A Solenidade de Pentecostes para nós é um marco do qual vemos o surgimento da Igreja que é sustentada e animada pelo Dom e pela Força do Espírito Santo. A palavra Pentecostes vem do grego, pentekosté, é o qüinquagésimo dia após a Páscoa. Comemoramos nesta solenidade o envio do Espírito Santo à Igreja. A partir da Ascensão de Cristo, os discípulos e a comunidade não tinham mais a presença física do Mestre. Em cumprimento à promessa de Jesus: “quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho” (Jo 15, 26-27). Dessa maneira, o Espírito foi enviado sobre os Apóstolos e Cristo está presente na Igreja, que é continuadora da sua missão.
A origem de Pentecostes vem do Antigo Testamento, uma celebração da colheita (Ex 23, 14), dia de alegria e ação de graças, na verdade uma festa completamente agrária. Nesta festa, o povo oferecia a Deus os primeiros frutos que a terra tinha produzido. Mais tarde, tornou-se a festa da renovação da Aliança no Sinai (Ex 19, 1-16). No Novo Testamento, Pentecostes está relatado no livro dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. A pedido de Jesus para que não se afastassem de Jerusalém enquanto aguardavam a manifestação do Espírito e também como era costume, os Apóstolos, juntamente com Maria, Mãe de Jesus, estavam reunidos para a celebração do Pentecostes judaico. De acordo com o relato, durante a celebração, ouviu-se um ruído, “como se soprasse um vento impetuoso”. “Línguas de fogo” pousaram sobre os apóstolos e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas.
Pentecostes é a coroação da Páscoa de Cristo. Nele, acontece a plenificação da Páscoa, pois a vinda do Espírito sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração, na vida e na missão dos discípulos. Podemos notar a importância de Pentecostes nas palavras do Patriarca Atenágoras (1948-1972): “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos”. “Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo Ressuscitado está presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica”. O Espírito traz presente o Ressuscitado à sua Igreja e lhe garante a vida e a eficácia da missão.
Somente no Santo Espírito podemos compreender que toda a criação e toda a história são penetradas pela vida de Deus que nos vem pelo Cristo; somente no Santo Espírito podemos perceber a unidade e bondade radicais da criação que nos cerca, mesmo com tantas trevas e contradições. É o Santo Espírito, doce Consolador, que nos livra do desespero e da falta de sentido!
Nele tudo se mantém, tudo tem consistência, tudo é precioso: “Encheu-se a terra com as vossas criaturas: se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso Espírito e renascem e da terra toda a face renovais”. É por sua ação constante que tudo existe e persiste no ser. Sem ele, tudo voltaria ao nada e nada teria consistência real. Nele, tudo tem valor, até a mais simples das criaturas.
Sem ele, nada, absolutamente, podemos nós: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele!” Por isso Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer (Jo 15,5)”, porque sem o seu Espírito Santo que nos sustenta e age no mais íntimo de nós, tudo quanto fizéssemos não teria valor para o Reino dos Céus. Jesus é a videira, nós, os ramos, o Espírito é a seiva que, vinda do tronco, nos faz frutificar…
Ele é a nova Lei – não aquela inscrita sobre tábuas de pedra, mas inscrita no nosso coração (cf. Ez 11,19; Jr 31,31-34), pois “o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). A lei de Moisés, em tábuas de pedra, fora dada no Sinai em meio a relâmpagos, trovões, fogo, vento e terremotos (cf. Ex 19); agora, a Nova Lei, o Santo Espírito nos vem em línguas de fogo e vento barulhento e impetuoso, para marcar o início da Nova Aliança, do Amor derramado no íntimo de nós!
Na primeira leitura (cf. At 2,1-11) encontramos a certeza fundamental dessa Solenidade: Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar. A efusão do Espírito Santo é descrita segundo o cenário do primeiro Pentecostes que a assembleia de Israel. Realiza-se assim o prometido batismo do Espírito (cf. Lc 3,16). A forma de pequenas chamas é aqui posta em relação com o dom das línguas. O acorrer das pessoas de todas as nações quer indicar a força unificadora do Divino Espírito Santo, que reconstrói a unidade perdida em Babel (cf. Gn 11,1-11) e prenuncia a missão universal da Igreja.
Na segunda leitura (cf. 1Cor 12,3b-7.12-13) fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo. A unidade foi reconstruída (1ª. Leitura) – não é uniformidade. O sinal da unidade é dado pelo fato de termos sido todos batizados ou dessedentados num só Espírito; de que o Espírito anula, no batismo, toda distinção racial ou social e de que todos os batizados creem, mediante o mesmo Espírito, que Jesus é o Senhor! O sinal do pluralismo é a riqueza e a variedade dos dons, que bem longe de romper a unidade, a consolidam; de fato, os dons são concedidos para a utilidade de todos, para a edificação da Igreja.
No Evangelho (cf. Jo 20,19-23) assim como o Pai me enviou, também eu vos envio: Recebei o Espírito Santo! A primeira efusão do Divino Espírito Santo se dá na tarde da Páscoa. O sopro de Jesus simboliza o Espírito, princípio da nova criação. O dom do Espírito Santo é sinal de missão. Na força do Espírito serão eles portadores daquela salvação que Jesus, como Cordeiro, realizou na sua paixão e que se concretiza no perdão dos pecados e no dom do Espírito.
Peçamos o Dom do Espírito Santo sobre cada um de nós e sobre as nossas comunidades, pois, é o Espírito Santo nos fortalece em meio as tantas dificuldades que enfrentamos. Ilumina-nos Divino Espírito, venha insuflar o teu amor em nossos corações para que possamos ser testemunhas vossas neste mundo que tão precisa de Ti.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ