Neste último domingo de agosto, mês vocacional no Brasil, em que será marcada a 57ª. Assembleia Geral Ordinária da CNBB em Aparecida, celebramos o dia do Catequista e de todos os fiéis leigos. Rezamos por todas as vocações para os ministérios e serviços na comunidade: tantas mulheres e homens que se doam ao serviço do Evangelho e à edificação do Reino de Deus entre nós! Cristo chama a todos, sem distinção, para que, disponíveis ao Reino de Deus, testemunhem seu nome, sua Palavra e sua Pessoa por toda parte e em todas as circunstâncias. A liturgia deste 22º. Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre alguns valores que acompanham o desafio do “Reino”: a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado.
O fio condutor da liturgia deste domingo é a humildade!
O Evangelho(Lc 14,1.7-14) coloca-nos no ambiente de um banquete em casa de um fariseu. O enquadramento é o pretexto para Jesus falar do “banquete do Reino”. A todos os que quiserem participar desse “banquete”, Ele recomenda a humildade; ao mesmo tempo, denuncia a atitude daqueles que conduzem as suas vidas numa lógica de ambição, de luta pelo poder e pelo reconhecimento, de superioridade em relação aos outros… Jesus sugere, também, que para o “banquete do Reino” todos os homens são convidados; e que a gratuidade e o amor desinteressado devem caracterizar as relações estabelecidas entre todos os participantes do “banquete”.
O Evangelho é um doce apelo à simplicidade e à gratuidade. A primeira parábola convida à modéstia, pois no Reino de Deus cabe-nos assumir atitude de receptividade, estar prontos para acolher o dom, “saber receber de graça”. A Assembleia litúrgica não pode ser vista como uma casta de privilegiados. A segunda parábola convida à gratuidade: fazer o bem sem olhar a quem e sem esperar retribuição: “saber dar de graça”. Assim, seremos filhos e filhas do Pai, que nos deu tudo de graça, o que deve servir de inspiração para todos os discípulos de Jesus.
Jesus em um jantar na casa de um fariseu, a partir de uma parábola, ensina sobre a humildade, concluindo: “quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”. A passagem termina com uma admoestação dada não só ao fariseu, mas, também, a todos os que são chamados a seguir Jesus. Sob o símbolo do convite aos pobres para uma festa, manifesta-se um tema caro ao Evangelista Lucas, a pobreza e os pobres: quando deres uma festa convida aqueles que não lhe podem retribuir o convite: os pobres. “Então, tu serás feliz (…) receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
Na primeira leitura(Eclo 3,19-21.30-31), um sábio dos inícios do séc. II a.C. aconselha a humildade como caminho para ser agradável a Deus e aos homens, para ter êxito e ser feliz. É a reiteração da mensagem fundamental que a Palavra de Deus hoje nos apresenta. O autor ressalta duas atitudes ou modos de viver que se opõem: os do humilde e os do orgulhoso. O humilde, orientado por essa atitude de sabedoria, sabe ser agradável a Deus e às pessoas e é amado por ambos; faz-se pequeno e confia no Senhor. Para o orgulhoso, ao contrário, não há remédio, pois o mal está enraizado no seu coração. Ele segue o caminho da autossuficiência, da arrogância e da perversidade radicadas nele. Esta leitura é uma bela exortação a algo que, à primeira vista, parece um contrassenso. A grandeza de alguém está na prática da humildade. Na humildade se encontra a graça de Deus e ao humilde são revelados os mistérios do Altíssimo.
A segunda leitura(Hb 12,18-19.22-24a) convida os batizados instalados numa fé cómoda e sem grandes exigências, a redescobrir a novidade e a exigência do cristianismo; insiste em que o encontro com Deus é uma experiência de comunhão, de proximidade, de amor, de intimidade, que dá sentido à caminhada do cristão. Aparentemente, esta questão não tem muito a ver com o tema principal da liturgia deste domingo; no entanto, podemos ligar a reflexão desta leitura com o tema central da liturgia de hoje – a humildade, a gratuidade, o amor desinteressado – através do tema da exigência: a vida cristã – essa vida que brota do encontro com o amor de Deus – é uma vida que exige de nós determinados valores e atitudes, entre os quais avultam a humildade, a simplicidade, o amor que se faz dom.
Quem se humilha será elevado. O Evangelho nos convida a sermos portadores da humildade e da alegria. Essa riqueza ninguém pode nos tirar. Deus abençoe e ilumine nossos passos na caminhada da construção de um mundo mais humano para todos. Por isso o catequista, põe-se a serviço da Palavra de Deus, que é um primeiro anúncio. O primeiro anúncio refere-se a Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou e que perdoa a todos os que abrem o coração e se convertem. O catequista não é uma lição, mas a expressão de fé em Cristo! Procuremos sempre o último lugar para sermos chamados por Cristo e para a Igreja para a frente, com humildade!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG