A passagem do Evangelho em que Jesus se esconde na região de Tiro e Sidônia nos convida a refletir sobre a profundidade de sua missão e as lições de fé que ela traz. Nesse momento de aparente isolamento, Jesus buscava refúgio após enfrentar conflitos com os líderes religiosos de Jerusalém. Contudo, mesmo tentando permanecer oculto, Ele é encontrado por uma mulher pagã, cuja fé humilde transforma esse encontro em uma poderosa demonstração de que o amor de Deus não conhece limites.
Marcos nos conduz para a região de Tiro e Sidônia, um território pagão localizado no atual Líbano. Nesse contexto, Jesus aparentemente buscava refúgio e não tinha intenções missionárias. Como descrito no Evangelho: “Ele entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava” (Mc 7, 24). Essa escolha de Jesus pode ser compreendida, sobretudo, pelo aumento dos conflitos com os doutores da Lei de Jerusalém. A ameaça à sua vida tornou necessária essa retirada estratégica.
Entretanto, o evangelista Marcos pontua que “Ele não conseguiu ficar escondido” (Mc 7, 24). Esse detalhe demonstra como a presença de Jesus transcendia qualquer barreira física ou cultural.
Jesus se esconde, mas revela sua missão ao libertar a filha da mulher pagã
Logo depois, surge uma figura que muda a dinâmica do episódio: uma mulher cuja filha estava possuída por um espírito mau. Essa mulher pagã, nascida na Fenícia da Síria, soube da presença de Jesus e foi até Ele suplicar por libertação (Mc 7, 25-26).
É importante destacar que a missão de Jesus estava intimamente ligada à libertação das pessoas, especialmente daquilo que as escravizava e alienava. Nesse contexto, a libertação da menina era um reflexo da missão confiada a Jesus pelo Pai: livrar o ser humano de todo mal.
As famosas “migalhas de pão”
A interação entre Jesus e a mulher pagã surpreende. Jesus declara: “Deixe que primeiro os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos” (Mc 7, 27). Essa afirmação reflete a visão judaica da época, segundo a qual a salvação estava destinada primeiro aos judeus.
Contudo, a resposta da mulher foi extraordinária: “É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos ficam debaixo da mesa e comem as migalhas que as crianças deixam cair” (Mc 7, 28). Essa frase não apenas demonstra humildade, mas também uma fé genuína, que rompe com qualquer preconceito.
A revelação de Jesus aos pagãos
Em resposta à fé da mulher, Jesus realiza o milagre. Ele afirma: “Por causa disso que você acaba de dizer, pode voltar para sua casa; o demônio já saiu de sua filha” (Mc 7, 29). A cura da menina demonstra que a fé, e não a origem, é o que conecta as pessoas ao amor e à salvação de Deus.
As lições do episódio
Este episódio ensina que nenhuma ação de Jesus é por acaso. A aparente humilhação diante da mulher serviu como teste e revelou uma fé autêntica. Além disso, destaca-se que o amor de Jesus não conhece fronteiras: quem crê, independentemente de sua origem, é acolhido em seu Reino.
Jesus se esconde: a universalidade da fé e do amor de Deus
Portanto, ao refletirmos sobre essa passagem em que Jesus se esconde, percebemos a universalidade da Boa Nova. Ela não se limita a culturas, crenças ou barreiras, mas alcança a todos aqueles que demonstram uma fé sincera. Esse episódio nos lembra que o amor de Deus é inclusivo e sempre encontra espaço no coração de quem acredita, independentemente de sua origem ou condição.