No tempo do Advento, tempo de espera e de vigilância, a consciência de que o Menino Deus, sol nascente que nos veio visitar (cf. Lc 1,78), e que permitiu-se ser cuidado na fragilidade de uma criança, também nos convida a cuidar uns dos outros. É preciso cuidar do anúncio da Palavra; cuidar dos pobres e cuidar da comunidade.
Desde 1998, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – realiza no tempo do Advento a Campanha para a Evangelização, que completa 21 anos agora, tendo sido aprovada pela 35ª. Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1997. Neste ano tem como Tema Cuidar, com os aprofundamentos: “Eu cuido do anúncio da Palavra, dos pobres e da comunidade” e o lema: “Cuida dele” (cf. Lc 10,35).
O objetivo da Campanha para a Evangelização é a motivação para que todos os fiéis possam participarem efetivamente da missão da Igreja por meio do testemunho de vida, de ações pastorais específicas e da garantia de recursos financeiros para a ação evangelizadora e pastoral da Igreja no Brasil.
Urge uma conscientização sobre a importância do compromisso evangelizador que deve ser assumido por cada cristão e o despertar para a corresponsabilidade pelo sustento das atividades pastorais da Igreja Católica no Brasil. Assim, a Campanha para a Evangelização procura responder também a esta necessidade. A evangelização no Brasil, apesar das numerosas comunidades e dos muitos fiéis que são católicos, infelizmente ainda depende de contribuições das Igrejas da América do Norte e da Europa. Devemos ter consciência de nossa responsabilidade para com a evangelização e a nossa solidariedade para com as dioceses e paróquias com poucos recursos.
Um dos pontos altos da Campanha é a coleta realizada nas missas e celebrações do 3º domingo do Advento. A distribuição dos recursos é feita da seguinte forma: 45% permanecem na própria diocese; 20% são encaminhados para os regionais da CNBB; e os demais 35% para a CNBB Nacional. Esse fundo é utilizado para a evangelização e seus projetos.
A palavra que nos acompanhará como lema é “Cuida dele”. Retirada da parábola do Bom Samaritano, narrada no Evangelho de Lucas, é o lema que anima a Campanha para a Evangelização deste ano. A perspectiva do cuidado está presente já na marca da campanha, que remete à parábola do Bom Samaritano. O cartaz destaca as três dimensões indicadas a partir das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (cf. DGAE 2019-2023). Anúncio da Palavra, os pobres e a comunidade estão estreitamente relacionados aos pilares que as diretrizes estabelecem como figura da comunidade eclesial missionária.
É nossa vocação anunciar a Palavra como missionários para promover a paz, superar a violência, construir pontes em lugar de muros, oferecer a misericórdia de Jesus e reacender a luz da esperança para vencer o desânimo e as indiferenças. O mundo espera de nós o testemunho da fraternidade e da solidariedade pela evangélica opção preferencial pelos pobres, contribuindo na construção da sociedade sobre os valores do Evangelho. A Igreja se volta ao seu Senhor para compreender a realidade e discernir caminhos; Ele se faz presente, caminha conosco.
A Campanha para a Evangelização visa cuidar do outro. O bom samaritano, na verdade, o bom cristão, é aquele do perdão, da misericórdia para quem o feriu, para quem o machucou, para aquele que, em alguma situação de sua vida, lhe fez mal. A resposta dele é diferente [o bom samaritano]. Ele usa do bálsamo, da misericórdia divina e gasta o “algo a mais”, gasta de si próprio, do seu tempo, do seu dinheiro, da sua disposição, seja do que for, para cuidar daquele que o feriu.
Somos convocados pelo Senhor a amar o nosso próximo como a nós mesmos. A Palavra do Evangelho é claríssima: o próximo “é aquele que usou de misericórdia para com ele”. A misericórdia, então, é o sinal para que nós sejamos “o próximo” de alguém. Agir com misericórdia é fazê-lo por amor a Deus e acolher a miséria do outro com o mesmo amor de Deus e não somente com o nosso amor imperfeito e interesseiro.
Para cuidar do outro a Igreja precisa de recursos, precisa de sua generosa doação na coleta deste final de semana. A nossa doação na Campanha deste final de semana se insere dentro do contexto da urgência da missão. Em sintonia com o chamado missionário das igrejas na América Latina e no Caribe, a Igreja no Brasil assume um estado permanente de missão. A missão é chamada a ser a alma de toda sua vida e atividade, embora se definam alguns momentos mais fortes a ser assumidos em comum. É a passagem de uma pastoral de mera manutenção para uma pastoral missionária de presença evangelizadora. A essa missão, nossas igrejas são chamadas a se converter. O Papa Emérito Bento XVI assinalou que, “nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” (cf. DAp 213). A conversão pastoral é um chamado à alegria e ao entusiasmo de uma Igreja jovem, aberta ao Espírito, disposta a caminhar na esperança, anunciando e construindo o reino de Deus. Por isso sejamos generosos e ajudemos a cuidar do outro evangelizando com a nossa doação generosa. Cuidemos dos outros, dos que mais precisam, dos que necessitam da nossa compaixão, da nossa misericórdia, da nossa ajuda pessoal! Deus lhes pague!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ