A mais sublime forma de caridade é querer bem ao outro!

caridade amor ao próximo

A caridade, palavra derivada do latim “caritas”, apresenta como definição a “ação ou resultado de fazer o bem; sentimento de fazer o bem a pessoas mais desfavorecidas do que nós; compaixão; doação ou ação de apoio aos necessitados” (TERRA, Ernani. Dicionário da Língua Portuguesa . 2.ed. São Paulo: Rideel, 2014), mas, para nós os católicos, o seu significado vai muito além disso. 

Para o catolicismo, a caridade é uma das virtudes cristãs que combate os pecados capitais e se opõe diretamente à inveja – sentimento que origina muitas más condutas nos indivíduos, distorcendo o modo como o outro é visto e gerando muitas desavenças sociais – e ao individualismo, raiz do egoísmo e da falta de empatia.

De acordo com os ensinamentos de Jesus (cf. Mt 22,34-40), devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, consistindo tal instrução na base fundamental da caridade.

Assim sendo, a caridade cristã consiste em reconhecer o próximo como irmão – haja vista que todos somos filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo – e amá-lo como tal, vivenciando esse amor por meio da palavra, mas sobretudo das ações, as quais serão movidas por esse mesmo sentimento.

O amor que impulsiona a caridade é proveniente do amor que sentimos por Deus, pois como O amamos e sabemos que Ele ama a todos da mesma maneira, devemos nos amar e nos ajudar para seguirmos a Sua Palavra e cumprirmos o Seu desejo.

Existem muitas maneiras de amar, todavia a caridade se revela como expressão do amor “ágape”, que é o amor-doação, aquele que sai de si em benefício do outro sem esperar recompensa ou reconhecimento.

A caridade se materializa em ações de auxílio e doação ao próximo, sejam elas materiais ou imateriais, revelando o amor e o cuidado para com o outro, sem julgamentos ou segundas intenções.

Muitas são as formas de praticarmos a caridade, mas para fins exemplificativos podemos resumir aquelas contidas no texto intitulado “8 maneiras de colocar em prática a Caridade”, publicado no site “Jovens de Maria”, quais sejam:

1ª) Ser guiado por Deus: quando nos deixamos ser amados por Deus e escolhemos amá-Lo, esse amor transborda em ações de auxílio ao próximo;

2ª) Praticar o desapego material: devemos doar o que não usamos aos necessitados;

3ª) Praticar o desapego imaterial: precisamos nos esquecer dos nossos próprios problemas, nos retirando do centro do nosso universo particular, para visualizarmos e nos sensibilizarmos com as necessidades e dificuldades alheias, doando nosso tempo e esforço para ajudá-los;

4ª) Ajudar nas pequenas coisas: a caridade não se revela somente nos grandes atos, mas também nos pequenos gestos. Ajude quem estiver ao seu redor e a caridade ali estará presente;

5ª) Ficar atento às necessidades do próximo: no dia-a-dia, preste atenção às pessoas que te cercam e auxilie quem estiver necessitando, por mais simples que seja essa ajuda;

6ª) Ter tempo para ouvir: doe seu tempo e sua atenção, pois muitos podem precisar apenas de alguém para lhes escutar;

7ª) Demonstre amor: um gesto de amor ao próximo é a expressão mais pura da caridade;

8ª) Demostre cuidado com o próximo: todos somos irmãos e devemos nos cuidar como tal.

Visto isso, podemos e devemos fazer da prática da caridade um hábito que trará muita alegria para todos que a vivenciarem e fará da sociedade um lugar melhor.

A principal forma de caridade é querer bem as pessoas. Rezar por aqueles que nos perseguem e por aqueles que nos fazem mal. Falar mal do outro, passo rumo à destruição. O Papa Francisco ensinou que Jesus diz: “Hipócrita”, que significa alguém que tem um duplo pensamento, um duplo julgamento. “Mostra-se como pessoa boa, perfeita e por trás condena. É por isso que Jesus foge dessa hipocrisia e nos aconselha: “É melhor olhar para os próprios defeitos e deixar os outros viverem em paz”. “A fofoca não termina ali: semeia discórdia, inimizade, semeia o mal”, sublinhou Francisco. O Papa Francisco disse ainda que “as guerras começam com a língua. Se você fala mal do outro, começa uma guerra. Um passo rumo à guerra, a destruição. A língua tem o poder de destruir como uma bomba atômica”.

A caridade, o querer bem ao outro é uma prova sublime do amor evangélico. “Sem meias palavras” do apóstolo é esta: “Se alguém diz que ama a Deus, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso”. João não diz que é um mal-educado ou que errou, mas que é um mentiroso, notou o Papa, e também nós devemos aprender isto: “Eu amo a Deus, rezo, entro em êxtase e tudo… e depois descarto os outros, odeio os outros ou não os amo, simplesmente, ou sou indiferente aos outros… Não diz “você errou”, mas “você é mentiroso”. E esta palavra na Bíblia é clara, porque ser mentiroso é justamente o modo de ser do diabo: é o Grande Mentiroso, nos diz o Novo Testamento, é o pai da mentira. Esta é a definição de Satanás que a Bíblia nos dá. E se você diz amar a Deus e odeia o seu irmão, você está do outro lado: é um mentiroso. Nisto não há concessões. “ Muitos podem encontrar justificativas para não amar, alguém pode dizer: “Eu não odeio, Padre, mas existem tantas pessoas que fazem mal para mim ou que não posso aceitar porque são mal-educadas ou rudes”. E o Papa comenta sublinhando a concretude do amor indicado por João quando escreve: “Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” e afirma: “Se você não é capaz de amar as pessoas, dos mais próximos aos mais distantes com quem convive, você não pode nos dizer que ama a Deus: você é um mentiroso.”

São Alberto Hurtado criou uma regra de ouro: “É bom não fazer o mal; mas é mal não fazer o bem”. O verdadeiro amor deve levar a praticar o bem (…), a sujar as mãos nas obras de amor. Vamos praticar esta virtude de caridade!

 + Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG