Às vezes perdemos a sensibilidade de algum órgão do nosso corpo físico. Mas há uma sensibilidade muito mais evidente do que física: a do coração e passar a não fazer distinção do que é certo ou errado, de perder o calor humano, do afeto das pessoas e de Deus. Não podemos deixar minar a sensibilidade da alma e do coração, causada pelos desequilíbrios, vícios e preocupações.
O coração humano deve se deixar conduzir pelo dom do Espírito de Deus e não simplesmente pelas tendências do corpo, porque elas podem não ser saudáveis. É do coração que saem as coisas boas ou ruins, que dignificam ou deprimem a pessoa em relação à qualidade de sua vida. O coração precisa ser tocado pela Palavra de Deus, porque ela é fonte de equilíbrio emocional.
O anúncio dos profetas, no Antigo Testamento, contemplava sensibilizar o coração do povo para seguir as orientações de Javé. Assim, conseguiam construir o caminho da harmonia e da paz. Era apresentada a figura de um administrador, um rei humilde e pacífico, revelando a chegada daquele que viria tocar os corações: Jesus Cristo. Vem trocar o cavalo militar por um jumentinho (Zc 9,9-10).
Ao falar da sensibilidade do coração e dos órgãos do corpo físico, não significa exaltar um e desprezar o outro. O apóstolo Paulo menciona a realidade de corpo (ou carne) e de espírito, formando uma integridade no cotidiano da vida cristã da pessoa humana. Para ele a carne constitui a limitação do indivíduo e a sua fragilidade. O espírito é a força interior e vivificadora que vem de Deus.
Seguir apenas os desejos da carne é fechar-se em si mesmo, no egoísmo e na autossuficiência, que podem levar o indivíduo à morte e ao afastamento definitivo de Deus. Pelo contrário, os desejos que veem do espírito são vivificadores, porque conduzem a pessoa para o caminho de plena abertura para o seu encontro com Deus, também com o próximo e com toda a comunidade.
A vida tem sempre os seus fardos, os momentos difíceis. Isto mostra como são grandes as limitações humanas. Mas, o fardo deixa de ser pesado, quando o coração tem verdadeira sensibilidade pela presença paterna e materna de Deus. Daí vem uma grande força espiritual e de compromissos éticos com capacidade de amenizar o peso dos problemas e carregar o jugo com mais facilidade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.