Neste final de semana estamos celebrando a Solenidade dos Apóstolos Pedro que Paulo, que tem o dia 29 de junho como dia da festa litúrgica, mas que a Igreja no Brasil transfere para o domingo seguinte por razões pastorais, favorecendo assim uma maior participação do Povo de Deus no mistério desta celebração.
Neste dia celebramos também o dia do Papa e dia em que fazemos a coleta do Óbolo de São Pedro, que é a contribuição que paróquias e dioceses enviam ao papa e passam a fazer parte dos bens que compõe a Caridade do Papa, auxílio dado pelo Santo Padre a várias instituições do mundo ou a situações de necessidade que aparecem durante o ano. A contribuição nesta data é uma forma concreta de manifestar nossa Comunhão com o Sucessor de Pedro.
Na celebração de S. Pedro e S. Paulo, somos chamados a contemplar as colunas da Igreja, os fundamentos da fé e nosso chamado a ser presença de Deus em meio ao mundo.
A Igreja caminha pelo mundo marcada por suas limitações, enfrentando o mal que a assola por todos os lados, mas com a confiança inabalável na ação do espírito no coração daqueles que creem.
A Liturgia vem mostrando alguns relatos presentes na Sagrada Escritura onde ficam claros os três elementos que marcam a vida da Igreja no mundo: a fragilidade dos seus membros, a perseguição constante e a confiança inabalável, a fé da Igreja, que é seu maior tesouro.
Na 1ª Leitura (At, 12, 1-12) vemos destacado um momento da vida de Pedro. A Leitura nos relata a prisão de Pedro e sua miraculosa libertação. O texto vai nos mostrando detalhes que vão nos fazer compreender a grandeza do final da narração. Herodes prende os cristãos por perceber que isso agradava os judeus.
Toda a revolta acontecida antes do julgamento de Jesus parece ainda continuar a deixar suas marcas. Herodes manda prender Pedro e coloca uma considerável escolta de vigilância ao seu redor: “Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um.”
Ao mesmo tempo que o relato nos mostra as dimensões dos feitos de Herodes para que a segurança do detento permanecesse, a leitura nos conta qual era a resposta da Igreja a este acontecimento de perseguição: “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele.”
A quantidade de soldados colocada para vigiar Pedro é um sinal do poderia humano que estava envolvido na perseguição à Igreja. Mas o poder maior estava no coração dos fiéis, que permaneciam unidos e confiantes na ação de Deus, que é maior do que todo principado, potestade e contra toda grandeza humana.
E é exatamente aí que o relato começa a mostrar o fruto da oração da Igreja, manifesto na ação de Deus em libertar Pedro. Pedro estava acorrentado, vigiado e o acesso à sua prisão se dava por meio de vários postos de sentinela: grandeza da ação humana, mas nada comparado à grandeza da Ação de Deus: Caem as correntes, passam pelas guaras, passam pelo portão e em nenhum momento é apresentada alguma resistência ao ocorrido.
Tudo isso porque Deus ia adiante. O relato milagroso da libertação de Pedro da Prisão mostra que nada pode abalar ou impedir a obra e a ação de Deus em meio aos homens. Mesmo com suas fragilidades, erros, pecados e fraquezas, a Ação de Deus é sempre maior do que a fragilidade e do que a grandeza da ação humana.
É nesta linha que o Salmo responsorial, Salmo 33, apresenta uma intensa oração de Ação de Graças ao Senhor que livra o ser humano de todos os seus medos: De todos os temores/ me livrou o Senhor Deus, é o refrão da oração de resposta.
Através de várias expressões o salmo manifesta a Ação de Graças ao Senhor que livra o homem que crê e que clama por auxílio de todos os temores e de todas as ciladas.
Vimos anteriormente que o milagre da libertação de Pedro aconteceu porque a Igreja orava continuamente a Deus por ele. É preciso orar sempre e não desfalecer para que possamos assim experimentar a ação e Deus em meio ao mundo e em meio às batalhas.
Na segunda leitura (2Tm 4, 6-8.17-18) vemos Paulo que descreve aquela que ele chama de o final da sua corrida e o final do seu combate. Ele o faz mostrando como o Senhor esteve constantemente ao seu lado, sendo consolo e amparo em todas as circunstâncias: Caríssimo: Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.
Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.
Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.
Pedro e Paulo: cada um com sua cultura, com seus costumes, com suas origens, mas servos de Cristo e irmãos na fé. Assim a Igreja: marcada pela diversidade mas unida pela fé dos apóstolos Pedro e Paulo que hoje celebramos.
O Evangelho (Mt 16, 13-19) centro da proclamação litúrgica desta solenidade, vai apresentar o relato da profissão de fé de Pedro que proclama Jesus como Filho de Deus.
O relato começa coma indagação de Jesus dirigida aos seus sobre quem ele é: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? / “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Ante a resposta variada dos discípulos, Jesus faz uma indagação pessoal e direta àqueles que estão ali perto. A pergunta dirigida por Jesus aos discípulos é uma pergunta inevitável ainda nos dias de hoje.
Não há como fugir dela pois a pergunta sobre Jesus permanece cada vez mais frequente em nossos meios de comunicação e em nossa cultura. É curioso notar que Jesus nunca saiu de moda ao longo dos tempos.
Muito mais hoje, em que temos esta grande possibilidade de meios de comunicação. Como você responderia a este questionamento de Jesus?
Ante a indagação é Pedro quem toma a palavra e responde em nome dos 12. Não somente dá uma resposta assertiva, mas dá também uma resposta de fé: Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Pedro dá uma resposta de esperança aos homens de seu tempo e que permanece como sinal de esperança ainda os dias de hoje. Pedro responde em nome de todos os discípulos, mostrando sua liderança em relação a estes.
A afirmação de Jesus ante a resposta de Pedro mostra a grandeza do que foi confiado a este, não por conta da capacidade humana, mas pelo que Deus podia fazer através dele: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.
A edificação da Igreja se dá na fragilidade de Pedro e ao mesmo tempo na confiança que este tem na ação de Deus em meio a esta fragilidade, pois Deus encontrou em Pedro acima de tudo, um coração confiante na ação de Deus.
Assim caminha a Igreja na história: experimentando suas limitações, mas disponível às maravilhas que Deus pode fazer por meio de instrumentos insuficientes. A profissão de fé de Pedro nos faz reconhecer que a Igreja é feita disso: dos que, com suas limitações, professam a sua fé em Cristo.
Neste final de semana, na Solenidade de Pedro e Paulo é para rezar pela Igreja, professarmos nossa fé em comunhão com toda a Igreja e renovar a nossa fé. Só a verdadeira fé se torna sustento na esperança. Rezemos pela Igreja em sua peregrinação nesta terra. Rezemos pelo papa e suas necessidades. Rezemos pelos que sofrem e pelos que padecem necessidades. Que sustentados pela fé de Pedro e pela pregação de Paulo, que nós, Igreja viva do Senhor possamos professar vivamente a nossa fé.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ