Depois de termos feito jejum, penitência e oração no último dia 07 de setembro em favor do nosso Brasil, em que a Igreja que peregrina nas terras de Santa Cruz, iluminadas pela Palavra de Deus e pelo testemunho do Evangelho, queremos vencer a injustiça e a desigualdade, a liturgia do 23º. Domingo Comum é uma chamada da Igreja para que cada um dos batizados reflita sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Nestes tempos difíceis que vivemos a Igreja, Mãe e Mestra, nos admoesta que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.
A primeira leitura(cf. Ez 33,7-9) nos fala do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projetos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam. O profeta Ezequiel aponta para a corresponsabilidade entre as pessoas de uma mesma comunidade, em que cada membro, deve assumir o seu compromisso de ser um sentinela do próximo, e ninguém vai poder fugir desta missão.
O Evangelho(cf. Mt 18,15-20) deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correto para atingir esse objetivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
Temos observado, ultimamente, que algumas pessoas, particularmente dentro da hierarquia eclesiástica, ao invés de corrigir com fraternidade e ternura evangélica, humilham as pessoas que erram e parece que têm uma obsessão em só terminar este intento nefasto e anti-evangélico quando destrói o seu desafeto integralmente. Isso é diabólico e quem assim age, além de não ser cristão, de não viver o Evangelho, não age em nome de Deus. A correção fraterna é missão individual e coletiva, mais não deve ser feita por prazer, mais por misericórdia: “Dize-lhes: Juro por minha vida – oráculo do Senhor Deus – não tenho prazer na morte do ímpio, mas antes que ele mude de conduta e viva! Mudai, mudai de conduta! Por que haverias de morrer, casa de Israel?”(cf. Ez 33,11)
Na segunda leitura(Rm 13,8-10), o Apóstolo Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada. O amor para Paulo fecunda o relacionamento mútuo, que é a plenitude do cumprimento de todas as prescrições legais. De nada adianta cumprir a lei, particularmente a lei eclesiástica, se quem a executa não a executa por amor, mais por vingança ou por capricho pessoal. O amor vivido na desmedida do amor, do amor sem limite, fala daquilo que o Evangelho ressalta no ensinamento de Jesus: o respeito do amor mútuo e da correção fraterna(de fraternidade, de correção, de mudança de vida, de reabilitação do que está em pecado).
No diálogo e na mudança de vida poderemos enfrentar os conflitos naturais que acontecem na vida eclesial. Não impondo o dedo indicador, atitude dos ditadores e marginais, mais acolhendo, acariciando, dando a mão para caminharmos juntos pelo mesmo caminho de Jesus, que não exclui mais acolhe, sempre no clima do amor, jamais na perspectiva da condenação.
A paz no mundo, a paz eclesial, a paz nas comunidades, a paz na família, só será reciproca no respeito, no diálogo, na fraternidade e na busca da reabilitação e não da condenação. Para ter responsabilidade pelo outro eu preciso enxergar o outro com os olhos compassivos de Jesus e de Maria, a Senhora da Consolação e da Piedade. Assim eu procuro fazer, assim eu convido você a vivenciar para a sua santificação.