Sócrates recebeu um visitante inesperado. Um jovem inquieto desejava estudar com o famoso sofista Protágoras, recém-chegado à cidade de Atenas. Sócrates ficou surpreso com o entusiasmo do jovem e quis ajudá-lo a refletir. Você conhece a pessoa a quem você vai entregar sua alma, a quem você vai pagar para lhe dar aulas e instruí-lo?
Para mostrar a importância dessas questões, Sócrates deu um exemplo: Se você vai ao mercado e não sabe se a comida é boa, pode levar para casa em um pacote e depois perguntar aos seus parentes ou a um especialista se é de qualidade ou se é bom, é melhor não comê-los. Por outro lado, se você vai a uma conferência e paga para ouvir alguém que não conhece, o que você recebe fica na sua alma e ninguém pode tirar de lá, sejam verdades valiosas ou mentiras cheias de veneno.
Essas ideias, oferecidas por Platão no início de um de seus Diálogos, nos colocam diante de um tema importante. Vivemos em um mundo em que a informação chega de todos os lados. Na imprensa e na televisão, no rádio e na Internet: milhares de notícias, editoriais, programas informativos, leituras, estão à nossa disposição.
Hoje posso encontrar um texto sobre as melhores maneiras de perder peso. E talvez amanhã eu me encontre com a surpresa de estar seguindo uma dieta muito perigosa para minha saúde. Amanhã ouço que Fulano é um personagem que roubou muito dinheiro de sua empresa. Dois dias depois eles negam a notícia, mas eu não descubro e um ódio intenso por Fulano de Tal nasceu em meu coração. Depois de amanhã vejo um programa de televisão em que me dizem que acabaram de encontrar o túmulo onde Jesus de Nazaré está sepultado. Algumas horas depois, descobre-se que a notícia é uma das muitas montagens cheias de suspeitas e vazias de provas, mas em mais de um espectador a dúvida permaneceu em seus corações.
A pergunta de Sócrates é muito séria: me importo com o alimento que dou à minha alma? A quem dou o “passe” para formar e informar minha inteligência e meus sentimentos? É fácil encontrar pessoas que passam várias horas por semana assistindo novelas cheias de vazios ou temas mais ou menos divertidos, enquanto não encontram tempo para ler livros sérios e bem documentados sobre os temas mais importantes: vida e morte, justiça e política, filosofia e religião.
Assim, encontramo-nos com adolescentes e adultos, com jovens e idosos, cujas almas receberam uma alimentação muito pobre. Até às vezes, com pessoas que se julgam educadas porque leram livros cheios de sofismas, publicados por autores famosos mas carentes de verdadeiro sentido científico, seriedade e amor à verdade.
A pior forma de ignorância, repetiu Sócrates várias vezes, é acreditar que você sabe quando não sabe. É estar errado pensando que se tem a verdade. Não é fácil curar essa forma de ignorância, justamente porque se diz que não precisa de médico, que tem uma formação muito boa, que já sabe tudo de tudo…
Precisamos muito de um novo Sócrates para remover nossas falsas seguranças, para nos tirar de nossa preguiça, para nos levar a buscar a verdade sem medo. Mesmo que seja preciso desligar televisores cheios de imagens mais ou menos atraentes e vazios de conteúdo valioso. Mesmo que seja preciso investir menos em romances da moda e mais em livros sérios e verdadeiramente educativos.
Se me preocupo em comer alimentos saudáveis e seguir uma alimentação balanceada, também preciso me preocupar com a comida que chega à minha alma. Para ter boa saúde, para não me deixar enganar por idéias lançadas ao ar para manipular corações, aprender a pensar não por impressões, mas por verdades.
Esta é a melhor maneira de alimentar a alma enquanto vivemos aqui nesta terra fugaz e emocionante. E, sobretudo, esta é a melhor maneira de caminhar para a vida eterna com a ajuda daquelas verdades que permitem entrar naquele céu onde só são admitidos aqueles que viveram na busca contínua da justiça, do amor e da verdade.