A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum convida-nos à vigilância. Recorda-nos que a segunda vinda do Senhor Jesus está no horizonte final da história humana; devemos, portanto, caminhar pela vida sempre atentos ao Senhor que vem e com o coração preparado para o acolher. Nossa fé e nossa esperança estão direcionadas a Cristo, o Esposo, que nutre a caridade de sua Esposa, a Igreja. Com as lâmpadas de nossa confiança acessas, vamos ao encontro de Cristo e participemos, em vigilante expectativa da Santa Eucaristia semanal, nossa Páscoa!
Na segunda leitura – 1Ts 4,13-18 –, São Paulo garante aos cristãos de Tessalônica que Cristo virá de novo para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo; todo aquele que tiver aderido a Jesus e se tiver identificado com Ele irá ao encontro do Senhor e permanecerá com Ele para sempre. O que acontecerá com os que já morreram quando o Senhor vier? São Paulo tranquiliza a comunidade com os seguintes argumentos: o cristão é pessoa que carrega dentro de si esperança; se cremos que Cristo ressuscitou, cumpre-nos crer que também nossos mortos ressuscitarão e estarão com o Senhor; na vinda do Senhor, vamos no encontrar todos juntos, tanto os que já morreram como os que vivem.
O Evangelho – Mt 25,1-13 – lembra-nos que “estar preparado” para acolher o Senhor que vem significa viver dia a dia na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com os valores do Reino. Com o exemplo das cinco jovens “insensatas” que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino.
O Reino de Deus é como uma festa de casamento. As dez virgens, caracterizadas como cinco previdentes e cinco imprevidentes, representam a Igreja, as comunidades cristãs, em síntese, todos os que caminham para o encontro com o “esperado” Noivo, Jesus.
O noivo da parábola chegou de repente, assim como inesperadamente Jesus voltará. As mulheres dormiam e, quando acordaram, as previdentes entraram para a festa e as imprevidentes, por estarem despreparadas, correram em busca do óleo, mas era tarde demais, pois a porta da festa se fechou. No momento da chegada do noivo, ninguém estará em condição de ajudar ao outro, pois a questão é entre cada virgem e o noivo, entre cada pessoa e o Senhor. As pessoas devem se ajudar, corrigir umas às outras, alertar quanto à preparação, enquanto estão a caminho: está se preparando para levar óleo suficiente?
O óleo representa as boas obras realizadas durante a vida, a capacidade de perdoar, de acolher o próximo, o espírito e a prática da solidariedade e da misericórdia. São essas atitudes que vão preenchendo a vasilha com óleo suficiente para a espera e para a festa nupcial.
A comunidade cristã deve viver neste mundo esperando vigilante o retorno do Senhor, pois ninguém sabe o momento de seu retorno. É tarefa cristã ajudar uns aos outros enquanto possível, fazendo a vontade do Pai, preparando as lâmpadas e o óleo do amor suficiente para o encontro pessoal com o Senhor.
A primeira leitura – Sb 6,12-16 – apresenta-nos a “sabedoria”, dom gratuito e incondicional de Deus para o homem. É um caso paradigmático da forma como Deus se preocupa com a felicidade do homem e põe à disposição dos seus filhos a fonte de onde jorra a vida definitiva.
Ao homem resta estar atento, vigilante e disponível para acolher, em cada instante, a vida e a salvação que Deus lhe oferece. A sabedoria não é algo reservado somente a alguns iluminados, mas pode ser obtida por quem a ama e a busca com ardor e empenho.
Ela não está apenas na escola, na igreja ou nos livros, mas deixa-se encontrar por aqueles que saem à sua procura. Nas praças e ruas, pessoas cultas e sem instrução se encontram, e é justamente nesses momentos que ela se revela. Na convivência aprendemos a ser sábios. Muitos desses encontros podem tornar-se escolas de sabedoria.
Vigiai e esperai no Senhor! Na travessia, a vida nos pede sensibilidade para o encantamento com as pequenas dádivas do cotidiano. As grandezas nos distraem. No ínfimo, nas filigranas, encontra-se o que realmente toca no nosso coração. Sim, a nossa vida é lamparina.
A luz que não se apaga é a centelha divina em nós. Confiemos em Deus, totalmente em Deus, que nos ama e nos faz participar da festa da vida. Só participará do Reino de Deus quem esteja preparados mediante a prática do amor e da justiça, que são o combustível para as nossas lamparinas.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR