O justo é aquele que deseja fazer o bem e viver o amor. Isto significa “virtude de religião”, de equilíbrio no relacionamento entre divino e humano, de virtude ou força, que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. São duas realidades que caminham juntas e fazem a pessoa ser justa para com o seu próprio ser, e possibilita a realização do bem comum.
Mas a justiça supõe livre arbítrio para seguimento e prática das normativas de Deus, que veem de sua Palavra. Os Mandamentos do Decálogo e as Bem-aventuranças do Evangelho foram dados como auxílio para ajudar as pessoas na vivência da justiça e viverem na plena liberdade. As injustiças são fontes de escravidão, desmoronam a identidade das pessoas e provocam as chagas da desconfiança.
Jesus faz verdadeira reinterpretação do Decálogo, quando Se apresenta como sendo a plenitude da Lei de Deus. É por aí que entendemos o seu dizer: “Não vim abolir a Lei, mas dar-lhe pleno cumprimento” (Mt 5,17). Devemos entender que a justiça tem seu fundamento nos princípios da lei, quando autenticamente promulgada pelas legítimas autoridades e corretamente interpretada.
A justiça está em plena sintonia com a verdade. Ambas não são frutos simplesmente do teor contido na letra da Lei, mas de uma correta e responsável interpretação, feita por quem tem o dever de julgar e emitir uma sentença, que pensa ser mais próxima possível da verdade. Dizemos que Deus é a verdade. Significa que a justiça feita pelos humanos tem que estar bem próxima dessa verdade absoluta.
Então, fazer justiça é ir além da letra da Lei. Creio que Jesus tenha expressado com muita perfeição esta realidade, quando disse: “Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Lc 5,48). Ele não veio abolir a Lei do Antigo Testamento. Suas atitudes foram de dar a ela pleno cumprimento porque, quem assim age, está fazendo em sua vida a vontade do Pai e entrando na alegria de seu Reino.
Podemos concluir que a verdadeira justiça é a fonte daquilo que provoca a boa convivência entre as pessoas. A injustiça rompe o bom relacionamento, causa isolamento e desorganiza a harmonia na comunidade. O outro, num clima de preconceito, passa a ser tratado como estranho, e não mais um irmão, porque esvazia a convivência, vira ambiente de desconfiança e dificulta as relações sociais.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.