Estamos no tempo do Natal. No dia 06 de janeiro, celebramos a solenidade da Epifania do Senhor, a manifestação de Jesus ao mundo inteiro ou a chamada festa dos reis magos, que por razões pastorais aqui no Brasil é uma festa transferida e sendo celebrada no domingo entre os dias 2 a 8 de janeiro para que esta grande festa da manifestação de Jesus seja celebrada por uma maior quantidade de fiéis. No caso deste ano essa solenidade será celebrada no dia 02 de janeiro.
Em alguns lugares do mundo, esta festa da epifania é celebrada com mais intensidade até do que o Natal do Senhor, já que nela se celebra a grande manifestação de Deus a todos os povos. A festa da Epifania convoca a todos para partilharem dos anseios e fadigas da Igreja que “ora e trabalha ao mesmo tempo, para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e Templo do Espírito Santo” (LG. 17).
A festa nos recorda que Ele veio para todos, nos recorda a universalidade da salvação; vem também nos recordar a responsabilidade, enquanto cristãos, de sermos anunciadores dessa boa notícia a todos. O Senhor que veio para todos nos convida também a anunciarmos a todos esta boa notícia que dá novo sentido à nossa vida, mostrando a toda a humanidade o Amor de Deus. Aqui temos o plano de Deus de fazer toda a humanidade participante da salvação em Cristo! Esta é a boa-nova, o Evangelho. Para que isso aconteça é preciso que trilhemos o caminho dos Magos. É importante estar atentos aos sinais de Deus e termos o desejo de encontrá-Lo.
A Palavra de Deus vai nos recordar de várias formas essa universalidade da Salvação, que já estava implícita no Antigo Testamento e manifesta de maneira clara em Jesus Cristo. Jesus nasce em um tempo e em um espaço determinado, mas sua presença é dirigida a todos os homens de todos os tempos e lugares, a todas as nacionalidades.
Na primeira leitura, o Profeta Isaías (Is 60, 1-6) descreve a glória de Jerusalém para quem se levanta uma grande luz. Esta luz é Cristo, o Messias Salvador. Ele será luz para Jerusalém e para a nova Jerusalém, a Igreja e toda a humanidade. Cumpre-se em Cristo o que o profeta Isaías anuncia nesta primeira leitura: “Levanta-te, Jerusalém, acende as luzes, porque chegou tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti! Levanta os olhos ao redor e vê: será uma inundação de camelos de Madiã e Efa; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor! Mas, estejamos atentos, porque a festa de hoje esconde um drama: a Jerusalém segundo a carne não reconheceu o Salvador: “O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém” (cf. Mt 2,3). Ela conhecia a profecia, mas de nada lhe adiantou, pela dureza de coração. É na nova Jerusalém, na Igreja, que somos nós, que esta profecia de Isaías se cumpre. É a Igreja que acolherá todos os povos, unidos não pelos laços da carne, mas pela mesma fé em Cristo e o mesmo batismo no seu Espírito.
Na segunda leitura desta solenidade (Ef 3,2-3a.5-6), São Paulo nos fala de um Mistério escondido e que agora foi revelado: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”. Eis: com a visita dos magos, pagãos vindos de longe, é prefigurado o anúncio do Evangelho aos não-judeus, aos pagãos, aos que desconheciam o Deus de Israel. Santo Agostinho, explicando o mistério da festa de hoje, comentava que Ele é a nossa paz, ele, que de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14). Já se revela qual pedra angular, este recém-nascido que é anunciado e como tal aparece nos primórdios do nascimento. Começa a unir em si dois muros de pontos diversos, ao conduzir os pastores da Judéia e os Magos do Oriente, a fim de formar em si mesmo, dos dois, um só homem novo, estabelecendo a paz. Paz para os que estão longe e paz para os que estão perto. É este o sentido da solenidade da Epifania do Senhor!
No Evangelho deste Domingo da Epifania (Mt 2,1-12) Jerusalém, que conhecia a Palavra, não crê e, descrendo, não vê a Estrela, não vê a luz do Menino. Os magos, pagãos, porque têm boa vontade e são humildes, veem a Estrela do Rei, deixam tudo, partem sem saber para onde iam, deixando-se guiar pela luz do Menino e, assim, atingem o Inatingível e, vendo o Menino, reconhecem nele o Deus perfeito: “ajoelharam-se diante dele e o adoraram” (Mt 2,11). Com humildade, oferecem-lhe o que têm: “Abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11): ouro para o Rei, incenso para Deus, mirra para quem, feito homem, morrerá e será sepultado! Os magos creem e encontram o Menino e “sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,10).
Deixemo-nos guiar pela Estrela do Menino, deixemo-nos iluminar pela sua luz! Haverá sempre uma luz em nosso caminho que nos conduz a Cristo. Basta estar atento aos sinais dos tempos. Com os magos, ajoelhemo-nos diante daquele que nasceu para nós e está nos braços da sempre Virgem Maria Mãe de Deus: ofereçamos-lhe nossos dons: não mais mirra, incenso e ouro, mas a nossa vida, a nossa consciência e a nossa decisão de segui-lo até o fim. Assim, com grande alegria voltaremos ao mundo por outro caminho, um caminho de vida nova, um caminho de conversão!
Peçamos ao Senhor que ele nos faça seguir o mesmo itinerário percorrido pelos magos e nos coloquemos a caminho. Que a luz da estrela de Belém nos conduza ao Encontro do Menino Deus e após este encontro, possamos também nós seguir por um outro caminho: o caminho da conversão, o caminho da santidade, o caminho de uma vida nova.
Dentro de poucos dias estaremos iniciando um grande momento de fé na vida de nossa cidade e de nossa arquidiocese, que é a Trezena de São Sebastião (7 a 19 de janeiro), quando a imagem peregrina de nosso padroeiro visita os mais variados ambientes de nossa cidade numa grande missão popular. Rezemos para que este momento seja uma grande oportunidade para que a luz de Cristo possa chegar ao coração de tantos homens e mulheres que poderão ter essa experiência de fé e devoção.
Que possamos buscar intensamente aquele que é o Deus Conosco, o Senhor dos senhores. Deus abençoe e guarde a todos.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ