Rei? Sim, mas crucificado. Rei amoroso e justo. Diferente. Modelo. Interrogado, se de fato, era rei, Jesus respondeu: sim, Eu O sou (CfJo18,33). Rei, não com exércitos, armas, mas crucificado e ressuscitado, por isso, vencedor. Homens e mulheres o seguiram, pelos séculos: leigos(as), religiosos(as), sacerdotes, bispos, papas, médicos, filósofos, políticos, reis etc… Felizes morreram. Muitos, até como, exemplos para nós. Houve também traidores? Sim, os houve e não poucos. Infiéis? Também, até, começando por Davi e Salomão. Até Juliano, o apóstata, (sobrinho de Constantino) sentiu-se obrigado a exclamar, no fim da vida: venceste Galileu. O Galileu era Jesus Cristo.
Herodes, Dele (de Jesus) gozou e O ridicularizou. Soldados nele bateram. Pilatos, covarde demonstrou ter autoridade, afirmando: “não sabes que tenho poder, para te condenar ou libertar”? Tinha-o, mas o usou mal. Por isso, certamente, a situação se inverteu, depois, quando, ele-Pilatos-apareceu diante de Cristo: o eterno juiz. O que houve então? Não sei, mas se arrependido, esteve, ter lhe-á-dito Cristo: “vem bendito de meu Pai, meu sangue te salvou”. Pergunto, por ventura: hoje em dia, não estão soltando novos Barrabás (Mt27,15-26), prendendo novamente Cristo, ou ao menos, Cristãos? Ademais, os Cireneus, de hoje, não continuam a negar ajuda aos que precisam carregar suas cruzes e sofrimentos?
Cristo é o autor da maior e melhor, revolução que, já houve nesse mundo: a do amor, da diaconia, ou seja, do serviço. Ele mostrou que somos todos irmãos(as): brancos, negros, amarelos. Valorizou as crianças, perdoou pecadores e curou doentes. Reconheceu a dignidade das mulheres, mandou, através do evangelho, libertar escravos e olhando para o ladrão crucificado à Sua direita, disse: “ainda hoje estarás comigo no Paraíso!” (Lc23,43). Ele, Jesus Cristo, quis e quer sempre a verdadeira justiça e solidariedade.
O que, tem Ele a dizer-nos, hoje? Muito. A sua Igreja, poderá afirmar, que deveria evangelizar, mais e melhor. Ir ao encontro dos mais fragilizados, saindo, mais das sacristias, tornando-se verdadeiramente uma Igreja, em saída. Mostrando, mais amor, presença, solidariedade e serviço, tornando-se, assim verdadeiramente Mãe e Mestra, como afirma. Exigindo mais fraternidade entre os povos, mais justiça dos governantes, dos legisladores e dos intérpretes das leis. Lembrar que o Brasil é belo e rico e que os brasileiros são pobres, pois, lhes faltam chances de trabalho, de educação, de mais saúde e justiça social. Postular, certamente, mais respeito de todos e mais dignidade para todos, também, entre os cristãos.
Cristo é o Rei que precisamos, pois veio, não para impor, mas para mostrar, como ser e agir para tornar-se verdadeiros discípulos Seus. Veio servir, amando. Mostrar que ter autoridade, não é, apenas, mandar, mas fazer e exigir justiça de todos, para todos, principalmente dos grandes. Incriminaria certamente, os privilégios que levam à corrupção ou abuso do poder. Deixaria claro que o trabalho é coisa nobre e para todos, principalmente, para pequenos ou fragilizados, aos quais frequentemente falta.
Em tempo: Cuidemos com os termos “Rei e realeza”, eles não têm assepsia. Podem contagiar e infectar. Jesus somente, no fim da sua missão, aceitou ser chamado Rei: aliás seu trono foi a cruz. Dali, “atraiu todos a Si” (Jo12,32), e a partir desse ângulo, quis ser visto e seguido: “Olharão para Aquele que transpassaram” (Jo19,27).
+Carmo João Rhoden, Scj
Bispo Emérito de Taubaté-Sp
Presidente da Pró Saúde.