Continuando nosso itinerário quaresmal, celebramos neste final de semana o segundo domingo do tempo da Quaresma. Um tempo em que a Igreja nos ajuda em um grande retiro espiritual e aprofunda este tempo para refletir e pensar no amor de Jesus por todos nós. E se recorda em cada Santa Eucaristia esse ato de entrega de Jesus e, por meio dessa entrega d’Ele na cruz, nós fomos salvos.
No domingo passado, refletimos no Evangelho de São Marcos, quando Jesus movido pelo Espírito Santo foi levado ao deserto e sofreu as tentações. E Jesus nos mostrou que podemos ser fiéis ao nosso Batismo. Jesus, obediente ao Pai, mostrou como podemos ser resistentes às tentações impostas por satanás. Nesse segundo domingo da Quaresma, observaremos no Evangelho Jesus se transfigurando diante de três dos apóstolos, significando que a sua morte o levará até a glória eterna.
Assim como Jesus chama os três apóstolos a subirem ao Monte Tabor para se transfigurar diante deles, hoje Ele chama cada um de nós para fazermos a mesma experiência. O lugar sagrado que nos reunimos todos os dias para ouvir a sua palavra e partilharmos a Eucaristia é o local em que Ele se manifesta a nós, revelando a sua glória. Essa glória que participamos sacramentalmente desde o nosso batismo, que é o sinal antecipado da nossa Páscoa.
Sendo obedientes a voz que clama do céu: “Escutai o que ele diz”(Mc 9,7), acolhamos neste dia o que o Senhor quer nos falar e coloquemos em prática na nossa vida diária a Sua palavra. Esse tempo da Quaresma nos chama à conversão, e uma das maneiras de nos convertemos ao Senhor é colocando em prática a Sua Palavra.
Na Primeira Leitura (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18), Deus coloca Abraão à prova e pede que ele suba ao Monte Horeb e ofereça em holocausto o seu filho único – Isaac – a quem tanto amava. Mas o Senhor Deus intervém e não permite que Abraão sacrifique o seu filho e isso foi para provar se, de fato, Abraão amava a Deus acima de todas as coisas. E Deus promete para Abraão fazer da descendência dele muito numerosa como as estrelas do céu.
Assim como no Evangelho, Abraão sobe ao monte para oferecer o seu filho único em holocausto a Deus. E no Evangelho Jesus sobe ao monte com os apóstolos e Deus revela que seu filho único morrerá por amor à missão a qual foi chamado e depois entrará na glória eterna. E assim como Abraão, o nome de Jesus se propagou de tal maneira que os seus seguidores são mais numerosos que as estrelas do céu.
O Salmo Responsorial 115(116B), o salmista reflete que andar para sempre na presença de Deus é o melhor. Ele nos ajuda a superar os momentos de dificuldade e pede que sejamos fiéis a Ele em todos os momentos, pois sua promessa à humanidade nunca falhará.
Na Segunda Leitura (Rm 8,31b-34), Paulo diz: se Deus é por nós, quem será contra nós, ou seja, Deus não poupou seu próprio filho do sofrimento da cruz, mas o entregou em oblação por todos nós. Por isso, Deus perdoa todas as nossas faltas que cometermos contra Ele e está sempre pronto a nos acolher de volta.
O Evangelho (Mc 9,2-10), nos apresenta Jesus chamando Pedro, Tiago e João. E sobe com eles ao Monte Tabor e se transfigura diante deles. Suas roupas ficaram tão brancas e brilhantes que nenhuma lavadeira sobre a terra seria capaz de alvejar. Nisso aparecem Moisés e Elias, e eles conversavam com Jesus. Então, Simão Pedro toma a Palavra e diz: “Senhor, é bom estarmos aqui”(Mc 9,5). Vamos fazer três tendas, uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias. Pedro, assim como os outros não sabia o que dizer, pois estavam com muito medo. Desceu uma nuvem do céu que dizia: “Este é o meu filho amado, escutai o que ele diz!(Mc 9,7) E de repente, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles.
Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes que eles não contassem nada a ninguém até que Jesus tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram, mas perguntavam entre si, o que significava “ressuscitar dos mortos”.
Podemos observar alguns pontos nesse Evangelho: o primeiro é a junção do Antigo com o Novo Testamento, no encontro entre Jesus, Moises (Lei, Torá) e Elias (Profetas). O encontro da Antiga com a nova Lei e a revelação do Antigo com o Novo Testamento. O segundo ponto é que Pedro, assim como os outros apóstolos já queriam estar na glória com Jesus, não entendiam que antes de entrar na glória, era necessário passar pelo sofrimento, pelas incompreensões, pela paixão e pela morte. E, por fim, o terceiro ponto é a voz que desce do céu no meio da nuvem, pedindo que os apóstolos escutem Jesus e sejam fiéis aos ensinamentos.
Celebremos com alegria esse segundo domingo da Quaresma e subamos ao monte com Jesus para adorá-lo e que possamos colocar em prática aquilo que Ele nos pede. Que durante essa Quaresma, possamos entender que é necessário passar pelo sofrimento do calvário para se chegar a glória da ressurreição.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ