Quando falamos sobre vocação, é comum escutar aquela frase que diz: “Não há crise de vocações, mas crise de respostas”. E se paramos para pensar, isso é meio óbvio, porque se todos somos criados por Deus, todos temos vocação.
O único jeito de faltar vocações é, portanto, se Deus dissesse um basta para a criação. O que essa frase realmente quer dizer é que as pessoas, chamadas às diversas vocações, não estão respondendo bem a esse chamado, que não é outro senão o chamado a ser feliz.
Parece lógico pensar que, se Deus nos chama para a felicidade, a única coisa que precisamos fazer é acolher e viver esse chamado. Dessa forma, todos seríamos felizes. Mas, se olharmos para o lado, veremos que as coisas não são assim. Vemos pessoas infelizes, sem rumo, apostando a vida por outras coisas que não trazem a realização almejada. E, muitas vezes, essas pessoas infelizes somos nós mesmos. Se é tão lógico ser feliz respondendo ao chamado de Deus, porque é tão difícil assim entregar nossa vida a Ele?
Somos de uma época que ‘vende’ um ideal de felicidade que é o extremo oposto do ideal de felicidade que nos propõe Jesus em seu Evangelho, em sua Boa Nova. Conseguiram fazer com que esse desejo autêntico de viver uma vida plena se desvirtuasse em uma busca pelo prazer, pelo ter e pelo poder. Isso não é algo novo; as concupiscências estão claramente demarcadas nos Evangelhos, mas em nossa época essa desvirtuação parece tomar enormes proporções.
Talvez seja apenas o nosso ponto de vista (quando olhamos uma coisa muito de perto, ela parece maior do que é), mas não podemos negar que a felicidade que nos propõe Jesus é radicalmente diferente daquela que o mundo nos propõe.
Poderíamos resumir em uma vida nova. A vida cristã. Mas para que fique ainda mais claro, podemos abrir nossas bíblias no capítulo 5 de São Mateus e ler as bem-aventuranças. Esse é o programa de felicidade de Jesus. E se as lermos com um pouco de atenção, veremos que realmente não se ligam com a felicidade do mundo.
Nelas, Jesus proclama: bem-aventurados os pobres, os mansos, os puros, os que choram, os perseguidos, os que promovem a paz e os que tem fome e sede de justiça… Realmente não é exatamente o que vemos exposto nas propagandas do mundo, que nos vende outra felicidade.
Por isso é tão difícil responder à nossa vocação. Porque optar por Jesus significa, necessariamente, morrer. Morrer para tudo aquilo que nos faz menos pessoas, que diminui nossa dignidade, que nos faz viver iludidos e perdidos. Mas, porque estamos tão apegados a essa vida antiga, morrer nos custa muito e não é exatamente agradável. Por isso ficamos muito tempo com um pé em Jesus e o outro no mundo, fazendo joguinhos do tipo: “Até onde posso ser mundano sem deixar de ser cristão”.
Às vezes, nós até sabemos o que temos que fazer, mas simplesmente não conseguimos fazer ainda. Mas até que não nos lancemos nos braços de Deus com toda confiança, não conseguiremos responder nossa vocação, seja ela qual for. Para que o grão possa dar frutos, ele precisa morrer.
João Antônio Johas Leão