“Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?” (cf. Lc 6,41)
A Liturgia do Oitavo Domingo do Tempo Comum, nos propõe a reflexão sobre o que se encontra dentro do nosso coração e que, de fato, é aquilo que pregamos ou, até mesmo, julgamos o próximo, através da (pseudo) moralidade, mas deixamos de vivenciar estas mesmas ações em nossas vidas. Em que um ditado popular seria bem conveniente: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
O Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), Jesus adverte aos seus discípulos sobre a hipocrisia daqueles que querem julgar e apontar os irmãos, mas esquecem de olhar para si e refletir sobre o que se passa dentro do seu coração. Ora, aquele que se acha no direito de julgar o irmão, no mínimo deve ser íntegro em todas as ações, afinal “como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (cf Lc 6,42). Por isto, é de suma importância para o Cristão inclinar o seu coração para retidão e a justiça, buscando a cada dia render bons frutos na vida. “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio” (cf. Lc 6,45).
A Primeira Leitura, retirada do Livro do Eclesiástico [Eclo 27,5-8(gr.4-7)], segue a mesma linha de raciocínio que não devemos creditar alguém somente pelas ações e atitudes de pseudomoralidade, pois não sabemos o que de fato passa pelo coração desta pessoa sem antes ouvir o que ela fala. Pois, “o fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela” (cf. Eclo 27,7-8).
A Segunda Leitura extraída da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,54-58), embora se distancie da temática central das demais leituras, ela é demonstra o resultado daqueles que buscam distanciar das ações da hipocrisia e corruptíveis que o coração possa vivenciar. Paulo exorta a comunidade de Coríntio em permanecer firmes em vivenciar as obras de Deus, alcançando a graça através das obras do Senho. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor” (cf. 1Cor 15,58).
Vivificados pela Liturgia de Domingo que busquemos atrelar os nossos corações a verdadeira justiça e, principalmente, libertando-nos de todas as traves que possam cegar as ações que tomamos e nas palavras que proferimos, tendo a justiça a base para execução de qualquer atitude que temos. Afinal, “o justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão” (cf. Sl 91,13-14).
Saudações em Cristo!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG