Um coração que testemunhe a verdade do Evangelho!

A boca fala do que o coração está cheio!
Material para catequese
Material para catequese

É muito mais fácil apontar os defeitos dos outros do que reconhecer e corrigir as próprias fraquezas. A boca fala do que o coração está cheio!

O tema central da liturgia do 8º. Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas? A Liturgia da Palavra deste domingo reúne uma série de sentenças proverbiais carregadas de sabedoria. Aquilo que o ser humano manifesta externamente é o que tem, sente e vive em seu interior.

O Evangelho(Lc 6,39-45) dá-nos os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus. Jesus, no Evangelho, reafirmando essa mesma lógica já anunciada na primeira leitura, diz que “toda árvore é reconhecida pelos seus frutos”. Explicável por si e em si mesmo, o Evangelho se encerra com um ensinamento de Jesus que sintetiza todo o trecho proclamado hoje: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”(Lc 6, 45).

A primeira leitura (Eclo 27,5-8), na mesma linha, dá um conselho muito prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração. Nos mostra esta leitura que o fruto da árvore revela a qualidade do campo onde está plantada, assim como as ações e as palavras dos humanos revelam seus sentimentos.

A segunda leitura (1Cor 15,54-58) não tem, aparentemente, muito a ver com esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que nos espera. Paulo proclama a vitória final da vida, que vence todos os obstáculos, até a própria morte. A fé na ressurreição nos leva a viver, desde agora, a vida nova. A morte foi vencida, porque o pecado, causador da morte, foi destruído por Cristo Ressuscitado. Trata-se do processo que conduz da mortalidade para a imortalidade.

É muito mais fácil apontar os defeitos dos outros do que reconhecer e corrigir as próprias fraquezas. A primeira leitura de hoje afirma que a Palavra de Deus revela o que está guardado em nosso coração; no dizer do Evangelho, a boca fala do que o coração está cheio. Cuidemos, portanto, do nosso falar, sobretudo neste tempo de muitas e falsas conversas pelas redes sociais, com as maldades, truques, armadilhas e insídias verdadeiramente demoníacas.

A gente conhece uma pessoa olhando suas ações. A exemplo de uma árvore que produz frutos bons ou ruins, a pessoa é conhecida, antes de tudo, por sua prática. Quem tem consciência justa e reta realiza atos justos e retos. A pessoa boa tira do seu coração só coisas boas e revela o que ela é.

Uma sociedade violenta e injusta, armamentista, é fruto de corações que alimentam dentro de si contravalores. O coração é o lugar em que se projetam as escolhas fundamentais da vida e do futuro de cada um; no qual nascem alegrias e esperanças, tristezas e desânimos.

 Nestes tempos revoltos e pandêmicos em que vivemos, na correria do dia a dia, tendo de atravessar e espessa nuvem incerta da pandemia da COVID-19, num ambiente de múltiplos confrontos, nem sempre conseguimos escutar a voz do coração e seus desejos. Sem o silêncio interior, tão necessário nestes tempos de Carnaval e de preparação para a Quaresma, dificilmente conseguimos ouvir a voz de Deus que nos ajuda e nos guia para o bem e nos incentiva a cultivá-lo e fazê-lo crescer.

O Evangelho de hoje é uma reflexão sobre o que é ser mestre e ser discípulo na proposta de Jesus e um guia que nos ajuda a remover a hipocrisia que pode haver em cada um de nós. A boca fala do que o coração está cheio!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG