A Festa do Batismo do Senhor marca o início do ministério público de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus, o enviado do Pai ao mundo, é agora manifestado como seu Filho amado; e, com a unção do Divino Espírito Santo, é investido da missão de Profeta, Sacerdote e Rei. Tal investidura será manifestada a partir de agora em sua vida pública pelas curas por Ele realizadas; pelos exorcismos, nos ensinamentos e pregações, nas acolhidas dos pobres, excluídos e pecadores e, sobretudo, no mistério pascal, em sua paixão, morte e Ressurreição, para onde toda a sua atividade pública aponta e onde essa atividade encontra seu significado.
A liturgia da Epifania tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.
A primeira leitura(cf. Is 42,1-4.6-7) anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim. Investido do Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
No Evangelho(cf Mt 3,13-17), aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
A segunda leitura(cf. At 10,34-38) reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
O Batismo foi realmente um marco divisório em sua vida. Jesus já não volta mais para o seu trabalho de carpinteiro, nem continua morando com Maria Santíssima, sua Mãe; deixa a sua vida escondida e inicia sua missão profética de proclamar a todos os homens e mulheres de boa vontade a Boa Notícia de um Deus que é amoroso e misericordioso, Pai, que quer salvar a todos sem distinção. Se o Batismo de Jesus foi sua unção para iniciar a sua nova missão e se o nosso Batismo significa adesão ao Evangelho, abertura ao Divino Espírito Santo e entrada na comunidade cristã, a culminação de um processo de conversão e a aceitação consciente e responsável da fé cristã.
A Igreja batiza as crianças quando elas são pequenas, porque oferece a elas o que há de melhor na vida, a adoção divina, a libertação do jugo do pecado original desde cedo e a integração das crianças na comunidade cristã e, adentrando os umbrais da Santa Mãe Igreja, iniciam o seu processo de conversão, que deverá ser ratificado mais tarde pelo Sacramento da Crisma, quando deverão percorrer o seu itinerário pessoal de fé.
Vamos tomar consciência da importância de nosso Batismo e dos nossos compromissos batismais que são: morrer com Cristo para nossa condição de pecadores, assumir com Cristo a nova vida de filhas e filhos amados, escolhidos, preferidos e chamados nominalmente por Deus Trino para assumir com Cristo a sua missão de irradiar e contagiar a todos com o amor insondável de Deus que é Papai – Abba, amando a todos como Jesus amou. O Verbo habita entre os seres humanos! Vamos dar testemunho de nosso batismo!
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG