Celebramos neste Domingo a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, com essa Solenidade encerramos o tempo comum e o ano litúrgico, a partir da próxima semana inicia-se o tempo do Advento em preparação ao Natal do Senhor e um novo ano litúrgico.
Inicia também a obrigatoriedade da utilização da tradução da IIIª edição típica do Missal Romano. Junto com o fim do ano litúrgico encerramos tudo aquilo que foi celebrado ao longo do ano, para que venham novas celebrações no ano seguinte. Nesse Domingo por exemplo, a Igreja encerra as comemorações do terceiro Ano Vocacional no Brasil, e espera colher os frutos daquilo que foi celebrado ao longo desse ano: “corações ardentes, pés a caminho”!
Nesse dia da Solenidade de Cristo Rei do Universo comemoramos o Dia Nacional do Cristão Leigo, ou seja, de todos aqueles batizados que são chamados a serem sal na terra e luz no mundo e testemunhas de Jesus Cristo para os outros. Os leigos têm um papel fundamental na Igreja, pois muitas vezes exercem vários serviços na paróquia. Os leigos ajudam na liturgia, como ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, leitores, catequistas, músicos e outros serviços dentro da Igreja.
O serviço prestado pelo leigo dentro da Igreja deve ser de forma voluntária como consequência de uma vida dedicada à missão. É um serviço prestado à Deus e não as pessoas, tudo aquilo que fazemos na Igreja não deve ser em função de querer ser melhor do que os outros ou para aparecer, mas tudo aquilo que assumirmos na Igreja deve ser para nos aproximar mais de Deus.
Todo batizado é chamado a assumir algum trabalho dentro da Igreja e a partir desse trabalho ser testemunha de Jesus Cristo para os outros. Sejamos missionários e missionárias e anunciemos a Palavra de Deus para aqueles que ficaram em casa. Mesmo com os trabalhos internos da paróquia, a grande missão do cristão leigo é a sua presença no mundo, nas realidades temporais.
Na celebração desse domingo inclusive acontece a abertura da Campanha da Evangelização 2023, que arrecada fundos para a missão evangelizadora da Igreja em nosso país. Essa Campanha terá a sua concretização no terceiro Domingo do Advento com uma coleta nacional (para as Dioceses, Regionais e a CNBB Nacional). Com o lema “em Belém, casa do Pão, Deus nos faz irmãos” a Campanha para a Evangelização abarca os temas da CF de 2023 e 2024. Neste ano se comemora 800 anos do presépio que São Francisco de Assis fez em Greccio.
Acontece também nesse dia a 38ª edição da JMJ, versão diocesana da Jornada Mundial da Juventude, neste ano com a preparação para o ano do jubileu de 2025 cheios de alegria na esperança. No passado essa festa era celebrada no Domingo de Ramos.
Enfim, com essas diversas motivações, celebremos com alegria a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Ele, de fato é Rei, mas não um rei comum, mas, um rei humilde que veio nos ensinar o caminho do amor e da fraternidade. Aclamemos o Senhor como o Rei de nossas vidas e o adoremos em verdade. O Diretório Litúrgico recomenda renovar diante do Santíssimo Sacramento o “Ato de Consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei” previsto para este dia.
A primeira leitura da missa desse Domingo é da Profecia de Ezequiel (Ez 34,11-12.15-17), nessa leitura o profeta narra tudo aquilo que um verdadeiro pastor deve fazer e mesmo cerca de quatrocentos anos antes de Cristo, o profeta narra tudo aquilo que posteriormente Jesus fez enquanto esteve entre nós.
O contexto dessa leitura é quando o povo estava voltando do exílio da Babilônia, estavam sem ânimo, cabisbaixos, e a função do profeta é reanimar aquele povo, e fazer com que eles andem no caminho da justiça e não pequem mais contra Deus.
A função do pastor é ir ao encontro das ovelhas perdidas e curar as que estiverem feridas, é o que o Senhor irá fazer com esse povo e depois concretizará em Jesus. Ele é Rei conforme celebramos hoje e pastor que apascenta o rebanho, um bom pastor que nos toma pela mão.
O salmo responsorial é o 22 (23), que diz em seu refrão: “O Senhor é o Pastor que me conduz; não me falta coisa alguma”. A liturgia de hoje ressalta a figura do Pastor, e o Senhor é o pastor que nos conduz para o caminho do bem e nos toma pela mão, mesmo que por vezes nos desviemos D’Ele. Novamente dizemos, Jesus é Rei, e ao mesmo tempo é Pastor, e nos conduz por caminhos seguros. Deixemo-nos guiar pelas mãos do Senhor e entremos na Jerusalém celeste.
A segunda leitura dessa missa é da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,20-26.28), Paulo diz nessa leitura a comunidade dos Coríntios que Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram, ou seja, Ele morreu e ressuscitou primeiro e do mesmo modo que Ele morreu e ressuscitou nós também ressuscitaremos.
A vida não termina aqui, é uma passagem, mas continua na vida eterna. Por um homem entrou a morte no mundo, no caso Adão, e por outro vem a ressurreição, que é Jesus. Paulo diz que o último inimigo a ser destruído é a morte, e que um dia Cristo voltará glorioso e lavará todos com Ele, e os que já estiverem mortos ressuscitarão e viverão para sempre ao lado de Deus.
O Evangelho da solenidade é de Mateus (Mt 25,31-46): conforme já dissemos, nos últimos Domingos do tempo comum os Evangelhos têm um caráter apocalíptico ou escatológico, ou seja, relata aquilo que acontecerá no fim dos tempos. Jesus diz o que irá acontecer no fim dos tempos quando o filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante D’Ele e Ele julgará a cada um de acordo com a sua conduta.
Esse dia não sabemos quando será, nem o Filho e nem os anjos do céu sabem, somente o Pai. Alguns judeus e os discípulos acreditavam que a segunda vinda de Cristo seria eminente, ou seja, rápido, logo após a ressurreição. Esse evangelho também quer retratar a figura de Jesus como rei, mas um rei diferente daqueles de seu tempo, um rei preocupado com a pessoa humana e com a salvação do próximo. Um rei que virá para julgar a cada um de acordo com a sua conduta, mas julgará com misericórdia.
Na verdade, o povo judeu esperava que o Messias fosse o Rei de Israel e do povo de judeu, tanto que quando crucificaram Jesus, escreveram no alto da cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”, é claro que de forma irônica, pois não acreditavam que Jesus era o Messias. Para aqueles que acreditavam e para nós Ele é rei, quanto ao povo judeu ainda aguardam a chegada do Messias e o início de sua realeza.
Nós aguardamos a “segunda vinda” de Cristo e a consolidação de seu reinado, quando acontecer o julgamento final, e Ele entregar toda a realeza a Deus Pai.
Celebremos com alegria essa Solenidade de Cristo Rei do Universo e peçamos que Ele reine em nossas vidas e nos salve, garantindo a todos nós a vida eterna. No último sábado desta última semana do ano litúrgico (este ano dia 2 de dezembro) viveremos aqui na parte da manhã em nossa Catedral a 11ª Festa da Unidade como tema “Senhor ensina-nos a orar” em preparação do jubileu de 2025 com o Ano da Oração. Construamos o Reino de Deus aqui na terra, para contemplá-lo de maneira definitiva no céu. Deixemos que Ele entre em nossa casa e em nossa vida e mude a nossa história. Que possamos compreender que o reinado de Jesus é um reinado diferente dos outros reis.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ