Sobrou pra todos

Material para catequese
Material para catequese

Um dos poucos acontecimentos bíblicos narrados em destaque pelo cânon litúrgico de nossas missas, que não se encontra nos Evangelhos, mas nos Atos dos Apóstolos, é o milagre de Pentecostes. Atos, atitudes… Como diria um bom observador: é o que o fato exige; ou melhor: sobrou pra todos os que se envolveram ou foram protagonistas daquele acontecimento. O ruído se fez sentir. Todos viram e ouviram. Ninguém pode fugir. Todos se envolveram naquela torrente de línguas, naquele batismo de fogo…

Os acontecimentos não se restringiram ao quadrilátero limitado daquela pequena sala na periferia da cidade santa. A festa já corria solta pelas ruas de Jerusalém quando o pequeno grupo de privilegiados – o outrora pequenino rebanho assustado e acovardado diante dos últimos acontecimentos, que pensavam ameaçar suas vidas – escancara a porta do refúgio improvisado e, destemidamente, visivelmente transformados por uma luz de coragem e fé, enfrenta a multidão de “judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu” para lhes falar “na própria língua”… Mas falar o quê? Qual tamanha novidade seria capaz de parar aquele povo e fazê-lo entender o milagre que ali presenciavam? O que à primeira vista se via era um bando de bêbados, uma corja de loucos a dizer sandices.

Mas não. Não estavam embriagados, pois a luz que resplandecia de seus semblantes era algo maravilhoso, contagiante, que merecia suas atenções. “Seja vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras”, dizia Pedro, o mais destemido dos doze. E esclarecia: “É Deus quem fala – derramarei do meu Espírito sobre todo o ser vivo” (At 2, 17). Desde então, ninguém estaria livre daquele penhor, se ao menos se dignassem “ouvir e aceitar” um novo estilo de vida, de espiritualidade, de comprometimento com o desafio da Ressurreição em Cristo, a nova esperança do cristianismo ali emergente. Das portas escancaradas daquele segundo andar surgia a novidade maior da fé apostólica: Cristo ressuscitou e cumpriu sua promessa, derramando agora o seu Espírito.

Um novo tipo de colheita ali se realizava. Não somente os frutos do trabalho do homem poderiam ser festejados, contabilizados naquele dia, mas igualmente todo e qualquer esforço que a humanidade fizesse em busca da plenitude da vida, desde então, seria possível alcançar. Para tanto, bastava boa vontade, atenção às palavras, às promessas anunciadas – no passado e no presente – que a fé sempre pura, mas igualmente poderosa, cristalina, audaciosa daqueles que se deixaram “transformar” pelo “fogo abrasador” de um novo batismo, um novo nascimento em Cristo, seriam capazes de alcançar. O Batismo de Fogo se estendia a todos! Era a maior dádiva daquela primeira Festa de Pentecostes genuína, extraordinária!

Somos herdeiros desse dia de luz. Temos, portanto, direitos às mesmas graças, à genética criadora e transformadora que os milagres pentecostais realizaram nas apinhadas ruas de uma Jerusalém ainda terrena, mas prometida desde então como precursora de nova realidade, a Jerusalém Celeste que haverão de habitar os “homens de boa-vontade”, aqueles que se deixarem abrasar pelas promessas transformadoras desse Espírito que nos conduz. Todos somos agraciados pelos dons da fé. Eles aí estão, a disposição de todos, bastando que haja abertura de alma e coração, solicitude, desejo, vontade de se deixar guiar e transformar… Os dons do Espírito nada custam, mas comprometem. Eis a questão, o desafio. “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38).

WAGNER PEDRO MENEZES

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