A Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
Na primeira leitura(Dt 4,32-34.39-40), Deus revela-se como o Deus da relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira. Jamais houve um acontecimento tão grande. E qual seria ele? A presença de Deus que fala ao seu povo.
O discurso de Moisés ao povo é revelador, porque coloca o querer de Deus como norma e conduta para o povo que vem trilhando o deserto. Aquele caminho difícil foi marcado pela proximidade divina, porque Deus mesmo libertou seu povo e com ele caminhou. De um lado a outro no céu e em toda a extensão da terra, não se pode medir nem contar a extensão e a riqueza dessa presença. O Deus que libertou seu povo da escravidão no Egito, caminha com ele pelo deserto, dialoga no Sinai e lhe propõe a Terra Prometida. São os grandes feitos do Senhor, os quais o povo deve reconhecer, celebrar e comemorar, pois ele continua a caminhar com o seu povo que busca dignidade.
A segunda leitura (Rm 8,14-17) confirma a mensagem da primeira: o Deus em quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de Criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e definitiva. O Espírito Santo recebido no batismo atesta que somos filhos e filhas de Deus. A comunidade cristã é a família que tem a Deus como Pai. Como filhos e herdeiros de Deus, conduzidos pelo Divino Espírito Santo, somos chamados a testemunhar a vida em Cristo mediante a vivência dos valores do Evangelho.
No Evangelho (Mt 28,16-20), Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar, a todos os homens e mulheres, sem excepção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária.
O Evangelho de Mateus conclui com a aparição de Jesus, que se despede dos seus. A Galileia é o cenário onde o Mestre iniciou e concluiu a sua missão. Nessa aparição, o Ressuscitado se apresenta com toda a autoridade e convoca discípulos e discípulas para serem suas testemunhas.
A inclusão de novos membros na comunidade-Igreja se realiza mediante o batismo em nome da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. A missão dos discípulos, reunidos novamente com o Mestre no Monte da Galileia, deverão contar às nações. Em sua vida e anúncio, deverão mostrar como o Ressuscitado doou sua vida para que a humanidade pudesse ser salva.
Ele que, em seguida, os enviou com a promessa da presença constante do Santo Espírito, a fim de que sua ação no mundo tivesse continuidade. Abrir-se a isso é dar espaço para a presença do Divino Espírito Santo; é deixa-lo entrar intensamente em nossa vida.
É viver segundo a comunidade perfeita de amor: a Trindade Santa, que nos acolhe e anima, fortalece e dá vida! Jesus garante a sua presença permanente na comunidade; ele é o Emanuel, o Deus conosco! Celebrar a Santíssima Trindade envolve o mistério profundo do amor de Deus pela humanidade. Deus é amor solidário e compassivo, Pai, Filho e Espírito Santo, Amém!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG