A discórdia entre as pessoas é uma sombra destruidora da unidade, porque impede o brilho da luz e dificulta a vida da comunidade. Reflete fortemente também na vida e estrutura das famílias, impedindo-as de cumprir a sublime missão de educar bem seus filhos para a prática da fé e da cidadania. Jesus Cristo, com sua mensagem, é a luz capaz de sublimar todo tipo de desunião.
As sombras estão fortemente presentes nas realidades da cultura hodierna. Uma delas é a existência interminável de guerras no mundo, revelando a incapacidade de negociação e diálogo entre as autoridades desses países em conflito. Mas essa realidade atinge também as desavenças internas nas nações e descontroles entre as pessoas. Significa presença de sombras em todos os ambientes.
As trevas e as sombras revelam ausência do sentido da vida e de Deus para as pessoas. É difícil caminhar no escuro, isto é, sem o básico necessário exigido para a harmonia social que, em grande parte, é conseguido no seio familiar. Quando ofuscamos o brilho do Reino de Deus e o seu projeto, as dificuldades na convivência tomam conta e as pessoas perdem a capacidade para o diálogo fraterno.
A palavra “fraternidade” não pode ser colocada na onda do ostracismo, como sombra, no desprezo pelos instrumentos próprios que ajudam a construir o caminho da concórdia e da união. As pessoas não podem confiar apenas em suas forças individuais, descartando o auxílio da Palavra de Deus como fonte de luz. A possibilidade da união encontra refúgio em Jesus Cristo.
O profeta Isaías, com cinco séculos de antecedência, havia anunciado a vinda da luz como projeção da chegada de Jesus Cristo, para construir a unidade do povo de Deus. A unidade é consequência das atitudes de liberdade, mas feitas com muita responsabilidade, com relações de proximidade na justiça, na verdade, no perdão, na solidariedade e no serviço, e superação do individualismo.
Existe dentro da cultura brasileira e no transcurso de sua história a sombra do preconceito nos diversos campos da sociedade, que dificulta a relação fraterna e a vida digna na convivência comunitária. Somente através de um processo coerente e constante de conversão será capaz de mudar o rumo das práticas e dos critérios que perpassam pela vida do povo.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.