Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete

perdoar setenta vezes sete, pedir perdão a Deus
Material para catequese
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Celebramos neste domingo o 24º desse Tempo Comum. Estamos nos aproximando do final de mais um ano litúrgico. No final do mês de novembro, no 34º Domingo do Tempo Comum celebraremos a solenidade de Cristo Rei do Universo e encerraremos mais um ano litúrgico. Ainda estamos no mês da Bíblia, oportunidade para darmos uma atenção especial à Palavra de Deus e meditá-la diariamente. Temos a carta aos efésios como proposta de aprofundamento dos estudos bíblicos para que nos vistamos de uma nova humanidade (Ef 4, 24).

A liturgia deste domingo segue a linha de raciocínio da semana passada e continua nos falando sobre a necessidade do perdão e do amor de Deus por cada um de nós. Se pedimos que Deus perdoe as nossas ofensas, devemos também perdoar aqueles que nos ofenderam. Deus nos ama com amor infinito e devemos amar o próximo da mesma forma.

Inclusive, não devemos julgar o outro, não podemos condenar ninguém, não devemos ofender a imagem do próximo, tudo isso desagrada a Deus. Como cristãos, devemos ser homens do perdão e da caridade. Muitas vezes, apontamos os erros do outro, mas temos erros piores (o caso do cisco e da trave…). Por isso, a liturgia de hoje continua a falar sobre o tema do amor e do perdão, pois o perdão e o amor ao próximo são cada vez mais necessários nos dias de hoje. Ao perdoar e amar o nosso próximo seremos testemunhas de Jesus.

A primeira leitura desse domingo é do livro do Eclesiástico (Eclo 27,33-28,9). O autor do livro sagrado começa dizendo uma coisa muito importante para cada um de nós, e que todos devemos evitar ter esses sentimentos. Não podemos guardar em nosso coração sentimentos de raiva e rancor, pois até o pecador procura evitar esses sentimentos. Antes de tudo, devemos procurar nos reconciliar com a pessoa que de certo modo brigamos e nos reconciliar com ela para não guardarmos em nosso coração esses sentimentos. Os desejos de vingança corroem a vida de quem deixa-se dominar por eles.

Se guardamos em nosso coração esses sentimentos, viveremos como se estivéssemos carregando peso, um fardo pesado. Peçamos em nossos momentos de oração, a luz do Espírito Santo para nos libertar desses sentimentos. O único sentimento que o Cristão deve trazer em seu coração é o amor. Vale lembrar ainda, e o autor Sagrado diz isso nesse texto, que se pedimos o perdão dos nossos pecados a Deus, devemos de igual modo perdoar o nosso próximo.

O salmo responsorial é o 102(103), que diz em seu refrão: “O Senhor é bondoso e compassivo; bondoso, compassivo e carinhoso”. O salmo segue a linha de pensamento da liturgia de hoje e diz que o Senhor é bondoso e compassivo. Ele não fica olhando o tamanho de nossas faltas ou pecados, mas antes de tudo perdoa todos eles. Deus não se alegra com a morte do pecador, mas que ele mude de vida e viva.

A segunda leitura é da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 14,7-9). Paulo diz à comunidade dos romanos que todos nós pertencemos ao Senhor, inclusive vivos ou mortos, ou seja, Deus nos deu a vida e somente Ele tem o poder de tirar a nossa vida, ninguém tem o direito de tirar a sua própria vida ou tirar a vida do outro.

E, ainda, se pertencemos de fato ao Senhor, temos que ter em nós os mesmos sentimentos do Senhor, ou seja, perdoarmo-nos mutuamente e irradiar o mundo com o perdão e o amor que vem do Senhor.

O Evangelho deste domingo é de Mateus (Mt 18,21-35). Pedro se aproxima de Jesus e pergunta: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18,21). Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,22).

Meus irmãos, com essa resposta, Jesus quer dizer que o perdão é infinito, ou seja, não importa quantas vezes o meu irmão pecar contra mim, devo sempre perdoar. Pois Deus sempre está disposto a nos perdoar, não importa quantas vezes por dia nós pecamos, Deus sempre está pronto a nos perdoar.

Jesus conclui esse Evangelho contando uma parábola, para que por meio dessa parábola os discípulos pudessem entender a necessidade do perdão. O rei saiu para acertar as contas com seus empregados, quando saiu levaram-lhe um homem que lhe devia uma enorme fortuna, como ele não tinha com o que pagar a dívida, o rei mandou que ele fosse vendido como escravo junto com a sua família. O empregado suplicou ao rei para que lhe desse mais um prazo e lhe pagaria tudo o que devia. O rei então se compadeceu da súplica do empregado e lhe perdoou a dívida impagável.

Ao sair dali aquele empregado encontrou um companheiro que lhe devia apenas cem moedas. Ele agarrou esse companheiro e começando a sufocá-lo disse: “Paga o que me deves” (Mt 18, 28). O companheiro caiu aos seus pés e disse: “Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo” (Mt 18,29). O empregado não quis saber disso e mandou que esse companheiro fosse jogado na prisão até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os empregados contaram ao rei a atitude do empregado. Então, o rei o chamou e disse: “Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. (Mt 18, 32-34).

Essa parábola que Jesus conta aos discípulos e a nós hoje, nos ensina que se pedimos perdão a Deus de nossos pecados e Ele sempre nos perdoa, devemos ter a mesma atitude com o nosso próximo, pois se queremos o perdão para nós, devemos desejar o mesmo para o próximo. Recordemos a oração Pai Nosso…perdoai-nos…assim como perdoamos.

Celebremos com alegria esse 24º Domingo do Tempo Comum e peçamos ao Espirito Santo o dom de perdoar de coração o nosso próximo, para podermos adentrar ao reino dos céus.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ