Estamos vivendo o tempo do Advento: tempo de espera, de vigilância, de conversão e de esperança cristã. Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os batizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.
A primeira leitura(Br 5,1-9) sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades. Jerusalém, personificada pelo profeta Baruc, deverá se despojar das roupas de dor e enfeitar-se de adornos de glória. Isso porque o Senhor é o Deus da alegria, da promessa e da paz. Nele confiamos e nele também esperamos; de modo especial no Advento de seu Filho e Senhor nosso.
Assim como o profeta lembra ao povo que os caminhos devem ser aplainados e preparados, nós também devemos preparar os nosso corações para a chegada do Redentor. É por isso que João Batista, o precursor, desempenha sua missão no Evangelho O Evangelho(Lc 3,1-6) apresenta-nos o profeta João Batista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos. João Batista convida a cada um a preparar seu coração, afastando-se do que é mau e buscando a Deus de verdade. É mais um passo que damos neste tempo do Advento, aprendendo a caminhar sob a graça do Senhor, abrindo nossas vidas para a sua chegada a fim de que possamos ver a salvação de nosso Deus.
A segunda leitura(Fl 1,4-6.8-11) chama a atenção para o fato de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem. São Paulo, neste texto, eleva uma ação de graças pelo fato de a comunidade ter acolhido o Evangelho por ele anunciado. Os cristãos de Filipos assumem como sua a causa do apóstolo. Alegria e ternura – de Paulo e da comunidade – estão bem presentes nesta carta. A sintonia entre as lideranças e a comunidade é muito importante. São Paulo também exorta os filipenses a fazer o amor crescer sempre mais entre eles.
O Senhor Jesus está próximo, por isso a necessidade de estar preparados e dispostos a preparar o caminho para uma nova humanidade, abrindo espaços de esperança e de amor para tantos sofredores necessitados no mundo de hoje. O convite da Palavra de Deus é contundente: nos convida a nos despirmos da tristeza e da aflição e cultivar os frutos da justiça em um caminho de conversão, a fim de fazermos a experiência da salvação de Deus. Vamos, neste domingo com esta bonita liturgia, preparar nossos caminhos para a chegada do Salvador, corrigindo os caminhos acidentados e tortuosos que nos impedem nosso encontro com Ele. Para isso queremos nos dispor a vestir o manto da justiça e crescer sempre mais no amor de Deus.
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG
