Testemunhas do Senhor Ressuscitado!

Parábola dos talentos
Material para catequese
Material para catequese

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, ativa e comprometida desse projeto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.

Todo o capítulo 25 de São Mateus coloca em relevo a exigência do serviço fiel e do amor operoso. O Evangelho – Mt 25,14-20 – apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os “bens” que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não põe a render os “bens” que Deus lhe entrega (dessa forma, ele está a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito).

Três são as circunstâncias do Evangelho de hoje: 1 – sem nenhum comentário, antes de sua viagem, o homem confia seus bens aos empregados, segundo a capacidade de cada um (Mt 25, 14-15); 2 – duas situações: a longa ausência do patrão e as atitudes dos que receberam bens, para administrarem (Mt 25, 16-18); 3 – o retorno do patrão e a prestação de contas, acompanhada do diálogo entre patrão e empregado (Mt 25,19-30).

O diálogo com os dois primeiros foi semelhante e edificante (Mt 25, 20-23). Ao terceiro não coube a mesma sorte, porque não soube cumprir com sua missão (Mt 25, 24-27).

 De um lado, a alegria daqueles que cumpriram a sua missão e do outro lado a inação, fruto da negligência e da insensatez de quem não sabe confiar no Senhor. Por isso somos chamados neste domingo a envolver e a empreender, conforme nossas capacidades, com criatividade e Ânimo fervoroso a favor do crescimento do Reino de Deus e da promoção do conhecimento da Boa-Nova de Jesus.

O objetivo da parábola não é incentivar o enriquecimento de quem já é rico, mas mostrar que todos recebemos de Deus dons, talentos e qualidades que, em vez de ficarem improdutivos, devem ser postos a serviço do Reino de Deus.

Na segunda leitura – 1Ts 5,1-6 –, São Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projetos, empenhando-se ativamente na construção do Reino. Somos filhos e filhas da luz e não vivemos nas trevas, uma vez que pertencemos a uma comunidade que vive uma fé operosa, à luz do Evangelho, e nada tem a esconder. O apelo de São Paulo é para que a comunidade viva em ativa e constante vigilância, pois a vinda do Senhor é imprevista!

A primeira leitura – Pr 31,10-13.19-20.30-31 – apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O “sábio” autor do texto propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do “temor de Deus”. Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projetos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou.

O livro dos Provérbios termina com um poema que elogia a mulher ideal, virtuosa e temente a Deus. Ela é empreendedora e dedicada aos negócios e interesses da família. Realizando tarefas que, numa sociedade patriarcal, eram próprias dos homens, rompe preconceitos e traz felicidade à família e à comunidade. As mulheres, porém, não podem ser elogiadas apenas por suas habilidades no trabalho.

Um alerta contra a teologia da prosperidade: os talentos não são bens materiais e dinheiro. Esta leitura trai o Evangelho, pois considera que Deus premia os que buscam multiplicar sempre mais as próprias riquezas, tirando dos que têm pouco até o pouco que têm. Vale lembrar que, nos Evangelhos, o único a oferecer riqueza como horizonte de vida foi o diabo a Jesus, no episódio das tentações.

Jesus voltou para a casa do Pai, mas nos deixou seu Reino, para que não fique infrutífero, e nos deu os talentos, para que os façamos frutificar. Deus nos ajude, hoje e sempre, a administrar com fidelidade os bens, os dons e os talentos que Deus nos confia para podermos ouvirmos de Jesus: “Servo bom e fiel, eu lhe confiarei muito mais!”.

+ Anuar Battisti

Arcebispo Emérito de Maringá, PR