“Dai Graças ao Senhor porque ele é bom, eterna é a sua misericórdia” (Sl 117,118)
Celebramos o segundo da Páscoa, com esta celebração encerra-se o período chamado de Oitava da Páscoa, ou seja, oito dias em que celebramos as alegrias da Páscoa. Todos os dias dessa semana foram como se fosse um único dia, foi uma Páscoa estendida, pois a alegria da Páscoa é tão grande que não pode ser celebrada em um só dia.
A partir de amanhã, continuamos com o tempo pascal, que são sete semanas ao todo, encerrando-se no domingo de Pentecostes e, após a festa de Pentecostes, retomaremos o tempo comum. Este segundo domingo da Páscoa era o Domingo in albis e hoje é conhecido como “Domingo da Divina misericórdia”, e que aqui no Regional Leste 1 (Estado do Rio de Janeiro) será dedicado também ao Dia da Reconciliação. Neste domingo acompanhamos uma das aparições de Jesus aos discípulos e uma bonita profissão de fé de Tomé, que no primeiro momento (domingo) que Jesus apareceu ele não estava com os demais apóstolos e chegou a duvidar que o Senhor havia ressuscitado. Depois, Jesus aparece novamente (domingo seguinte) e diz a Tomé: “Põe teu dedo aqui e não sejas incrédulo, mas fiel”, e Tomé responde: “Meu Senhor e meu Deus”.
Durante estes primeiros domingos do tempo pascal, acompanharemos algumas aparições de Jesus aos apóstolos, antes de voltar em definitivo ao Pai (Ascensão). Uma marca do Ressuscitado é sempre desejar a paz, a comunidade deve acolher essa paz que o Ressuscitado traz e transmitir essa paz aos demais e, ainda, para poder transmitir aos outros essa paz, precisa estar em paz com Deus.
O Domingo da Misericórdia foi instituído pelo Papa São João Paulo II, no ano 2000. A devoção à Divina Misericórdia inspira-se na tradição da Igreja sobre o tema da misericórdia e que foi difundida modernamente através dos encontros de Santa Faustina com Jesus, relatados em seu diário, na qual Cristo prometeu: “refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores”. É uma grande graça celebrarmos o Domingo da Misericórdia logo no segundo domingo da Páscoa, pois ao longo da Quaresma fomos convidados a experimentar a misericórdia do Senhor através do sacramento da reconciliação e, agora, no segundo domingo da Páscoa, rendemos graças a essa misericórdia infinita de Deus.
Na celebração deste domingo, ainda pode-se cantar a sequência pascal (Cantai, cristãos, afinal) e o ato penitencial ser feito por aspersão (fazendo memória do nosso batismo). A celebração deve ser festiva, e como durante todo o tempo pascal, a cor predominante deve ser obrigatoriamente branca. Ao longo de todo o ano litúrgico devemos centrar toda a nossa atenção em Cristo e no mistério pascal que se renova em toda missa.
A primeira leitura deste domingo é do livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47). Durante o tempo da Páscoa, todas leituras serão do Novo Testamento, sendo que a primeira leitura sempre será do livro dos Atos dos Apóstolos, pois marca o início da Igreja. No trecho de hoje, os apóstolos constataram um aumento do número dos seguidores de Jesus e a Igreja ia crescendo. Eles eram perseverantes e atentos aos ensinamentos dos apóstolos e colocavam tudo o que possuíam em comum. Eles, além de partilharem o alimento “espiritual”, partilhavam o alimento “material”, essa é a verdadeira religião e o exemplo que cada um de nós deve seguir. A cada dia, o Senhor aumentava o número daqueles que eram salvos e que eram alcançados por sua misericórdia.
O salmo responsorial é o 117 (118). Esse salmo nos diz em seu refrão: “Dai graças ao Senhor porque ele é bom, eterna é a sua misericórdia”. Como nos diz o refrão do salmo, a misericórdia do Senhor é eterna, desde o Antigo Testamento até os dias de hoje. Ele perdoa toda a nossa falta e nos dirige para o caminho da justiça. Ele nunca se esquece de nós, nós que algumas vezes nos esquecemos d’Ele.
A segunda leitura é da Primeira Carta de São Pedro (1Pd 1,3-9). Pedro discursa sobre a ressurreição de Jesus e que não precisamos ver o Senhor para crer que Ele ressuscitou e que Ele ressuscitou de fato, pois, se não houvesse ressuscitado, vã seria a nossa fé. Através da ressureição de Cristo, fomos renovados para uma esperança viva, a esperança na ressurreição dos mortos e que a vida não termina aqui, mas continua na eternidade. É necessário passar por alguns sofrimentos aqui na terra para depois adentrar na glória eterna.
O Evangelho desse domingo da misericórdia é segundo João (Jo 20,19-31). Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, ou seja, era um domingo, dia da ressurreição, dia do Senhor. Um dia em que a comunidade se reúne em torno da mesa da palavra e da eucaristia para celebrar a Ressurreição do Senhor. As portas do local onde os discípulos se encontravam estavam fechadas, por causa do medo que eles tinham dos judeus. Eles tinham medo de que acontecesse com eles o mesmo que aconteceu com Jesus. O medo nos aprisiona, nos faz ficar parados, como os apóstolos estavam. Porém, não podemos ficar parados diante do medo, temos que enfrentá-lo e com a ajuda de Deus e do Espírito Santo vencer esse medo. Não podemos ter medo de anunciar a palavra de Deus, ainda mais nos dias de hoje, em que as pessoas estão tão sedentas da palavra.
Jesus entra e, pondo-se no meio deles, diz: “A paz esteja convosco”. Essa paz que o ressuscitado anuncia tem que ser acolhida pelos membros da comunidade e é necessário estar em paz com Deus e com outros membros da comunidade. Depois dessas palavras, Jesus mostra as mãos e o lado, os discípulos alegram-se por ver o Senhor. Jesus, novamente, anuncia-lhes a paz. Jesus envia os discípulos em missão, e os incentiva a superar o medo e sair para anunciar o Reino de Deus. Jesus dá poder para os discípulos perdoar os pecados daqueles que tiverem cometido pecado, dessa forma ia surgindo a Igreja primitiva.
Tomé, chamado “dídimo”, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. Os discípulos contaram-lhe depois. Tomé não acreditou e disse que só acreditava se visse Jesus e tocasse em suas mãos e no seu lado. Novamente, oito dias depois, Jesus aparece e Tomé estava com os discípulos. Jesus anuncia-lhes a paz e diz a Tomé para pôr a mão no seu lado e olhar as suas mãos. E diz ainda para ele não ser incrédulo, mas fiel. Tomé responde com uma bela exclamação de fé: “Meu Senhor e meu Deus”.
Jesus responde para Tomé: “acreditaste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto”. Bem-aventurados somos nós que acreditamos sem precisar ver, temos o testemunho dos apóstolos e dos evangelistas na sagrada escritura que nos dão testemunho da ressurreição. Encontramos com Ele sempre na Sagrada Eucaristia, na Palavra, nos acontecimentos e acreditamos que por meio do Espírito Santo Ele permanece vivo no meio de nós. A nossa fé nos faz acreditar que o sepulcro está vazio e Ele ressuscitou e vive eternamente ao lado de Deus.
Celebremos com alegria o domingo da misericórdia, tenhamos confiança que temos um Deus misericordioso que intercede por nós e está sempre pronto a nos acolher e perdoar. Peçamos ao Espírito Santo as luzes necessárias para continuar acreditando que Jesus continua vivo no meio de nós e que após essa passagem aqui na terra viveremos eternamente ao lado de Deus. Não tenhamos medo de anunciar a boa nova do Evangelho para conduzir muitas pessoas para Deus. Amém.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ