A liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, acerca da Assunção de Nossa Senhora resumiu o essencial desta solenidade santíssima. Com efeito, Deus elevou à glória do céu em corpo e alma a Imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, Ela, tão pequena, tão humilde, foi eleva a Deus, ao céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma!
Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isso dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, que se conformam com a morte…
Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a vida, nosso ponto final é a glória no coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou – bendito seja ele para sempre!
A presente solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: N’Ele está a vida e a ressurreição; N’Ele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus e é batizado no seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor.
Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós. Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte!
Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi glorificada em corpo e alma, foi elevada ao céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!”.
Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou!
Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja!
A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do seu Cristo!” Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela.
A devoção à Virgem Maria, Mãe de Deus, é sem dúvida uma grande força da nossa vivência cristã, porque, longe de desviar nossa atenção do Cristo, ela nos integra no plano de salvação proposto por Deus e realizado por seu Filho único, Jesus Cristo, que se encarnou e veio ao mundo por meio dela. Nós celebramos Maria porque é Mãe de Deus, porque nos deu o Salvador.
E foi Deus que assim o quis. Foi Deus que, em sua infinita sabedoria e bondade, estabeleceu que a redenção da humanidade acontecesse através de seu Filho único nascido de uma virgem; e a virgem escolhida foi Maria.
Ora, se Deus, o Senhor de todas as coisas, o Infinito e o Absoluto, não se envergonhou de escolher Maria, e a fez Cheia de Graça, para ser a Mãe de seu Filho, por que haveríamos nós, simples mortais, de recusar-nos a ter para com ela uma devoção toda especial?
A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se na Ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Por isso São Paulo recorda-nos (1Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição.
Por Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois, os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai o seu reino…Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse São João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena?
Esse final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade “dormição”. Para nós, a Solenidade de hoje é como uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor. E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da esperança da vida eterna e da futura ressurreição”.
Maria é causa de nossa alegria! Pois foi através dela que nos veio a alegria, Jesus Cristo, e é nela que nós vemos o que seremos: gloriosos com aquela glória que tomará conta do nosso corpo e da nossa alma no dia eterno… no céu, no qual ela, gloriosamente, em corpo e alma, já nos precedeu.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ