Você já se imaginou santo? Pois o terceiro capítulo da exortação Gaudete et Exsultate, do Papa Francisco, nos facilita essa possibilidade, aspiração de qualquer bom cristão. Aponta-nos oito condições, seguindo somente as pistas que nos deixou Jesus em seus ensinamentos. “Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo” (63) em seu sermão sobre as bem-aventuranças. “A palavra feliz ou bem-aventurado torna-se sinônimo de santo, porque expressa que a pessoa é fiel a Deus” (64), clareia o santo padre.
“Voltemos a escutar Jesus… Permitamos-Lhe que nos fustigue com as suas palavras” (66). Começa exaltando os pobres em espírito. Não somente os da matéria, do vil dinheiro, mas principalmente e em especial “os de espírito”. Lembra-nos que “as riquezas não dão segurança alguma” (68) e que “esta pobreza está intimamente ligada à santa indiferença proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade interior” (69). Ela que nos liberta de uma vida atrelada apenas à matéria e não às riquezas de uma vida mais afeita aos planos de Deus, nossa maior graça. Temos que configurar nossas vidas à de Jesus “que, sendo rico, Se fez pobre” (70).
Felizes também os mansos. “É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade” (71). A mansidão aqui proposta não é a da subserviência, da humildade oposta à dignidade de nossas vidas, da tolerância com a injustiça, a guerra, os desvios que o mundo nos propõe. Lembra-nos a afirmativa de Cristo: Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde e encontrareis descanso para o vosso espírito (Mt 11,29). E acrescenta: “É melhor sermos sempre mansos, porque assim se realizarão as nossas maiores aspirações: os mansos possuirão a terra, isto é, verão as promessas…” (74).
E os que choram? “O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobrí-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento” (75). Deveras, para muitos é mais discreto chorar às escondidas ou irritar-se com o lamento do outro, do que enxugar suas lágrimas. A indiferença é nosso grande pecado social.
Mas há também os que têm fome e sede de justiça. A estes está reservada a saciedade da Providência, “porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para a tornar possível” (77) Aponta-nos um diferencial que não nos pode fugir: Justiça perfeita só a de Deus. Porque “a justiça que Jesus propõe não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas vezes manchada por interesses, manipulada para um lado ou para o outro” (78).
Felizes ainda os misericordiosos. Antes é preciso mergulhar fundo num modelo perfeito de misericórdia. Não aquela da piedade, do clamor, do apenas “servir os outros, mas também perdoar, compreender” (80). A misericórdia é faculdade divina, que também podemos e devemos praticar. “Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus.” (81).
Porém, felizes também os puros de coração. “Na Bíblia, o coração significa as nossas verdadeiras intenções, o que realmente buscamos e desejamos, para além do que aparentamos” (83). Felizes ainda os pacificadores. Lembra-nos o conflito constante em nossa vida pessoal, social, entre raças e povos, a guerra enfim. “O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz” (87). Felizes, enfim, os que sofrem perseguição por causa da justiça. “O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contracorrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, pessoas que incomodam” (90).
Em sua conclusão a este capítulo, o Papa nos lembra algumas regras de comportamento, tais quais a fidelidade ao Mestre, o cuidado com as ideologias, os cultos individuais, sem prática, o perigo do consumismo. Torna viável a santidade nos tempos atuais. Mas lembra: “A força do testemunho dos santos consiste em viver as bem-aventuranças” (109). Simples assim.
WAGNER PEDRO MENEZES
www. meac.com.br