Neste domingo, dia 8 de março o mundo comemora o Dia Mundial das mulheres. É uma ocasião de reflexão e de presença da Igreja que tem tantas santas mulheres como modelo de vida cristã. As mulheres sempre tiveram um lugar especial na Igreja, são chamadas assim como Maria Santíssima a guardar tudo no coração e viver o silêncio. Elas são chamadas a participarem de muitas atividades e conselhos na igreja, seja na liturgia, na pastoral, catequese e missão. Espelhando-se em Maria que foi com certeza catequista de Jesus lhe ensinando as primeiras orações da religião judaica, assim como muitas mães fazem com seus filhos.
As mulheres têm um papel muito especial na vida da Igreja ao se ingressarem nos Institutos de Vida Religiosa e nas Congregações pela especial consagração como freiras, religiosas e consagradas, orando sempre pelo Papa, pelo Bispo e pela Igreja em geral, sacramento de salvação. Ao serem mães elas também têm um carinho especial da Igreja ao gerarem novas vidas para o mundo e para a Igreja.
A tradição desse espaço da mulher na Igreja vem desde a sagrada Escritura espelhando-se nas santas mulheres descritas na Bíblia e a força que a mulher tem de muitas vezes transformar tudo, num ambiente que parecia triste, sem vida, levar alegria, levar emoção.
A visão feminina da vida da igreja, seja no templo, seja na realidade complexa da missão evangelizadora faz a diferença e é importantíssima para a caminhada eclesial. São a maioria dos participantes de nossas comunidades litúrgicas.
Como podemos observar a Igreja não exclui as mulheres, muito pelo contrário, a mulher está mais do que inserida em todos os serviços da Igreja, é claro que sempre tem aquelas que querem fazer mais e mais e muitas vezes tomar até o lugar do próprio sacerdote, mas devemos ter a prudência de sabermos o nosso lugar e que estamos ali sobretudo para servir a Deus, um serviço voluntário consequência da vida cristã assumida. Cada um entendendo a missão pela qual foi chamada pelo Senhor na Igreja. As mulheres continuam tendo um papel fundamental dentro da Igreja.
As mulheres podem viver o “sacerdócio” comum de todos os fiéis pelo batismo, ao levar a Sagrada Comunhão aos doentes, ao dar uma catequese, um curso de batismo. Ao preparar o altar do sacrifício onde será celebrada a Eucaristia. Todo o trabalho seja ele feito na Igreja ou não, se for feito com amor, carrinho e dedicação é um “sacerdócio”.
Em 1995, o saudoso Papa João Paulo escreveu uma “Carta para as Mulheres” em que dizia: “Gostaria de manifestar particular gratidão às mulheres empenhadas nos mais distintos setores da atividade educativa, para além da família: creches, escolas, universidades, instituições de assistência, paróquias, associações e movimentos. Onde quer que se revele necessário um trabalho de formação, pode-se constatar a imensa disponibilidade das mulheres a dedicarem-se às relações humanas, especialmente em prol dos mais fracos e indefesos. Nesse trabalho, elas realizam uma forma de maternidade afetiva, cultural e espiritual, de valor realmente inestimável, pela incidência que têm no desenvolvimento da pessoa e no futuro da sociedade”.
Aqui podemos observar o próprio Papa falando as mulheres e observando a sua importância na vida em sua sociedade, família e comunidade.
O Papa Francisco, fiel aquela abertura feita por Pio XI e incrementada por seus sucessores, tem priorizado a participação das mulheres na vida da Igreja. São muitas as mulheres hoje que prestam os mais variados e importantes serviços dentro da Cúria Romana e da Santa Sé Apostólica. Elas já são um bom grupo dos colaboradores diretos e indiretos do Papa Francisco. Trinta e cinco foram as mulheres que participaram do Sínodo Extraordinário da Amazônia, com uma presença muito apreciada pelos Padres Sinodais, conforme testemunho de bispos participantres.
A imprensa Vaticana na semana passada ressaltou a alegria que o Papa Francisco manifestou aos Bispos do Regional Sul 2 da CNBB, que congrega os Bispos do Estado do Paraná, quando recebendo a todos os bispos coletivamente, saudou uma mulher. Sim uma mulher acompanhou os Bispos paranaenses em sua Visita Ad Limina Apostolorum. Trata-se da Assessora de Imprensa do Regional: “Ele já me olhou surpreso quando me viu no meio dos bispos e quando eu falei que era jornalista, ele olhou para trás para os bispos e falou: ‘Que bom uma mulher no meio dos bispos! Deviam trazer umas 4 ou 5’. E sorriu, mostrou alegria de ver que tinha uma mulher entre eles, ressaltando que deveriam trazer mais.” Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco insiste na presença de mulheres em vários níveis de decisão na Igreja. Na Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia”, o Pontífice voltou a reafirmar o papel das mulheres, ao recordar que elas têm “uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na guia das comunidades, mas sem deixar de o fazer no estilo próprio do seu perfil feminino”. Sem clericalizá-las, “as mulheres prestam à Igreja a sua contribuição segundo o modo que lhes é próprio e prolongando a força e a ternura de Maria, a Mãe”. Sem as mulheres, escreve o Papa neste documento, a Igreja “desmorona”. (cf. https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-02/entre-bispos-uma-mulher-chama-atencao-papa-francisco.html, último acesso em 28 de fevereiro de 2020)
A Campanha da Fraternidade de 2020 escolheu para o cartaz de divulgação uma mulher, franzina, porém, determinada que acolheu, cuidou e curou as feridas dos pobres da Bahia: Santa Dulce dos Pobres. Dizia a Santa baiana: “O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus”. A mensagem de clamor por ações efetivas de olhar ao próximo é ensinamento que nos deixou Santa Dulce dos Pobres. Com base no testemunho de vida da primeira santa nascida no Brasil, que dedicou sua vida aos pobres e doentes, a Campanha da Fraternidade de 2020 propõe um convite à sociedade para superar a indiferença em busca do bem coletivo. É do clamor de uma mulher, de uma religiosa, que todos nós, em nome de Cristo Ressuscitado, iremos transformar a vida de muitas pessoas que precisam de cuidado, carinho e amor, como fez com a sua vida Santa Dulce dos Pobres, um exemplo maravilhoso de mulher consagrada que viveu a vida consagrada em favor dos mais humildes e pobres, como sublime missão que a santificou e nos santifica.
A Igreja tem um carinho especial pelas mulheres e sabe o seu grau de importância em suas comunidades, nas suas missões e que não é porque não tem ordenação de mulheres que elas não têm seu papel especial na igreja. Que as mulheres possam continuar colaborando muito para o bem da Igreja e para o crescimento de suas comunidades.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ