Curso 01 Aula 22 – Em Cristo todos são irmãos

Material para catequese
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23- CARTA A FILEMON: EM CRISTO TODOS SÃO IRMÃOS (Carta inteira)

Uma carta enigmática-: a mais breve – e também a mais pessoal – das cartas de Paulo levanta muitas questões. Algumas dessas questões são objeto de estudo e talvez sejam respondidas dentro de algum tempo; outras jamais serão solucionadas. Por isso mesmo, a carta a Filemon permanece obscura em muitos pontos.

Quem era Filemon?-: pela carta (quase um bilhete) que Paulo escreveu de próprio punho a Filemon, sabemos que ele era um cristão que possuía um escravo chamado Onésimo. Este escravo, que não era cristão, fugiu e por circunstâncias desconhecidas, acabou indo buscar a proteção de Paulo, que estava preso, mas gozava de relativa liberdade na prisão (isso mudou bastante posteriormente, como já vimos).
Paulo converteu Onésimo ao cristianismo e decidiu devolvê-lo a Filemon, pedindo-lhe que o receba como irmão. Paulo usa a conversão do escravo como argumento para que Onésimo seja bem acolhido, dizendo a Filemon: “É claro que não preciso lembrar-lhe de que também você me deve a sua própria vida (v. 19)”. Isso prova que também Filemon havia sido convertido por Paulo.
Filemon morava, ao que tudo indica, em Colossas. A carta escrita aos colossenses (Col 4, 7 – 9) diz o seguinte: “O querido irmão Tíquico, ministro fiel e companheiro no Senhor, dará a vocês todas as informações a meu respeito. É com essa finalidade que eu o envio, para animá-los e para que saibam de tudo a nosso respeito. Com ele vai Onésimo, nosso querido e fiel irmão, que pertence ao grupo de vocês. Eles contarão tudo que está acontecendo por aqui”. Não se fala de Filemon na carta aos colossenses. Pertencia ele a essa comunidade? A carta a Filemon afirma que na casa dele se reunia uma comunidade. Seria a mesma que recebeu a carta aos colossenses? Parece que não.
Estudos recentes mostram que em Colossas existiam pelo menos duas comunidades cristãs: aquela que recebeu a carta aos colossenses e outra que se reunia na casa de Filemon. O fato de que Filemon recebia uma comunidade em sua casa, somado a outro fato, que indicava que ele possuía escravos, mostra que Filemon era um homem de posses, com bom padrão de vida. Na carta (bilhete) a ele escrita, Paulo o chama de “koinonós” (koinonos) , palavra grega que quer dizer “sócio em alguma coisa” e que era a designação respeitosa devida àqueles que sustentavam com dinheiro um empreendimento de qualquer natureza. Portanto, é possível que Filemon arcasse com parte das despesas de Paulo com vistas à evangelização.

Uma quebra de sistema?-: Filemon era, portanto, uma pessoa importante de Colossas. Estaria ele ligado à política? Como, geralmente, os ricos também eram os donos do poder econômico (isso não mudou até hoje), pode-se suspeitar que Filemon fosse, de alguma forma, ligado ao meio político.
A culpa de um escravo, fugindo de seu patrão, era punida com muito rigor naquele tempo (podia haver até mesmo crucificação). Devolvendo Onésimo a Filemon, Paulo rompe ousadamente com o sistema social, pedindo ao dono que receba o escravo fugido e o acolha como irmão. Note-se que o Apóstolo não pediu a Filemon que desse ao escravo a liberdade (seria, talvez, pedir demais), mas que o “acolhesse como irmão”, o que era obrigatório entre os cristãos. De qualquer forma, como Paulo chama Onésimo de “querido e fiel irmão” e indica que ele pertence à comunidade de Colossas, como vimos acima, parece que Filemon o recebeu bem e pode até mesmo, quem sabe, ter-lhe dado a liberdade.

Novas relações a partir do Evangelho-: a carta a Filemon presta-se muito bem para que notemos o aprofundamento do amor cristão e da solidariedade geradas pelo anúncio do Evangelho. Pode-se afirmar que a pessoa de Jesus Cristo é o eixo em torno do qual as pessoas convertidas adquirem um novo sentido para suas vidas. Vale a pena ler a breve carta (apenas um capítulo de 25 versículos) e ver quantas vezes Jesus é mencionado. Esse novo sentido da vida leva os cristãos a aceitarem a premissa de que ninguém é maior que os outros.
Paulo mostra isso muito bem. Nesta carta ele não se denomina apóstolo, como faz em outras. Esse título de apóstolo o colocaria hierarquicamente acima de Filemon e de toda a sua comunidade, e Paulo não quer isso nesse momento. Desta forma, ele inicia a breve carta dizendo “Paulo, prisioneiro em Cristo Jesus” e chama Filemon de “colaborador” e de “irmão na fé”.

A humildade de Paulo-: como se nota desde o início, Paulo escreveu a Filemon principalmente para livrar o escravo Onésimo das penas que lhe seriam certamente aplicadas pela sua fuga. Embora podendo, não procura ordenar que Filemon perdoe o escravo, mas humildemente escreve: “Tenho toda a liberdade em Cristo para ordenar o que você deve fazer, mas prefiro pedir por amor. Quem lhe faz esse pedido sou eu, o velho Paulo, agora também prisioneiro por Jesus Cristo. Peço-lhe em favor de Onésimo, o filho que eu gerei na prisão” (vv. 8 – 10). Essa é a humildade que se requer dos cristãos.
Paulo não parou por aí. Continuou a interceder por Onésimo, escrevendo: “Se Onésimo lhe deu algum prejuízo ou deve a você alguma coisa, ponha isso na minha conta. Eu, Paulo, escrevo com minha própria mão: eu pagarei…É claro que não preciso lembrar-lhe de que você também me deve a sua própria vida. Sim, irmão, deixe que eu abuse de sua bondade no Senhor. Conforte, em Cristo, meu coração”(vv. 18 – 20). Tudo indica que foi atendido por Filemon.
Paulo termina a carta enviando suas saudações e também de seus companheiros: Epafras, preso com ele, Marcos, Aristarco, Demas (que mais tarde o abandonou) e Lucas.