Estamos celebrando no terceiro domingo do tempo comum o Domingo da Palavra de Deus. Com o Motu Proprio “Aperuit illis”, o Santo Padre estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”.
Com esse documento, o Santo Padre estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”. O Motu Proprio foi publicado no dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo, início dos 1.600 anos da morte do conhecido tradutor da Bíblia em latim que afirmava: “A ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.
O Santo Padre Francisco estabeleceu que seja celebrado sempre no 3º Domingo do Tempo Comum do Ano Litúrgico que é próximo ao Dia do diálogo entre Judeus e Católicos e da Semana de Oração pela Unidade de Cristãos. Obviamente não é uma simples coincidência temporal, mas uma escolha que pretende marcar mais um passo no diálogo ecumênico, colocando a Palavra de Deus no coração do compromisso que os cristãos são chamados a realizar diariamente a busca daquilo que nos une.
O logotipo do Domingo da Palavra de Deus que representa uma cena bíblica muito conhecida: o caminho dos discípulos ao povoado de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) em um certo momento Jesus Ressuscitado se aproxima. O ícone evidencia múltiplos aspectos que convergem sobre o Domingo da Palavra de Deus. Pode-se notar, primeiramente, os personagens. Junto com Cristo que tem nas mãos o “rolo do Livro”, isto é, a Sagrada Escritura que se realiza na sua pessoa, há dois discípulos: Cleófas, como descreve Lucas e, segundo alguns exegetas, sua esposa. Os rostos dos dois discípulos estão dirigidos ao Senhor para afirmar que Ele é a realização das promessas antigas e a Palavra viva que deve ser anunciada ao mundo.
Jesus abre as mentes para a compreensão das Escrituras. Por isso o Papa Francisco explica que a instituição do Domingo da Palavra de Deus quer responder aos muitos pedidos dos fiéis para que na Igreja se celebrasse o Domingo da Palavra de Deus. A carta começa com a seguinte passagem do Evangelho de Lucas (Lc 24,45): “Encontrando-se os discípulos reunidos, Jesus aparece-lhes, parte o pão com eles e abre-lhes o entendimento à compreensão das Sagradas Escrituras. Revela àqueles homens, temerosos e desiludidos, o sentido do mistério pascal, ou seja, que Ele, segundo os desígnios eternos do Pai, devia sofrer a paixão e ressuscitar dos mortos para oferecer a conversão e o perdão dos pecados; e promete o Espírito Santo que lhes dará a força para serem testemunhas deste mistério de salvação.”
Relembrando o Concílio Vaticano II “deu um grande impulso à redescoberta da Palavra de Deus com a Constituição Dogmática Dei Verbum”, e Bento XVI que convocou o Sínodo, em 2008, sobre o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” e escreveu a Exortação Apostólica Verbum Domini, que “constitui um ensinamento imprescindível para as nossas comunidades”. Nesse documento, observa, “aprofunda-se o caráter performativo da Palavra de Deus, sobretudo quando o seu caráter sacramental emerge na ação litúrgica”
O Concílio Ecumênico Vaticano II ressaltou que: “segundo a qual a Sagrada Escritura deve ser «lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita». Com Jesus Cristo, a revelação de Deus alcança a sua realização e plenitude; e, todavia, o Espírito Santo continua a sua ação. De fato, seria redutivo limitar a ação do Espírito Santo apenas à natureza divinamente inspirada da Sagrada Escritura e aos seus diversos autores. Por isso, é necessário ter confiança na ação do Espírito Santo que continua a realizar uma sua peculiar forma de inspiração, quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta de forma autêntica e quando cada fiel faz dela a sua norma espiritual.”
“O Domingo da Palavra de Deus”, sublinha o Pontífice, “situa-se num período do ano que convida a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos”: “Não é uma mera coincidência temporal: celebrar o Domingo da Palavra de Deus expressa um valor ecumênico, porque as Sagradas Escrituras indicam para aqueles que se colocam à escuta o caminho a ser percorrido para alcançar uma unidade autêntica e sólida”.
O Papa Francisco exorta que neste Domingo, “Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus (…). Neste Domingo, os Bispos poderão celebrar o rito do Leitorado ou confiar um ministério semelhante, a fim de chamar a atenção para a importância da proclamação da Palavra de Deus na liturgia. De fato, é fundamental que se faça todo o esforço possível no sentido de preparar alguns fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Palavra com uma preparação adequada (…). Os párocos poderão encontrar formas de entregar a Bíblia, ou um dos seus livros, a toda a assembleia, de modo a fazer emergir a importância de continuar na vida diária a leitura, o aprofundamento e a oração com a Sagrada Escritura, com particular referência à lectio divina”.
Os sacerdotes devem dar especial atenção para a preparação da homilia e que as suas palavras sejam iluminadas pelo exemplo de sua vida: “Os Pastores têm a grande responsabilidade de explicar e fazer compreender a todos a Sagrada Escritura (…) com uma linguagem simples e adaptada a quem escuta (…). Para muitos dos nossos fiéis, esta é a única ocasião que têm para captar a beleza da Palavra de Deus e a ver referida à sua vida diária (…). Não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas. Sobretudo a nós, pregadores, pede-se o esforço de não nos alongarmos desmesuradamente com homilias enfatuadas ou sobre assuntos não atinentes. Se nos detivermos a meditar e rezar sobre o texto sagrado, então seremos capazes de falar com o coração para chegar ao coração das pessoas que escutam”.
A Constituição Apostólica Dei Verbum que ilustra “a finalidade salvífica, a dimensão espiritual e o princípio da encarnação para a Sagrada Escritura”. “A Bíblia não é uma coletânea de livros de história nem de crônicas, mas está orientada completamente para a salvação integral da pessoa. A inegável radicação histórica dos livros contidos no texto sagrado não deve fazer esquecer esta finalidade primordial: a nossa salvação. Tudo está orientado para esta finalidade inscrita na própria natureza da Bíblia, composta como história de salvação na qual Deus fala e age para ir ao encontro de todos os homens e salvá-los do mal e da morte”.
Neste domingo da Palavra de Deus oferece uma dimensão unitária às várias iniciativas que a Igreja Católica promove no mundo, em nível local, para difundir a Palavra de Deus, dar um novo impulso à leitura bíblica no âmbito da pastoral; estabelecer mais um passo para o diálogo ecumênico; exortar os cristãos a tirar das prateleiras empoeiradas um instrumento que desperte a nossa fé.
Relembremos que os padres conciliares ensinaram que “o povo cristão sempre se alimentou da Palavra de Deus e do Corpo e Sangue de Cristo que estão depositados no altar, portanto a unidade da ação litúrgica já nos diz o quanto precisamos de um e do outro”.
Não só neste domingo, mas em todos os dias de nossa vida devemos dar espaço a Palavra de Deus; vamos ler um versículo por dia da Bíblia; vamos deixar um versículo da Bíblia em nosso celular, ao ser enviado para as pessoas pelas mídias sociais, que a Palavra de Deus ilumine a nossa vida a ser sal na terra e luz no mundo.
Como pediu o Santo Padre, a Virgem Maria que nos acompanha “no caminho do acolhimento da Palavra de Deus”. “A bem-aventurança de Maria antecede todas as bem-aventuranças pronunciadas por Jesus para os pobres, os aflitos, os mansos, os pacificadores e os que são perseguidos, porque é condição necessária para qualquer outra bem-aventurança. ”
Que neste dia da Palavra de Deus sejamos Palavra Viva de Deus para os irmãos, Amém!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ