O homem inteiro, todos os seus talentos e habilidades, todos os seus conhecimentos e habilidades adquiridos, e tudo o que ele desenvolveu durante sua vida, se ele transfere tudo para satisfazer sua paternidade. “Assim, também se revela, profundamente, o mistério da masculinidade do homem, isto é, o significado gerador e ‘paterno’ do seu corpo” (São João Paulo II, Teologia do Corpo, catequese nº 120).
O pregador oficial da Casa Pontifícia, o Cardeal Raniero Cantalamessa, OfmCap, nos dá uma compreensão mais profunda da paternidade ao nos dizer que a coisa mais próxima do amor de Deus neste mundo é o amor do homem que pai e filho compartilham. Ele descreve seu pai da seguinte maneira: “O pai deseja que seu filho cresça e amadureça plenamente”.
Quando olhamos para a Sagrada Escritura, Antigo e Novo Testamentos, entendemos como nosso Pai Celestial nos incentiva e nos faz crescer. Deus chama seu profeta, nos conduz às aventuras, às provações da vida e sempre nos envia ao desconhecido, permitindo que cruzemos barreiras. Ele prestou muita atenção a Moisés quando o Mar Vermelho se abriu (Ex 1,21 e segs.). Ele pediu a Abraão que deixasse sua terra e fosse ao lugar que ele ofereceu (Gênesis 12, 1) e disse, repetidamente: “Não tenha medo, eu o ajudarei. Muitas vezes encorajou seu povo.” (Gênesis 50,21: Ex. 1,13).
A partir de agora, o Pai na Terra será convidado a se tornar a imagem do Pai no Céu. É fácil ver um pai ensinando seu filho a andar de bicicleta. Pelo menos ele primeiro desafiará seu filho a se equilibrar sem rodas.
O mundo, no entanto, está carente de paternidade. Vemos muitos pais ausentes; uns por não assumirem a paternidade; outros, a grande maioria, subtraídos dos lares pelo trabalho. Infelizmente, muitos outros que recusam a paternidade por não desejarem nem sequer um filho.
Os jovens costumam ter roupas de grife e aparelhos digitais de última geração, mas não mencionam a vida por causa da falta de palavras amorosas. Na presença do pai, eles estão na essência e na afeição que esconde o terno vazio em seu coração.
Pais, seus filhos necessitam muito mais de seus ensinamentos de vida, transmitidos por meio de brincadeiras e ocasiões em que puderem estar juntos, do que coisas que seu dinheiro possa lhes comprar.
Uma vez ouvi: “O filho que recebe todo dinheiro do mundo vai gastá-lo até passar necessidade. O filho que recebe todo amor conquistará o mundo inteiro”. Pai, dê seu carinho, seu amor e tempo. Seus filhos merecem ter tudo o que você é.
Uma dimensão que precisa ser refletida nestes dias é a importância dos pais na educação religiosa dos filhos. E o Catecismo da Igreja Católica também nos ensina que “Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos na fé, na oração e em todas as virtudes (são os primeiros Catequistas). Têm o dever de prover, na medida do possível, às necessidades físicas e espirituais de seus filhos” (n.2252). E ainda nos diz que: a família é “a Igreja doméstica” onde os filhos de Deus aprendem a orar e a perseverar na oração (cf.n. 2685).
São Paulo nos ensina que “a fé entra pelo ouvido”, quando nos diz: “E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue?” (Romanos 10,14). Logo, será no dia a dia, ouvindo os ensinamentos cristãos dos pais que os filhos vão sendo doutrinados na fé. E com o passar dos dias, no seio da família, aprenderão a crer em Deus e a respeitar tudo o que é sagrado.
O modelo de pai é São José, e estamos no Ano de São José. Os Sumos Pontífices, em todos os tempos difíceis, pediram aos fiéis que recorressem a São José; hoje, mais do que nunca, é preciso dizer: São José, valei-nos! Falando de São José, São João Paulo II, na Exortação Apostólica Redemptoris Custos (o protetor do Redentor), de 15 de agosto de 1989, disse: “Assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo Místico, a Igreja” (nº 1). “Hoje ainda temos motivos que perduram para recomendar a todos e cada um dos homens a São José (nº 31). José é como alguém disse: “o servo que faz muito sem dizer nada”; o especial agente secreto de Deus. Ele é o mestre da oração e da contemplação, da obediência e da fé. São José viveu o que ensinou João Batista: “É preciso que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).
Por tudo isso, o Papa Francisco instituiu a Ano de São José, nestes tempos difíceis do mundo e da Igreja, onde ela é atacada de muitas formas e os seus filhos perseguidos em todo o mundo. A Carta apostólica do Papa fala da pandemia da Covid-19, que nos fez compreender a importância das pessoas comuns, aquelas que, distantes dos holofotes, exercitam todos os dias paciência e infundem esperança, semeando corresponsabilidade. Justamente como São José, “o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida”.
Peçamos a São José que abençoe os pais na sua missão de esposos e de educadores de suas famílias. Que Deus em sua infinita bondade e misericórdia, proteja e cuide de cada pai e cada lar que ele é responsável.
Feliz e santo Dia dos Pais!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ