Uma senhora rica e idosa sofria sérios problemas de uma paralisia que limitava há anos sua mobilidade. Ouviu falar de um possível santo padre capaz de lhe devolver os movimentos. Buscou-o como último recurso e dele recebeu uma simples bênção… Simples, mas poderosa, pois esta lhe propiciou a sonhada cura. Agradecida, retornou ao padre para presenteá-lo com um valioso bracelete de ouro, uma de suas mais preciosas joias. Mas, ah! razões que desconhecem a razão! O pobre padre recusou a oferta, pois não estava ali para se locupletar com riquezas advindas da generosidade divina. Que esta preciosidade material fosse oferecida à primeira pessoa que cruzasse o caminho daquela senhora, não a ele, um simples instrumento nas mãos de Deus!
Eis então que aquela mulher se põe a caminho da vida habitual, agora caminhando com os próprios pés, mas sem entender a rejeição de sua preciosa oferta. A primeira pessoa? Quem seria? Foi quando uma senhora negra, pobre e maltrapilha, cruzou seu caminho. Seria ela? Sim… Ou não? Não poderia ser. O que aquele rascunho de gente faria com seu precioso tesouro? Algumas míseras moedas lhes seriam suficientes, fariam sua alegria momentaneamente. Em vez de lhe dar o bracelete, a velha milionária estendeu-lhe míseros 5 réis que trazia consigo. Então nova paralisia interrompeu seus passos.
Essa é uma das mais populares narrativas dos muitos milagres atribuídos ao brasileiro Pe. Donizetti Tavares de Lima, vigário da pequena Tambaú, interior de São Paulo, que agora recebe a honra da beatificação, o primeiro passo para sua possível canonização e entronização definitiva na glória dos santos e santas do Povo de Deus. O milagre de Tambaú acima descrito é um entre centenas de outros, mas cuja singularidade faz parte até do cancioneiro regional, que ousa atribuir à personagem negra daquela misteriosa mulher a presença inquestionável de Nossa Senhora Aparecida, a Mãe Morena de todos os brasileiros. Mesmo assim, o grande milagre ainda continua sendo a figura do Pe. Donizetti, mineiro de Cássia (1882), mas paulista da gema… do coração sempre sensível às carências e necessidades dos trabalhadores que o procuravam em massa apenas para ouvir sua voz e receber suas bênçãos. Tambaú o acolheu durante a maioria de seus anos pastorais, que só se encerraram aos 79 anos (1961), enquanto dormitava em uma de suas velhas cadeiras, hoje uma de suas mais preciosas relíquias, a cadeira onde morreu Pe. Donizetti!
Três são os milagres mais comuns presentes em sua vida. Três dons só atribuídos aos maiores santos da fé cristã: a levitação, a premonição e bilocação. São muitos os testemunhos de seus paroquianos quanto às ocasiões em que o viram levitar, alcançando razoáveis distâncias do solo, durante seus sermões mais arrebatadores e impregnados da graça do Espírito Santo. Muitos desses paroquianos ainda vivem e atestam esses fatos. Outros comprovam o dom da premonição como fato corrente em sua biografia, pois foi capaz de prever e anunciar muitos desastres ou acontecimentos incomuns em sua época. Mas um dos dons que mais atraiu as multidões à pequena Tambaú (chegou a três milhões de pessoas em um único mês) era a inexplicável capacidade de estar presente a vários fatos e acontecimentos ao mesmo tempo. Foi visto em várias cidades administrando sacramentos ou bênçãos num mesmo tempo e ocasião. Como se lê, Pe. Donizetti não é apenas um vigário a mais a enfeitar a crença e a devoção popular, mas uma referência do poder e glória de Deus, capaz de suscitar e premiar seu povo com a vida de seus santos e santas, bem vivos entre nós e na história que ainda escrevemos. “Não faço milagres!” – bradava às vezes perturbado o vigário de Tambaú. E vaticinava: “Quem faz os milagres é Deus”!
PS Tenho um irmão, nascido em 1954, que recebeu no batismo o nome de Donizetti, simplesmente porque meus pais, já naquela época, reconheciam a santidade deste padre.
WAGNER PEDRO MENEZES