laetitia.
No domingo p.p., 26 de dezembro, o Papa anunciou no Ângelus e publicou uma sua Carta aos Esposos, por ocasião do Ano Família “Amoris Laetitia”.
Nesta Carta aos esposos do mundo inteiro, o Papa expressa com evidência sua estima e proximidade, especialmente neste período tão especial em que toda a humanidade está a viver. De fato, ele atesta que “sempre recorda das famílias em suas orações, sobretudo durante esta pandemia, que colocou todos a uma dura prova, de modo particular, os mais vulneráveis”. Este foi e continua sendo um momento de incerteza, solidão, perda de entes queridos. O amor conjugal neste tempo se fortalece e a presença na família com suas exigências, faz fortalecer os laços de comunhão.
Como Abraão, o nosso pai na fé, (pai das três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo) deixou a sua terra natal, também os esposos devem se colocar a caminho, na companhia de Deus, obedientes ao chamado divino ao amor conjugal e à doação pessoal. O noivado já é uma saída da própria terra, porque pretende dos noivos um caminho a dois, que culmina com o matrimônio, lugar onde Deus habita e no Qual como rocha firme está firmada a futura convivência.
O Santo Padre chama também a atenção dos esposos relativamente aos filhos, sobretudo os mais pequeninos, aos quais eles devem dar exemplo e testemunho de um amor vivo e fiel; não é fácil a educação dos filhos. Os jovens, sempre muito observadores, percebem o amor de Cristo presente no amor de seus pais. Os filhos são um dom e mudam a história da família; têm sede de amor, confiança e segurança. Os esposos educam os filhos, mas eles também os educam. Educar é acompanhar o processo de crescimento de seus filhos, quer na esfera educacional como espiritual.
O Papa Francisco recorda a identidade e a missão dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade, no trabalho e na família, na comunidade paroquial e diocesana, segundo seus carismas e vocações; exortando, pois, os esposos a colaborarem no âmbito eclesial, de modo particular na Pastoral da Família, na tutela das igrejas domésticas, pois a família é a célula fundamental da sociedade.
Ao tratar da vocação matrimonial o Papa assevera que o matrimônio tem a missão de guiar um barco instável, mas seguro, por meio dos sacramentos, em um mar, muitas vezes, revolto. Mas, assim como aconteceu com os discípulos no Mar da Galileia, o Mestre, não os abandona, Ele estava presente e as águas se acalmaram. Hoje, Jesus, não duvidemos, também está presente no barco do matrimônio, velando pelos esposos e filhos que, somente assim, poderão viver em paz, superar as desavenças e encontrar a solução de seus muitos problemas.
A consciência da fragilidade e da impotência dos esposos encontram a âncora de sustento e soerguimento nas mãos do Senhor. Em uma tempestade, os apóstolos conseguiram reconhecer a realeza e a divindade de Jesus e aprender a confiar nele; ele não nos abandona jamais.
À luz destas reflexões, o Papa recorda algumas situações familiares neste tempo de pandemia: convivência, diálogo, preocupações, acolhimento, compreensão, dar as mãos, rezar juntos; expressa sua proximidade e afeto aos esposos que chegaram a uma ruptura, por desentendimentos e discussões. A eles pede para não se esquecerem do perdão, que cura todas as feridas. O amor humano é frágil e precisa do amor fiel de Jesus, com o qual construir a “casa sobre a rocha”.
Ainda como mensagem dessa sua Carta, o Romano Pontífice se dirige, de modo especial, aos jovens que se preparam para o casamento, convidando-os a seguir o exemplo de São José, a manter sua confiança na Providência divina e a não hesitar em buscar ajuda em suas famílias, Igreja e paróquia. Dirige também uma saudação especial aos avós e idosos, que, no período de isolamento, mais sofreram por não poder ver seus netos e filhos. A família não pode prescindir dos avós, porque são a memória viva da humanidade.
Na conclusão da sua Carta, o Santo Padre invoca a proteção de São José neste Ano a ele dedicado, e de Nossa Senhora, para que acompanhem a vida conjugal. E conclui: “Esposos, não deixem que vos roubem a alegria e a esperança, mas vivam intensamente a sua vocação matrimonial e a missão que Jesus lhes confiou, perseverando na oração e na “fração do pão”. Nesta cultura do “encontro” os esposos têm a sua missão, são chamados a dar testemunho, que creio, se funda no fato do próprio cristianismo ser a religião do encontro, o Deus uno e trino que tudo faz para se encontrar com o homem, que vem ao encontro do homem, fazendo-se um deles, em Jesus Cristo.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ