A Palavra de Deus do 3º Domingo da Quaresma afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
A primeira leitura – Ex 17,3-7 – mostra como Deus acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação. No caminho pelo deserto, em busca da liberdade e da terra, o povo reclama da falta do essencial para a vida – água e comida. Nem sempre a busca por uma vida melhor é fácil, muitas vezes exige sacrifícios e renúncias. Diante dos problemas e desafios, facilmente pomos o Senhor Deus à prova: ele está no meio de nós ou não?
A segunda leitura – Rm 5,1-2.5-8 – repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação. Deus nos ama gratuitamente, por pura graça. Nessa vida nova de paz e esperança, vendemos as tribulações e as perseguições, a exemplo dos justos de todos os tempos. A fé, que é adesão a Cristo, insere o fiel na justa relação com Deus, marcada pela salvação.
O Evangelho – Jo 4,5-42 – também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva. Jesus, passando pela Samaria, sentou-se sobre o poço e não junto ao poço. Jesus é o próprio poço de onde brota e jorra a água viva do Espírito Santo. Jesus fala com a samaritana que, além de mulher, é de um povo desprezado pelos judeus e descrita como pessoa de “vida não muito correta”. Já tivera cinco maridos e agora estava com o sexto. Seis representa o imperfeito. A conversação entre Jesus e essa mulher não teria um caráter esponsal e simbólico? Como Jacó encontrou-se com Raquel, sua futura e amada esposa, nesse poço – Gn 29,1-12. Jesus encontrou-se com a samaritana, que proclamará nele, o divino esposo, a sua fé. A samaritana encontrou em Jesus, o noivo, a perfeição conjugal: o ser humano em comunhão com Deus! Sentado sobre o poço, que é Ele mesmo, Jesus expressa sua sede, mas não tomou água. A sua sede era de fazer a vontade do Pai(Jo 4,34). Sede que norteou a sua vida terrena até a morte. A samaritana é prelúdio e alusão a todos os que beberam e beberão da água viva do Espírito, fonte de vida eterna. A samaritana não só acolheu e entendeu que Jesus é o “Eu Sou” – Divino – mas, certamente, bebeu da água viva. Ela abandonou o cântaro, deixando de lado as preocupações da sede material e lançou-se no testemunho de Jesus como o Cristo de Deus. Muitos samaritanos abraçaram a fé em Jesus, o Salvador do mundo, primeiro pelas palavras da mulher, depois ouvindo a própria Palavra-Jesus.
Vamos ao encontro de Jesus! No culto cristão, há lugar para todos; exige-se apenas a disposição para a vivência do amor e da fidelidade. “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”(Rm 8,14).
Jesus Cristo continua sendo a nossa Fonte de água vida. Por essa imagem batismal da água, a Igreja nos aponta e nos recorda a graça da vida nova que recebemos no Batismo e que, nesta Quaresma, nos preparamos para renovar na Páscoa.