Jesus instituiu a Eucaristia e deixou-nos o exemplo de humildade lavando os pés dos próprios Apóstolos.
A liturgia da abertura do tríduo pascal na Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo.
É na Eucaristia, que é mistério da presença de Jesus, alimento e remédio para nós, pecadores, e sacrifício redentor. E Jesus torna presente este sacrifício através da celebração da sacramental da Eucaristia! O Cordeiro Pascal imolado na Páscoa dos Judeus, celebrada no Egito, dá início à libertação da escravidão vivida pelo Povo Judeu nas terras do Egito.
Na primeira leitura – Ex 12,1-8,11-14 – a Páscoa (Passagem), Deus a instituiu para celebrar a passagem libertadora de Deus pelo Egito libertando o Povo de Israel e castigando o Egito. Esta libertação preanunciava a libertação do pecado realizada por Jesus no “Tríduo Pascal”.
A segunda leitura – 1Cor 11,23-26 – na noite de Páscoa, Jesus instituiu a Eucaristia, o maior presente de Jesus para nós, pecadores: Deu-nos seu Corpo e seu Sangue como remédio de salvação por nossos pecados! Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso “quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte” (1Cor 11, 26).
São Paulo completa a representação lembrando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia.
No Evangelho – Jo 13,1-15 – Jesus instituiu a Eucaristia e deixou-nos o exemplo de humildade lavando os pés dos próprios Apóstolos. Na Eucaristia Jesus assume Sua presença na Eucaristia, torna-se alimento e remédio no sacrifício redentor. Humilhação infinita e prova de amor infinito em nosso favor! Somos salvos pelo amor infinito de Jesus que se pereniza na celebração da Eucaristia: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz!”
E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos. Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós – , ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal… Jesus celebrou com seus discípulos, conosco, sua família: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,” até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
O Evangelho de São João apresenta a Jesus “sabendo que o Pai pôs tudo em suas mãos, que vinha de Deus e a Deus retornava”, mas que, ante cada homem, sente tal amor que, igual como fez com os discípulos, se ajoelha e lava os seus pés, como gesto inquietante de uma acolhida inalcançável.
Esta é o entardecer que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós – , Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal… Jesus celebrou com seus discípulos, conosco, sua família: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,” até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).
A Santa Missa é também a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da sua paixão, “enquanto ceava com seus discípulos tomou pão…” (Mt 26, 26). Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos se reunissem e se recordassem d’Ele abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).
Hoje ele deixou-se ficar no Pão e no Vinho transfigurados pelo seu Espírito Santo, como sacramento do seu Corpo e Sangue, imolado e ressuscitado para ser nossa oferta ao Pai, nosso alimento no caminho e nosso penhor de ressurreição e vida eterna. Quanta gratidão, quanto reconhecimento, devem brotar do nosso coração! Seu Corpo por nós imolado, seu Sangue por nós derramado, Jesus por nós entregue – sacramento de um amor eterno, de uma entrega sem fim, de uma presença perene! Comungar hoje do Corpo e do Sangue do Senhor é não somente unir-se a ele, mas estar disposto a ir com ele até a cruz e a morte! “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Que grande mistério, esta união de vida e de morte com o nosso Senhor pela Eucaristia! Não reneguemos na vida e nas ações aquele que hoje nos convida à sua mesa e conosco celebra a sua Páscoa!
Que nestes dias, celebremos estes santos mistérios pascais com piedade, espírito de adoração profunda e profunda gratidão para com Aquele que por nós quis entregar-se às mãos dos malfeitores e sofrer o suplício da cruz. Não fiquemos indiferentes, não sejamos frios: tudo quanto celebraremos foi por nós que o Senhor instituiu e para nossa salvação que realizou! E que pela Páscoa deste 2022, ele se digne conduzir-nos à Páscoa eterna.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ